A crise no fornecimento de gás natural entre Mato Grosso e a Bolívia provocou o fechamento de 60% das oficinas de conversão de veículos para o gás natural veicular e a demissão de pelo menos 70% dos funcionários que trabalhavam nestes estabelecimentos em Cuiabá. Demanda pela troca de motores a gasolina e a álcool pelo GNV está 95% menor.
A média de conversões que chegou a 300 veículos por mês há dois anos na capital, caiu para 15 neste segundo semestre, levando em consideração os serviços prestados pelas oficinas em atividade. Das seis oficinas, apenas quatro estão funcionando, sendo que uma delas está praticamente parada, pois não há demanda há mais de um mês.
“Se dependêssemos apenas das conversões para o GNV, provavelmente já teríamos fechado as portas”, afirma Welves Clébio, da oficina Dé Autocenter, que atua também na área de mecânica e injeção eletrônica em geral. Em pouco mais de dois anos no mercado de conversão de veículos GNV, a oficina implantou cerca de 220 kits gás.
“Chegamos a realizar até 30 conversões mensais. Hoje não fazemos nem 5”, conta Welves, lembrando que a oficina teve também que demitir a metade da mão-de-obra especializada em GNV. “A situação realmente é dramática e, se perdurar por mais algum tempo, seremos obrigados a suspender nossos serviços de conversões na oficina”, adverte.
Com mais de 600 conversões realizadas na cidade, a GNV Cuiabá Car ainda não conseguiu tirar o retorno do investimento realizado na oficina. “Investimentos mais de R$ 200 mil e ainda estamos no prejuízo”, lamenta a proprietária, Nélida Bottini. “Gostaríamos que o governo pagasse esta conta, pois os empresários acreditaram no projeto do gás e agora o governo federal é o primeiro a desestimular a população a fazer conversões de seus carros. Infelizmente, além da falta de incentivo ainda há a insegurança quanto ao abastecimento já admitida pela União”.
Por conta da crise, a Cuiabá Car foi obrigada a demitir 70% de seus empregados. A empresa, que contava com 10 funcionários na época em que o mercado estava aquecido, atualmente tem apenas três. A oficina teve também de mudar de endereço. Funcionava em uma área de 500 metros quadrados (m²), na Avenida Beira Rio. “Era um prédio alugado, mas compensava porque o volume de serviços era considerado satisfatório”, lembra a proprietária. Com a redução das conversões, a empresa foi obrigada a mudar para um local mais modesto, funcionando em um espaço de apenas 110 m² acoplado ao Posto Metropolitano, na Avenida Fernando Corrêa.
“Tivemos que tomar estas providências porque as conversões em Cuiabá caíram drasticamente este ano”, afirma Nélida Bottini, revelando que a oficina já chegou a implantar até 70 kits de GNV em apenas um mês. “Agora não chegamos a cinco conversões”, informa ela. “Há uma grande insegurança da população, alimentada pelas informações negativas sobre o gás natural. Se o quadro não melhorar, seremos obrigados a fechar a oficina”.
O ceticismo toma conta também da Lidergás, que está buscando outras alternativas para se manter no mercado. “É uma questão de sobrevivência mesmo. Ou diversificamos nossos serviços ou seremos obrigados a sair deste ramo”, relata a proprietária da empresa, Audaíra de Camargo Silva.
Ela diz que as conversões e vendas de equipamentos do kit gás foram interrompidas há mais de um mês. “Não estamos fazendo praticamente nenhuma conversão. Muitas pessoas estão transferindo seus equipamentos para outros veículos. Só estamos ganhando na mão-de-obra”.
Dos sete funcionários, a Lidergás conta hoje com apenas dois, um recuo de 70%. “Não conseguimos tirar o que investimos na compra dos equipamentos de conversão (cerca de R$ 200 mil) e estamos realizando serviços de mecânica em geral e injeção eletrônica para não fecharmos a oficina”, conta ela. (Veja mais na página C2)
fonte:DC