Nesta edição, o uniforme da seleção brasileira ganhou um shorts com tecnologia contra vazamentos durante o período menstrual
Depois de uma goleada de 4 a 0 contra o Panamá na última segunda-feira (24), o Brasil enfrenta a França neste sábado (29) pela Copa do Mundo Feminina. Neste ano, o Mundial da FIFA reacendeu o alerta sobre a importância de se dar atenção à menstruação no esporte.
A Inglaterra, por exemplo, anunciou a mudança na cor dos calções que compõem o uniforme principal da seleção inglesa de futebol feminino. Os calções brancos foram trocados por peças azuis durante a disputa da Copa do Mundo. A mudança foi pensada para que as jogadoras se sintam mais confortáveis quando estiverem menstruadas.
A decisão segue uma tendência que vem ganhando força na modalidade. O Manchester City abriu mão dos calções brancos em outubro do ano passado e foi seguido por outros clubes, como o Orlando Pride, dos Estados Unidos.
Já o uniforme da seleção brasileira ganhou uma adaptação importante: o desenvolvimento de um shorts com tecnologia contra vazamentos durante o ciclo menstrual. Fabricado pela Nike, o item contém um forro ultrafino e absorvente que promete aumentar a sensação de conforto e confiança durante as partidas.
Batizada de “Leak Protection: Period” , a peça pode ser usada pelas jogadoras por baixo do calção. A tecnologia estreou nos gramados durante a Copa do Mundo Feminina, mas, no site da marca, as consumidoras também podem encontrar um modelo com proteção absorvente para a prática de esportes.
Para Mariana Betioli, obstetriz especialista em saúde íntima e CEO da Inciclo, a escolha do item de higiene menstrual pode influenciar bastante no desempenho e na concentração das atletas, principalmente no caso do futebol, em que as mulheres ficam por muito tempo sem poder usar o banheiro. A menstruação, nesses casos, acaba sendo motivo de distração.
“Uma mulher que está menstruada acaba não só tendo que se concentrar no jogo para ter uma boa performance, como também na segurança do produto que está usando para conter a menstruação. Se estiver, por exemplo, no segundo ou terceiro dia, que costumam ser de fluxo mais intenso para a maioria das mulheres, ela pode se preocupar com vazamento e até sentir o sangue escorrendo, fatores que podem desconcentrá-la dentro de campo”.
É com essa premissa que muitas marcas têm lançado produtos que prometem maior segurança durante atividades esportivas. Além da Nike, marcas como a Pantys e a própria Inciclo oferecem itens reutilizáveis de longa duração, como coletores e discos menstruais e calcinhas absorventes.
Segundo a especialista, os absorventes descartáveis convencionais podem causar o abafamento da região, possibilitando a proliferação de fungos e bactérias causadores de doenças, além de assaduras e mau odor. Por isso, para uma partida de futebol, que, em média, dura 90 minutos, podem não ser o ideal.
Em competições, as jogadoras têm apenas 15 minutos de intervalo, um tempo considerado muito curto para incluir uma ida ao banheiro para a troca do item de higiene. Além disso, durante esse tempo, aproveitam para ir ao vestiário conversar com a equipe.
Publicidade
“O absorvente descartável é muito sensível. Então, com 90 minutos de jogo, pode ser que ele se desfaça e acabe vazando e, dependendo do fluxo, isso pode incomodar. Talvez, não seja o ideal em questões de conforto. Além disso, o suor pode ajudar a deixar o local ainda mais quente e úmido”, concorda a ginecologista Mariana Lyrio.
Por quanto tempo é recomendado usar os absorventes?
Nadine Dias é atleta profissional do Fluminense e conta que costuma ter um fluxo bastante intenso durante o período menstrual. “Normalmente, eu uso OB e, dependendo do dia, além do OB, coloco um absorvente descartável”, diz. Mas a atacante declara: “Quando estou menstruada, tomo remédio para aliviar as cólicas e aí consigo treinar ou jogar normalmente”.
O absorvente interno, também chamado de OB, não deve passar de 4h de uso — inclusive, algumas mulheres que têm fluxo mais intenso não conseguem ficar nem mesmo 4h sem o risco de vazamentos. Já os externos descartáveis devem ser trocados entre 4h e 6h de uso.
“Coletores e discos menstruais, por serem de uso interno, deixam a vulva arejada, o que evita o risco de infecções. Além disso, podem ficar até 12h dentro do corpo de forma segura e sem vazamentos. Já a calcinha absorvente pode ser uma boa opção se não for produzida com tecidos plásticos. Também é importante optar por aquelas que contenham tratamento antimicrobiano e antiodor. Nesse caso, a recomendação de troca é de 8h a 12h de uso”, explica Mariana Betioli.
Para as mulheres com fluxo mais intenso, o ideal é usar o coletor ou o disco menstrual com o reforço de uma calcinha absorvente. Mas, no geral, apenas o uso do coletor ou do disco já é o suficiente por conta de sua capacidade de reter fluídos. O coletor, por exemplo, suporta até 28ml de sangue, enquanto o disco até 40ml. Isso costuma ser mais do que suficiente para a mulher passar entre 8h e 12h sem precisar fazer a troca.
A princípio, não há nenhuma contraindicação sobre treinar ou jogar menstruada. “Caso a pessoa tenha dismenorreia, que é como a gente chama as cólicas menstruais, pode sim atrapalhar. Não é a mesma coisa treinar com dor e sem dor. Mas nós temos que entender qual é a causa dessa dor e, aí sim, tratá-la para que não atrapalhe o desempenho da atleta, principalmente, no caso de atletas de alto rendimento”, explica a ginecologista Mariana Lyrio.