quinta-feira, 21/11/2024
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Conhece a PrEP? Entenda a terapia de prevenção do HIV que será oferecida no SUS

A cada 100 mil brasileiros, 18 são soropositivos. Apesar da incidência ter diminuído 5,2% entre 2015 e 2016, hoje, cerca de 830 mil pessoas estão vivendo com HIV, sendo que 112 mil ainda não sabem disso, conforme informou o último Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, divulgado pelo Ministério da Saúde, no início de dezembro. 

Desse modo, mesmo depois de 35 anos da identificação da doença, a epidemia do HIV continua sendo um desafio a ser vencido no Brasil e no mundo. Durante todo esse tempo, a única forma de prevenção recomendada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) era o uso de preservativos, que, tendo em vista a atual prevalência dos casos, se mostrou insuficiente para a erradicação.

Na tentativa de diminuir a incidência de infecções, que voltou a crescer nos últimos anos, a rede pública de saúde passará a oferecer gratuitamente, a partir deste mês, a profilaxia pré-exposição (PrEP) , que funciona como uma terapia capaz de prevenir a infecção pelo HIV.

“Esse é um momento histórico”, avalia o infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Ricardo Vasconcelos. “Acho que a disponibilização da PrEP é fundamental quando a gente pensa em uma estratégia eficiente de enfrentamento da epidemia do vírus no Brasil. Nos últimos 35 anos, foi possível perceber que o mesmo discurso focado no mantra ‘use camisinha’ não funcionou, ou apenas funcionou parcialmente”.

Para ele, a nova medida se aproxima muito mais da realidade das pessoas que fazem parte de grupos de vulnerabilidade, como aquelas que não conseguem usar preservativo por diversas questões sociais e culturais. “A profilaxia traz um discurso diferente do controle da vida sexual do indivíduo. Com a chegada da PrEP no SUS , a pessoa terá autonomia para escolher a melhor alternativa para se prevenir”, analisa Vasconcelos.

A medida vem para evitar a infecção, conforme ressalta a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia e do Ministério da Saúde, Rosana Del Bianco. “É preciso deixar bem claro que a profilaxia não é uma ‘pílula do dia seguinte’. Seu uso será por um longo período, o que faz com que as pessoas tenham um envolvimento maior para assumir o tratamento”.

O medicamento

A novidade na rede pública coloca o Brasil ao lado de países como Estados Unidos, Canadá e França, que já adotaram a PrEP. No entanto, poucas são as nações que oferecem o medicamento gratuitamente. 

“A medida nos atualiza dentro das políticas de prevenção ao HIV no mundo todo”, avalia o vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Veriano Terto Júnior. No entanto, o especialista chama atenção para desafios e preocupações que podem surgir com a implementação da medida.

Contudo, um dos problemas que pode ser enfrentado é o preço do medicamento. Até o momento, a patente do remédio – que é bastante caro – foi negada no Brasil. Mas a empresa que detém o monopólio está recorrendo, e, caso a situação seja revertida, o preço pode ficar inviável”, explicou o representante da ABIA.

O medicamento que será utilizado na PrEP é o Truvada, que já é comercializado em território nacional desde 2010. Os pacientes que adquirem o remédio na rede privada precisam de prescrição médica, além de pagar R$ 290 pela caixa com 30 comprimidos, quantidade suficiente para um mês.

Como funciona

O Truvada é uma droga que combina outras duas já conhecidas no tratamento do HIV:  o tenofovir associado à emtricitabina. O remédio não bloqueia a infecção pelo vírus, mas multiplica as células do sistema imunológico. Dessa forma, ao ser tomada uma vez ao dia, sem interrupções, a medicação age para destruir o processo de reprodução do vírus.

No entanto, para que o efeito esteja assegurado, os homens precisam tomar o Truvada por, pelo menos, sete dias. Já as mulheres só terão a proteção garantida depois de 20 dias, segundo informações do Ministério da Saúde.

Assim como muitos medicamentos que são tomados por período prolongado, é possível que quem utiliza a droga sofra com alguns efeitos colaterais. “Estes efeitos são pequenos e não impedem que a pessoa tome a medicação, na maioria dos casos”, assegurou a médica e professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Maria Amélia de Sousa Mascena Veras.

Frequente em até 20% dos casos, é possível que o paciente tenha sintomas comuns que acontecem, geralmente, quando se está iniciando um tratamento. “A pessoa pode ter um pouco de gastrite e refluxo, mas isso melhora em um mês”, garante Vasconcelos.

Porém, o médico alerta que, em alguns casos mais raros, é possível que cause problemas renais e, consequentemente, ósseos. É por isso que o acompanhamento médico é fundamental para a distribuição do remédio. “Com o rastreamento e os exames realizados periodicamente, os médicos são orientados a suspender o tratamento, até que a situação seja normalizada e o medicamento volta a ser introduzido”, explica o infectologista da FMUSP.

A avaliação médica antes e durante a utilização da droga é um dos requisitos obrigatórios para adquirir o Truvada pelo SUS. O paciente precisa ser examinado e ter certeza de que não está infectado pelo vírus antes de iniciar o tratamento, porque caso isso aconteça, o uso da medicação pode fazer com que o HIV fique superresistente aos antirretrovirais.

Quem recebe

Para ter acesso à PrEP, é preciso que  a pessoa se encaixe dentro de grupos de vulnerabilidade, como profissionais do sexo, transexuais, casais sorodiferentes – quando apenas um deles possui o vírus – e homens que fazem sexo com homens.

Ricardo explica que a restrição tem fundamento. “Ao considerarmos toda a população brasileira, a chance de uma delas viver com HIV é de 0,5%. Já ao avaliar apenas a população transexual e travestis, as chances são de mais de 30%", elucida. 

Segundo as informações apresentadas no Boletim Epidemiológico, a taxa de contágio entre as mulheres caiu, diferente do que aconteceu com a parcela masculina, sobretudo entre homens que mantêm relações sexuais com outros homens. Entre eles, houve uma alta de 33% nos últimos 10 anos.

No ano passado, a proporção foi 22 diagnósticos confirmados em homens para cada 10 casos em mulheres. Além disso, a incidência quase triplicou entre os homens de 15 a 19 anos, passando de 2,4 casos para 6,7 casos por 100 mil habitantes na década analisada. Entre os homens com 20 a 24 anos, a taxa passou de 16 casos de aids por 100 mil habitantes, em 2006, para 33,9 casos, em 2016. 

Outras DSTs

Assim como o anticoncepcional, que é utilizado pelas mulheres que querem prevenir a gravidez, mas não garante imunização a outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), a PrEP também não protege de sífilis, gonorreia, HPV ou hepatite B, por exemplo.

“Na realidade, a PrEP veio para ajudar na prevenção combinada. Se tirar a camisinha, o indivíduo fica exposto às DSTs”, ressalta Rosana, colocando em pauta um possível obstáculo na adoção do tratamento.

Mas Ricardo Vasconcelos lembra que as pessoas que irão receber o medicamento pelo SUS já estavam expostas ao vírus, pois são pessoas que não usam preservativo. “Com o acompanhamento para o uso da PrEP, essas pessoas terão a oportunidade de serem testadas e avaliadas periodicamente, e isso poderá, inclusive, ajudar a aumentar o diagnóstico para outras DSTs”, explica ele.

Para conseguir a PrEP gratuitamente, é preciso que o indivíduo vá até algum serviço do SUS que já trabalha com prevenção da doença, como Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) ou Serviços de Assistência Especializada em HIV (SAE).

Conforme anunciou o Ministério da Saúde, a distribuição do medicamento será gradativa. Na primeira fase da oferta, apenas Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto participarão. A expansão deve acontecer para todo o país durante 2018.

 

 

 

 

 

Link deste artigo: http://saude.ig.com.br/2017-12-12/hiv-prep-a

 

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