quinta-feira, 21/11/2024
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Confraternizar o Natal nem sempre igual

Todos os anos, as árvores de natal gigantes, colocadas em tradicionais pontos turísticos das duas maiores cidades do Brasil, atraem milhares de visitantes e representam gastos milionários em instalações, estruturas, fios, enfeites e lâmpadas. A árvore flutuante, instalada na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e a do Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, deveriam trazer o espírito natalino para mais perto das duas capitais.

Os números são quase tão impressionantes quanto o tamanho das maiores peças de decoração natalina: o custo para montar as duas árvores supera R$ 7 milhões. Enquanto em milhares de lares o Natal será apenas mais um dia, sem presentes ou comidas típicas da época, as árvores natalinas de São Paulo e do Rio atraem visitantes e simbolizam uma festa que deveria ser bonita, mas que esconde um dos lados mais tristes da realidade brasileira: a desigualdade social.

Nem roupa, nem brinquedo

Para dezenas de milhões de brasileiros, sem poder dar aos filhos e familiares os presentes que farão a alegria de tantas famílias em melhor situação econômica, esse período do ano é carregado de tristeza. Muitos nem mesmo terão ceia. Quem está do lado de lá da ponte da desigualdade não consegue compreender o porquê de tanto dinheiro gasto em decoração das ruas.

“É um gasto muito grande, muita luz. Tem tanta criança por aí que não vai ganhar nem uma roupa, nem um brinquedo este ano. Não dá nem vontade de comemorar direito. O Natal deveria ser pra todos, mas vira uma festa pra quem tem, pra quem pode. São Paulo é a mesma coisa, é bom pra quem tem. Não vejo a hora disso passar”, completa Raimunda.

Ela chegou à capital paulista há dez anos, vinda da cidade de Monte Santo, na Bahia, e acabou não encontrando as oportunidades que esperava. Vendo a cidade toda iluminada e enfeitada para o Natal, os sintomas de depressão, que ela combate tomando medicamentos controlados, costumam aumentar.

Enfeites não

enchem barriga

A dona-de-casa Eva Silva Ribeiro, 35, também lamenta não poder dar presentes para as filhas Franciely, 12, e Fabiana, 10, neste Natal. O dinheiro que o marido, Valvi Gomes da Silva, 41, e o irmão dela, Noé Silva Ribeiro, 34, ganham trabalhando como metalúrgicos em uma empresa de laminação, paga as contas e dívidas e o que sobra dá apenas para comprar uma roupa nova a cada uma das meninas.

“A Franciely, outro dia, me pediu um celular de presente, e eu tive que dizer que não tinha condições, infelizmente”, lamenta Eva. “Queria dar de Natal, pra elas, saúde, em primeiro lugar, e um bom estudo. Ainda bem que elas acabam entendendo a situação. Pra mim, o maior presente seria poder viajar pra minha cidade, Vitória da Conquista (Bahia), e ver a minha mãe, porque faz 13 anos que eu saí de lá e nunca mais tive condição de voltar.”

Para ela, os enfeites espalhados por São Paulo não ajudam a melhorar o clima: “Acho que deveriam olhar mais as crianças, enfeitar a cidade não enche a barriga de ninguém. Antigamente, eu ia às lojas de R$ 1,99 e comprava um enfeitinho pra colocar na porta de casa, mas este ano eu desanimei mesmo.”

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 14 milhões de pessoas passam fome no Brasil.“Noite feliz” só na música

Nesta época do ano, o trânsito na Avenida Paulista, o ponto nevrálgico da economia do País, segue congestionado como nas horas de rush. A principal via de São Paulo vira ponto turístico. Aos embalos de “Noite feliz”, paulistanos enfileiram centenas de carros para observar um número sem fim de luzes e enfeites de Natal nos prédios suntuosos das principais instituições financeiras do mundo.

Distante dali, o trânsito na comunidade “8 ou 80”, no Jardim Maristela, na periferia de São Paulo, é calmo. Não há motivos para festejar. O Natal é um tempo triste para a dona-de-casa Raimunda de Jesus Santana, 41. Na pequena casa de três cômodos, onde ela mora com o marido, quatro filhos, um genro e três netos pequenos, presente é uma palavra que foi excluída do vocabulário.

“Eu não sei nem explicar o que eu sinto nessa época, eu vejo todo mundo feliz e fico triste, fico deprimida, quero que passe logo”, conta Raimunda. “Como eu não trabalho, não posso dar presente pra ninguém. E tem tanta criança em casa, que se eu der presente pra uma, tenho que dar pra todas. Tudo que eu queria era poder fazer isso, não importa o valor, qualquer coisinha. Bastaria poder dar alguma coisa pra eles”.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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