A principal cidade da Costa do Marfim, Abidjan, foi palco na madrugada desta sexta-feira de intensos combates entre as forças leais ao presidente Laurent Gbagbo, que não é mais reconhecido como líder pela comunidade internacional, e os simpatizantes de Alassane Ouattara, considerado pela ONU como vencedor das eleições presidenciais de novembro.
Testemunhas relataram trocas de tiros intensas perto da residência de Gbagbo, enquanto os simpatizantes de Ouattara dizem ter tomado o controle da televisão estatal, que saiu do ar no fim da noite de quinta-feira.
Gbagbo se negou a entregar a presidência após as eleições de novembro, alegando suposta fraude na votação no norte do país, região controlada pelos rebeldes que apoiam Ouattara. As forças leais a Ouattara iniciaram uma nova ofensiva na segunda-feira, sem encontrar fortes resistências por parte do Exército nacional.
Segundo relatos locais, os simpatizantes de Ouattara já controlam cerca de 80% do território da Costa do Marfim. O governo estabelecido por Ouattara anunciou o fechamento das fronteiras do país por terra, água e ar até segundo aviso. Também foi decretado um toque de recolher entre as 21h e as 6h em Abidjan até o domingo.
Resistência
Patrick Achi, um porta-voz do governo de Ouattara, disse que Gbagbo até agora não parece ter desistido de resistir. Segundo Achi, as forças leais a Ouattara tomaram o controle da TV estatal, RTI, mas um porta-voz de Gbagbo disse que ainda há confrontos no local.
Gbagbo não é visto em público há várias semanas. Sua casa, em uma península no lago Abidjan, é protegida por membros da guarda presidencial de elite. Membros das forças de paz da ONU no país e soldados franceses tomaram o controle do aeroporto internacional de Abidjan, após relatos de saques em várias partes da cidade.
Segundo o correspondente da BBC na Costa do Marfim John James, parece haver um crescente pânico entre os simpatizantes de Gbagbo, especialmente após a decisão do comandante do Exército, general Phillippe Magou, de pedir refúgio com a mulher e os cinco filhos na residência do embaixador da África do Sul. Na noite de quinta-feira, um canal de TV ligado a Ouattara mostrou vários altos oficiais militares declarando-se leais ao seu governo.
“Respeito ao voto”
O chefe da missão da ONU, Choi Young-jin, disse que cerca de 50 mil soldados e policiais teriam abandonado as forças ligadas a Gbagbo. “Minhas forças vieram para restaurar a democracia e garantir o respeito ao voto do povo”, disse Ouattara em uma declaração pública transmitida pela TV. Ele também convidou altos oficiais e soldados comuns a se juntar às suas forças.
Durante o dia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já havia novamente pedido a Gbagbo que deixasse o poder a Ouattara para “permitir a transição plena das instituições do Estado para as autoridades legítimas”. Diplomatas ocidentais dizem que parece ser apenas uma questão de tempo até que Gbagbo fuja ou seja capturado. O governo de Ouattara disse que dará garantias para que Gbagbo não seja ferido, mas que o entregará para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional.
Desde o início da atual crise, em dezembro, cerca de 1 milhão deixaram suas casas para fugir da violência, principalmente em Abidjan, e ao menos 473 foram mortos, segundo a ONU. Sanções e um boicote às exportações do país, o maior produtor mundial de cacau, deixaram a segunda maior economia do oeste africano em frangalhos, com os bancos fechados há mais de um mês.
BBC Brasil