Recente pesquisa divulgada pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado no departamento de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comprovou que a água de 19 capitais brasileiras está contaminada por cafeína e produtos de limpeza.
Os estudos foram feitos com amostras de água recolhidas diretamente da rede de distribuição, a mesma que sai de nossas torneiras, considerada potável pela legislação atual. As capitais com os maiores índices dessas substâncias são Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Belo Horizonte e Vitória.
Segundo a doutora em Química da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da área de contaminantes, Eliana Freire Gaspar, a quantidade de substâncias encontradas nos mananciais e que acabam indo parar no abastecimento vem do próprio consumo humano. “Os produtos de limpeza vão parar nos esgotos que por falta de tratamento adequado, acabam sendo despejados diretamente nos mananciais e alteram a tensão superficial da água”, explica.
Eliana Gaspar diz ainda que apesar da população receber água tratada nas torneiras, o processo de tratamento não teve grandes avanços. Para , a falta de saneamento adequado aumenta a concentração dessas substâncias, pois os produtos estão sendo jogados nos esgotos ‘in natura’ e a quantidade de produtos de limpeza usado nos lares da cidade é muito grande. “Usamos tanto para lavar roupa, tomar banho, limpar a casa. A quantidade dos produtos de limpeza usados pelos munícipes é elevado e a concentração é alta. Temos uma coleta mínima e o tratamento menor ainda”, observa a pesquisadora.
Poluentes emergentes
No levantamento do INCTAA foram coletadas amostras de água de mananciais e da água já tratada que chega à população das 19 capitais do Brasil e no Distrito Federal (DF). O nível de cafeína na água é usado como indicador da presença de contaminantes que tem ação estrógena, isto é, um efeito semelhante ao do hormônio feminino.
De acordo com os pesquisadores, existe uma dificuldade química em achar, medir os compostos que têm atividade estrogênica, porque são vários hormônios, vários detergentes, pesticidas que têm essa atividade de confundir o sistema hormonal humano.
A educadora da UFMT esclarece que a cafeína não faz mal à saúde, mas por semelhanças químicas sua presença
na água sinaliza a existência dos poluentes emergentes, resíduos cada vez mais comuns nas águas.
Entre as substâncias está a fenolftaleína, que tem seu uso como laxante proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), e o triclosan, um antisséptico usado em medicamentos, cremes dentais e desodorantes. Sua proliferação em rios e reservatórios é resultado do crescimento das cidades e de novos processos industriais.
A pesquisa revelou que algumas estações de tratamento são capazes de remover até 99% da cafeína da água, por isso, mesmo quantidades muito pequenas podem indicar se o estresse do manancial por esgoto é alto.
Outro lado
Por meio de nota, a CAB Cuiabá informou que a empresa atende a todos os parâmetros de controle de qualidade da água exigidos pela legislação, dentre eles a portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
Segundo a nota todas as instalações utilizadas para tratamento de água em Cuiabá passaram por diversas ações de melhoria nos processos para adequar a água ao consumo humano. “O resultado dessas ações é auditado pela área de controle de qualidade da concessionária, bem como pelos órgãos de controle competentes que verificam a qualidade da água desde a estação de tratamento até os pontos de consumo. Desta forma, a água que chega às ligações das residências pode ser ingerida sem qualquer tipo de tratamento adicional”, finaliza a nota.
Regina Botelho
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