O Brasil atravessa uma onda de greves em setores fundamentais da economia. A aceleração da inflação e o ambiente de incertezas diante da crise internacional têm abalado as negociações salariais de categorias com tradição de quentes embates entre trabalhadores e empresários.
Atualmente são pelo menos dois grandes setores trabalhando em parte do potencial por conta de negociações salariais: carteiros e bancários. Em Minas Gerais, os professores estão parados, assim como em diversos outros estados há manifestações na área de educação. Outras áreas de grande relevância ameaçam parar, como policiais federais e juízes.
Trabalhadores de obras da Copa de 2014, como o Maracanã e o Mineirão, cruzaram os braços recentemente e outros segmentos fundamentais à economia, como os comerciários e petroleiros, estão em tensas negociações de reajuste.
A conjuntura econômica tem prejudicado as negociações nesta temporada, avalia José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Quanto mais alta a inflação, maior a dificuldade nas negociações.”
Em setembro deste ano, a inflação acumulada em 12 meses é de 7,4% pelo INPC, enquanto que no ano passado era de 4,4%. Nesse cenário, patrões endurecem por dizer que o aumento de faturamento não revelou produtividade maior e trabalhadores também pedem mais, para que o aumento não seja todo consumido pelo aumento.
No caso das estatais, já eram esperadas negociações mais complicadas depois da clara indicação do governo federal, em maio, de que o controle fiscal mais austero deveria ter reflexo em negociações salariais nas companhias públicas, avalia Silvestre. Havia um medo no governo também de que os reajustes salariais poderiam acelerar ainda mais o aumento dos preços, que parecia poder sair do controle no início do ano.
Patrões e empregados divergem
Do lado patronal, o presidente do Conselho de Associações Sindicais da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), Ivo Dall’Ácqua Júnior, diz que, mesmo que as pretensões de reajuste dos trabalhadores neste ano sejam as mesmas do ano passado, a inflação tornará o aumento real pouco expressivo.
O comércio paulista tem data-base de negociações em 1º. de setembro, mas as negociações se arrastam até hoje. Dall’Ácqua destaca que os empresários estão relutantes em acordo tendo em vista um claro recuo na intenção de consumo das pessoas. “Um aumento expressivo dos salários fatalmente vai onerar mais os consumidores lá na frente e todos perdem com isso.”
O presidente da União Geral dos Trabalhadores, Ricardo Patah, reconhece que os empresários têm colocado a crise e as incertezas globais como argumento nas mesas de negociações, mas destaca que o reajuste tem de levar em conta o passado, e não o futuro. “Eles esquecem ou não querem lembrar que 2010 foi um ano muito bom para todos e que o futuro se negocia no próximo ano.”
Danilo Fariello, iG Brasília