domingo, 22/12/2024
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Crise na Venezuela causa uma onda de migração inédita para o Brasil

&Eacute&nbspposs&iacutevel tirar pelo menos uma conclus&atildeo a respeito do lament&aacutevel momento hist&oacuterico que atravessa a Venezuela: n&atildeo h&aacute concess&atildeo poss&iacutevel a Nicol&aacutes Maduro, o ditador que comanda uma pol&iacutetica sistem&aacutetica de aniquilamento da oposi&ccedil&atildeo, de supress&atildeo dos direitos individuais, da liberdade de express&atildeo, do desrespeito &agraves institui&ccedil&otildees e que mant&eacutem o pa&iacutes sufocado e paralisado por uma grave crise humanit&aacuteria . O povo venezuelano est&aacute morrendo de fome e de doen&ccedilas, sintetiza a psic&oacuteloga social venezuelana Yorelis Acosta, da Universidade Central da Venezuela.

Nas &uacuteltimas semanas, o Brasil conheceu mais de perto os reflexos da derrocada patrocinada por Maduro. E pelo lado mais doloroso: o da trag&eacutedia humana. O pa&iacutes registra uma onda sem precedentes de migra&ccedil&atildeo de venezuelanos, exaustos com a falta em suas cidades de produtos essenciais como alimentos, rem&eacutedios e combust&iacutevel. Aqui, procuram uma vida melhor. Ou, pelo menos, esperam poder comprar um quilo de arroz para alimentar a fam&iacutelia que ficou do lado de l&aacute. O problema &eacute que, muitas vezes sem conseguir nem uma coisa nem outra, acabam perambulando pelas ruas de munic&iacutepios de Roraima &ndash sua porta de entrada &ndash, pintando um triste cen&aacuterio caracterizado pelo subemprego ou pela mendic&acircncia em terras brasileiras.

MALUQUICES DE MADURO

O presidente venezuelano &eacute dado a cometer algumas bizarrices

&bull Em campanha eleitoral, disse que seu antecessor e padrinho, Hugo Chavez, havia lhe aparecido na forma de um passarinho para aben&ccedilo&aacute-lo

&bull Em meio &agrave escassez de energia el&eacutetrica, pediu &agraves mulheres que deixassem de usar secador de cabelo. Na concep&ccedil&atildeo est&eacutetica de Maduro, mulher bonita &eacute aquela que deixa o cabelo secar naturalmente

&bull Tamb&eacutem transformou as sextas-feiras em feriados, em outra medida que considerou fundamental para economizar energia

GABINETE DE EMERG&EcircNCIA

Os dados a respeito da entrada de venezuelanos no Brasil nos &uacuteltimos tempos ainda n&atildeo est&atildeo claros. Segundo a Pol&iacutecia Federal, do ano passado at&eacute agora foram solicitados 1,8 mil pedidos de ref&uacutegio no Pa&iacutes. Mas h&aacute uma imensid&atildeo de gente que entra clandestinamente, portanto n&atildeo contabilizada. As cidades mais procuradas s&atildeo Boa Vista, capital de Roraima, e Pacaraima, fronteira com a Venezuela. L&aacute, o afluxo &eacute maior. Todos os dias, forma-se do lado venezuelano uma fila de carros esperando para entrar no Brasil. Nas ruas, o espanhol se confunde com o portugu&ecircs. Os que v&ecircm abastecer a despensa ou o autom&oacutevel rodam de mercado em mercado, de posto em posto de gasolina, procurando o melhor pre&ccedilo.

Aqueles que v&ecircm para ficar se dividem em dois grupos. Os que t&ecircm parentes se abrigam com os seus. Os que n&atildeo conhecem ningu&eacutem se juntam em quartos onde dividem o aluguel, ou ficam pelas ruas mesmo. Arrumam dinheiro nos sem&aacuteforos, trocando a limpeza de p&aacutera-brisa por uns trocados, ou trabalhando na descarga de caminh&otildees. Uma consequ&ecircncia infelizmente comum em circunst&acircncias t&atildeo dif&iacuteceis &eacute a entrada na prostitui&ccedil&atildeo de meninos e meninas que n&atildeo encontram alternativas. Em Pacaraima, isto j&aacute preocupada as autoridades.

A situa&ccedil&atildeo da invas&atildeo venezuelana se agravou tanto que, na semana passada, um gabinete de emerg&ecircncia foi montado pelo governo de Roraima. Os problemas est&atildeo surgindo, contou o coronel Doriedson Ribeiro, secret&aacuterio-executivo da Defesa Civil de Roraima. Muitos procuram os hospitais e as escolas brasileiras, acarretando uma sobrecarga em sistemas que n&atildeo conseguem dar conta sequer da demanda interna. Precisamos de apoio para que possamos absorver essa nova popula&ccedil&atildeo.

Do lado de l&aacute, dentro da Venezuela, cresce o n&uacutemero de miser&aacuteveis. Em 2013, meses depois de sua posse ap&oacutes a morte de Hugo Chavez &ndash seu padrinho pol&iacutetico-ideol&oacutegico &ndash , Maduro prometeu que acabaria com a pobreza. Como toda promessa feita em cima de balelas populistas e n&atildeo em s&oacutelidas consist&ecircncias t&eacutecnicas, n&atildeo chegou nem perto de ser cumprida. Naquele ano, o &iacutendice de venezuelanos que viviam em extrema pobreza era de 5% da popula&ccedil&atildeo. Em 2015, era de 9,3%. Segundo levantamento da Universidade Cat&oacutelica Andr&eacutes Bello, de Caracas, no ano passado a pobreza havia chegado a 73% dos lares venezuelanos.

No ano passado, a pobreza havia chegado a 73% dos lares venezuelanos

A degrada&ccedil&atildeo social a que Maduro conduz seu pr&oacuteprio povo atinge, claro, outras &aacutereas fundamentais da vida. Os &iacutendices de criminalidade dispararam de 25 assassinatos por cem mil habitantes em 1999 para 82 homic&iacutedios por cem mil habitantes em 2014. Pessoas s&atildeo assaltadas na rua simplesmente porque carregam produtos do cotidiano, como p&atildeo, arroz e papel higi&ecircnico. Recentemente, a imagem chocante de rec&eacutem-nascidos acomodados em caixas de papel&atildeo dentro de uma maternidade deu a exata dimens&atildeo do desastre na assist&ecircncia &agrave sa&uacutede patrocinado pelo ditador.

MIS&EacuteRIA: O desemprego obriga muita gente a trabalhar em lix&otildees

Os n&uacutemeros da ru&iacutena econ&ocircmica s&atildeo igualmente impressionantes. Neste ano, a infla&ccedil&atildeo na Venezuela deve ultrapassar 700%, e o bolivar, a moeda nacional, hoje vale menos do que um centavo de d&oacutelar. O &iacutendice pre&ccedilos ao consumidor havia subido mais de 140% entre setembro de 2014 e 2015.

Parte da fal&ecircncia venezuelana se deve &agrave queda no pre&ccedilo dos barris de petr&oacuteleo registrada nos &uacuteltimos anos, de cerca de US$ 100 para menos de US$ 30. A diminui&ccedil&atildeo foi a p&aacute de cal em uma economia na qual mais de 50% de sua riqueza vem da exporta&ccedil&atildeo do combust&iacutevel. Para se ter uma ideia, em 2014 o pa&iacutes somou US$ 75 bilh&otildees em exporta&ccedil&otildees. Em 2016 o ganho n&atildeo ultrapassar&aacute os US$ 27 bilh&otildees.

&Eacute simplista demais, por&eacutem, atribuir apenas &agraves circunst&acircncias econ&ocircmicas internacionais o desmonte venezuelano. Ele &eacute resultado de uma pol&iacutetica consistente de destrui&ccedil&atildeo que come&ccedilou com Hugo Chavez, em 1999, e que continuou com Maduro, disc&iacutepulo do que se convencionou chamar de chavismo. Por essa doutrina, entende-se uma vis&atildeo ultrapassada segundo a qual o Estado deve ter um tamanho gigantesco na economia, o culto &agrave personalidade e a distribui&ccedil&atildeo de benesses aos mais carentes s&atildeo os truques para ter apoio entre a base social mais baixa e os oposicionistas simplesmente devem ser calados. &Eacute a cartilha cl&aacutessica pela qual rezaram outras figuras lastim&aacuteveis da hist&oacuteria, como os ditadores Muamar Kadafi, na L&iacutebia, e Pol Pot, no Camboja.

PRESS&AtildeO MUNDIAL

O &uacuteltimo golpe de Maduro no caminho da democracia foi dado na semana passada, quando uma manobra feita por seus apoiadores adiou para 2017 as elei&ccedil&otildees para os governos estaduais, marcadas para o fim do ano. Maduro sabe que pode perder feio, como perdeu nas elei&ccedil&otildees para a Assembleia Nacional, em 2015, quando a oposi&ccedil&atildeo conquistou 112 dos 167 assentos. O venezuelano quer tamb&eacutem ganhar tempo e empurrar o quanto puder a realiza&ccedil&atildeo do referendo revogat&oacuterio de seu mandato. Planejada pela oposi&ccedil&atildeo, a a&ccedil&atildeo pode tirar Maduro do poder, mas para ser iniciada precisa ter o apoio de pelo menos 20% dos eleitores. O governo de Maduro sabe que est&aacute em uma situa&ccedil&atildeo muito dif&iacutecil. H&aacute uma trag&eacutedia pol&iacutetica e social no pa&iacutes, diz o cientista pol&iacutetico venezuelano Rafael Villa, professor da Universidade de S&atildeo Paulo. As assinaturas pedindo o referendo ser&atildeo coletadas na semana que vem.

O mundo observa com aten&ccedil&atildeo o que est&aacute acontecendo e pressiona para que a ditadura de Maduro chegue ao fim. Na Am&eacuterica Latina, os pa&iacuteses fundadores do Mercosul &ndash Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai &ndash proibiram a Venezuela de assumir a presid&ecircncia rotativa do bloco sob o argumento de que o pa&iacutes n&atildeo cumpriu normas vigentes da associa&ccedil&atildeo. O ato tem um forte simbolismo e sinaliza que, da forma como &eacute governada, a Venezuela dificilmente se integrar&aacute aos demais pa&iacuteses. Luis Almagro, secret&aacuterio-geral da Organiza&ccedil&atildeo dos Estados Americanos, foi direto. Pediu o fim do que chamou de tirania no pa&iacutes sul-americano. N&atildeo h&aacute hoje na Venezuela nenhuma liberdade fundamental nem nenhum direito civil ou pol&iacutetico, afirmou. Ultrapassou-se um n&iacutevel, que significa o fim da democracia. A comunidade internacional &eacute clara ao pedir n&atildeo mais tirania no c&eacuteu. Um c&eacuteu que j&aacute n&atildeo existe.

ISTO&Eacute

Fotos: John Moore/Getty Images Avener Prado/Folhapress Marco Bello

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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