A população das duas maiores cidades de Mato Grosso vive com medo. O índice de roubos e furtos já se compara ao dos grandes centros do país. A violência está presente nas ruas e até mesmo dentro de casa.
Cacos de garrafa nos muros, cerca elétrica, portão de ferro, câmaras de vigilância. Nada parece impedir a ação dos criminosos. São roubos e furtos a residências que tiram a tranqüilidade dos moradores. “Entraram na minha casa, pegaram meu filho, encapuzaram ele, amarraram. O tempo todo com arma na cabeça, três “caras”. É difícil pra gente”, disse a empresária Nina Alves de Souza.
Segundo um levantamento da Polícia Civil, este ano, foram registrados 9 mil furtos e roubos. Cerca de 60 % deles, só a residências.
O medo chega às ruas e motoristas evitam circular em determinadas horários, principalmente à noite. “Em horários como 22h, as pessoas ficam na esquina. Isso já deixa a gente fica com medo”, falou o estudante Luiz Fernando.
Os assaltos também assustam. “Um cara me pegou em meu ponto de mototaxi, levei ao destino que ele pediu. Mandou eu parar, sacou um revólver e levou a moto de dia”, contou o mototaxista Roberto Silva, que já teve a moto roubada duas vezes.
Brigas em bar, disputas entre gangues, assaltos a mão armada e até discussões no trânsito, que terminam em morte. O crime que mais amedronta a população de Cuiabá e Várzea Grande, com cerca de 800 mil habitantes, é o homicídio.
O filho do vigilante Antônio Ferreira da Costa foi assassinado após um desentendimento com um motoqueiro. O amigo que estava com ele também morreu. “Sinto como se tivesse acordado de um sonho. Não tenho mais meu filho, e não tenho mais condições de trabalhar”, disse Antônio.
Em 2007, foram registrados em Cuiabá e Várzea Grande 319 homicídios. Este ano, com os dados parciais de dezembro, já são 314 casos. Segundo a Secretaria de Segurança a maioria dos crimes está ligada ao tráfico de drogas.
“Nós consideramos um número alto e estamos trabalhando para diminuí-lo. Não é uma situação que fugiu do controle. Mas, normal não é nunca. Se você tem um homicídio, a situação não é normal”, falou o secretário de Segurança de MT, Diógenes Curado.
Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá está entre as 10 capitais mais violentas do Brasil. “Quando se faz a divisão do número de homicídios por 100 mil habitantes, o resultado gira em torno de 42 homicídios por 100 mil. É um índice bastante alto, comparado com a cidade de São Paulo, Belo Horizonte”, informou Naldson Ramos da Costa, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Entre os crimes investigados pela polícia estão casos de pistolagem, como a morte do empresário Luís Gontijo Mendonça, executado com três tiros, numa das principais avenidas da capital. “O crime de pistolagem é outra realidade bastante evidente na região. Acontece todos os meses, à luz do dia. Matam na frente de testemunhas e boa parte desses crimes, infelizmente, fica impunes”, concluiu Naldson Ramos.
O crescimento da criminalidade deixou a polícia em alerta. Com o auxílio de um helicóptero, PMs vigiam as áreas mais violentas da Grande Cuiabá. Suspeitos são revistados. Nos principais acessos a Cuiabá e região Metropolitana, blitzs viraram rotina. “Quando acontecem homicídios os criminosos, normalmente, usam motos. Por ser veículos mais leves e de saída rápida. Com as barreiras e blitzs que fazemos, nós buscamos estas as motos”, disse o major da PM, Rubem Padilha
Para a empresária Luzenir Correia Antunes a reação da polícia veio tarde demais. O filho dela, aos 22 anos, foi assassinado em outubro. Em casa, a foto do filho está estampada em sua sala. “Uma brutalidade que fizeram com ele. Assim como ele morreu, outras pessoas que estavam na rua, no ponto de ônibus, poderiam ser atingidas, porquê o assassino deu quatro tiros. É uma violência muito grande, uma tristeza, um vazio que fica, e você tenta entender mas não consegue.”
TVCA