Em uma posição de desafio ao presidente dos EUA, George W. Bush, a Câmara dos Representantes e o Senado americanos aprovaram nesta quinta-feira uma medida que prevê a retirada gradual dos soldados do país no Iraque a partir do dia 1º de outubro. Bush reiterou diversas vezes nas últimas semanas que vetará qualquer lei que estabeleça um cronograma para a retirada, apesar de a medida aprovada hoje estar vinculada à liberação de fundos para a manutenção do esforço no Iraque.
De acordo com o projeto –aprovado por 218 votos contra 208 na Câmara e por 51 a 46 no Senado–, a retirada de cerca de 150 mil soldados dos EUA em solo iraquiano seria completada em março de 2008. A proposta inclui ainda o envio de US$ 124 bilhões em recursos extras para a manutenção das tropas.
“O presidente falhou em sua missão de trazer paz e estabilidade ao povo do Iraque”, disse o senador democrata Robert Byrd, líder do Comitê de Apropriações do Senado. “É hora de trazer nossos soldados de volta para casa”, acrescentou.
Os democratas, que dominam o Congresso desde janeiro deste ano, pressionam para que se defina uma data de retirada. A medida aprovada hoje é resultado da harmonização de duas leis elaboradas separadamente pela Câmara e pelo Senado, e que já haviam sido ameaçadas com o veto presidencial.
“Os sacrifícios de nossas tropas e de suas famílias exigem mais do que os cheques em branco que o presidente pede, para uma guerra sem fim”, afirmou a democrata Nancy Pelosi, atual líder da Câmara.
Reação
A advertência de veto foi repetida pela porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, nesta quinta-feira, derrubando em grande medida as chances de a medida se tornar realidade. Com base nos números de votos a favor da lei na Câmara e no Senado hoje, é muito improvável que os opositores da guerra consigam os necessários dois terços dos votos para derrubar um veto presidencial.
Perino lamentou a “trágica situação” no Iraque, mas afirmou que uma retirada militar “criará um vazio de poder” no país. Republicanos afirmam que definir um prazo seria o mesmo que estipular uma “data para a rendição”. “A rede Al Qaeda vê isto como o dia em que a Câmara dos Representantes jogará a toalha”, afirmou o republicano Jerry Lewis, da Califórnia.
Apesar de enfraquecida pela ameaça de veto, a medida é um golpe contra Bush. Até hoje, apenas uma medida foi vetada pelo presidente, que se referia à permissão para pesquisas em células-tronco. Um novo veto carregará significado político forte.
Iraque
Nesta quinta-feira, o general David Petraeus, principal comandante americano no Iraque, admitiu que o conflito passa por um momento “complexo e muito duro”, e disse que os EUA ainda deverão enfrentar mais dificuldades até que a situação comece a melhorar.
Segundo ele, o crescente aumento dos ataques a bomba e suicidas levou a “grande perdas” para os EUA, assim como ao crescimento de baixas militares.
Petraeus recusou-se a especular por quanto tempo as tropas americanas ainda devem permanecer no Iraque, e também não quis comentar a proposta de retirada dos soldados.
“Tento ficar fora do campo político e das propostas legislativas”, afirmou.