Os médicos da rede municipal de saúde entram em greve. A tentativa de negociação entre a categoria e o prefeito Wilson Santos não resultou na suspensão do movimento.
Numa reunião, que durou 4h30, o Sindicato dos Médicos (Sindmed) cobrou do prefeito uma postura não apenas diante da situação trabalhista da categoria, mas dos problemas que comprometem a saúde pública em Cuiabá, como a falta de medicamentos e de manutenção dos equipamentos, a inoperância na realização de exames laboratoriais e a precária segurança nas unidades.
Em uma sala paralela ao gabinete do prefeito, o Sindmed recebeu das mãos dele uma proposta, que não contempla o assunto piso e nem fala das gratificações, embora uma das reivindicações seja justamente a incorporação desses prêmios ao salário. O salário inicial dos médicos servidores da prefeitura, para 40 horas, é R$ 1.064; 30 horas, R$ 1 mil; e 20, R$ 875, segundo documento fornecido pela prefeitura.
O obstetra Ednaldo Lemos, vice-presidente do Sindmed, recebeu o documento e não quis comentá-lo. Informou que será levado à assembléia geral marcada para segunda-feira à noite.
O prefeito também não comentou a proposta, que sugere a formação de uma comissão paritária de padronização de medicamentos e materiais, composta por um representante do Conselho Regional de Medicina (CRM), um do Sindicato, um do Sindicato dos Cirurgiões Dentistas (Sinodonto) e três da Secretaria Municipal de Saúde. O objetivo desta comissão seria acompanhar os processos licitatórios da Secretaria e a distribuição de medicamentos.
No documento, o prefeito, que foi pressionado no calor das discussões sobre o fato de não haver diporona nas prateleiras das unidades de saúde, promete “suprir a eventual falta de medicamentos na rede”.
Quanto à manutenção dos equipamentos, Santos garante que contratará uma empresa para manutenção preventiva e corretiva deles.
Sobre os exames, a promessa é a de que a Associação Fundo de Incentivo à Psicofarma (AFIP) vá atender dentro de 60 dias à demanda acumulada de pacientes do SUS que precisa de diagnóstico, para começar a tratar-se.
E por fim, o prefeito se compromete ainda a implementar ajuste de segurança nas policlínicas.
O diretor do Sindmed, Ednaldo Lemos, explica que, por lei, a categoria, por prestar serviço básico, mesmo em greve, tem que manter 30% do atendimento e afirma vai fazer isso com os 250 médicos do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC) e os 70 das policlínicas. “Isso significa mais de 50% dos 600 médicos da rede municipal”. Ele adverte, porém, que no PSMC não haverá pediatras hoje durante todo o dia porque na terça e quarta-feira 10 especialistas em crianças pediram demissão alegando não darem mais conta de atuar em um ambiente desaparelhado, que não oferece condições de trabalho e expõe pacientes a riscos. “Estou dizendo isso para depois não culparem a nós, os grevistas”, pontua Lemos.
O assunto insalubridade foi um único ponto de acordo entre as partes. Um estudo dos médicos, apontando que alguns ganham 20% e outros 40% de insalubridade, por estarem expostos a doenças, será encaminhado à Delegacia Regional do Trabalho (DRT), para que decida. Os médicos querem saber a origem da diferença.
O movimento dos médicos começou em setembro do ano passado e já provocou dois períodos de paralisação, em setembro e novembro. A terceira greve começa hoje por tempo indeterminado.
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