O empresário brasileiro arca hoje com um dos maiores custos do mundo para realizar novos investimentos. Numa lista de 47 países elaborada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o Brasil aparece em terceiro lugar, em situação melhor apenas que Tailândia e Irlanda. Os custos no País são 30% maiores que os da China e até 118% superiores aos da Coréia do Sul, dois países que são concorrentes diretos das empresas brasileiras no mercado mundial.
Embora o preço de máquinas, equipamentos, instalações e construções venha crescendo a taxas declinantes no País, o Iedi cita que a inflação sobre os bens finais de consumo das famílias e do governo tem sido bem mais suave. “Assim, em um contexto de elevadas taxas de juros, desestimula-se o investimento produtivo”, diz Edgard Pereira, economista-chefe da entidade.
Para calcular o custo relativo do investimento fixo nas diferentes partes do mundo, o Iedi criou um índice com base em dados do Projeto Link, que é financiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e recebe informações de todos os países.
Entre 1970 e 2005, o custo do investimento fixo no Brasil cresceu 31%, enquanto no Chile houve recuo de 7% e na Argentina, de 5%. O Brasil perde feio para os chamados tigres asiáticos. Em Cingapura, esse custo caiu 15% e na Malásia, 20%. Na Coréia do Sul, a redução chegou a 40%. Já na Hungria, que apresenta o custo de investimento mais baixo entre os países analisados, a queda foi de 47%.
RISCO
Não é por obra do acaso que o Brasil não tem conseguido atingir taxas de investimento compatíveis com um crescimento sustentado de 5% ao ano, como pretende o governo. Mesmo tendo crescido por três anos seguidos, a formação bruta de capital fixo atingiu 15,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, mas ainda assim continua entre as mais baixas desde 1947. Essa taxa sóé superior à do biênio 1992-1993, além do intervalo mais recente de 2002-2005.
“A taxa de investimento é muito baixa porque o custo é muito alto”, diz Pereira. “Por que correr o risco de imobilizar sua riqueza em máquinas e equipamentos se existe a opção de aplicar recursos em títulos do governo com taxas de juros que rendem lucro certo?”, indaga o economista do Iedi.
“Se eu ganhasse sozinho na Mega Sena pensaria dez vezes antes de investir na produção, a menos que fosse num setor de commodities”, ironiza o empresário Mário Bernardini, dono da MGM Mecânica e Máquinas.
De acordo com Bernardini, para investir, “preciso pensar que vou pagar 15% ao ano para bancos e 40% para o governo e, depois, brigar com as importações, que são subsidiadas pelo câmbio, por meio da depreciação no país de origem e da sobrevalorização aqui”. A MGM, que atua no segmento de máquinas para mármores e granitos, deixou de exportar e de investir há alguns anos. “Nas condições macroeconômicas atuais, não há como competir lá fora”, diz Bernardini. “Já o mercado interno, que depende da construção civil e esteve muito ruim, agora dá sinais de retomada.”
A pesquisa do Iedi mostra, no entanto, que o custo do investimento fixo apresentou queda de 1,5% em 2006, refletindo a desoneração tributária de bens de capital ocorrida em 2005, além da redução da taxa de juros e da desvalorização do real frente ao dólar, o que barateia a importação de máquinas e equipamentos. “Se o custo do investimento não cair de forma mais significativa, o empresário vai optar por investir num país onde o custo seja menor”, adverte o economista do Iedi.
Não é de hoje que o empresário Fuad Mattar, presidente da Paramount Lansul, uma das principais indústrias do setor têxtil brasileiro, planeja investir na China. Responsável no País pela grife francesa Lacoste, a Paramount Lansul tem uma tradição de 120 anos no mercado. “Ainda não me convenci de que devo desistir de lutar para convencer nossos governantes da necessidade de termos uma política industrial eficiente”, conta o empresário.
Não fosse isso, Mattar teria motivos de sobra para jogar a toalha e tentar um negócio fora do País. “Temos um câmbio de R$ 1,87, que éótimo para investir, mas na hora de pôr as máquinas para funcionar, esse valor sobe para R$ 2,50, por conta da carga tributária.” Além de caro, o crédito para investimento no País tem prazo muito curto, de no máximo dez anos, para empresas de primeira linha. Já nos países asiáticos, esse prazo chega a 25 anos. “Eles (os asiáticos) também não tributam investimentos e têm um câmbio muito favorável para exportação”, observa o empresário.”Enquanto estivermos com um canivete e eles com uma metralhadora, não dá para competir.”
Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), observa que “aquilo que chamamos de ambiente hostil à produção é o mesmo que está no cenário de quem deseja fazer investimento no País”. Para ele, entre as poucas vantagens comparativas do País nessa área estão a terra e o clima, que favorecem investimentos em cana-de-açúcar, papel e agronegócio.”Nenhuma indústria de transformação escolheria investir no Brasil só por causa da nossa ginga e jogo de corpo no carnaval e no futebol”, diz, bem-humorado. “Ninguém, está interessado nisso, e sim em ganhar dinheiro.”
OE