domingo, 22/12/2024
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Como medir a riqueza de um país

A preocupação em medir a riqueza de um país sempre existiu, mas foi somente após a segunda guerra mundial que o economista russo, naturalizado americano, Simon Kuznets divulgou um método para calculá-la de forma integrada. Antes disso, os economistas coletavam as informações de forma dispersa, como a produção de determinados produtos agrícolas ou o comércio de produtos das lojas de varejo, por exemplo. O todo era dado, então, pela soma das partes, sem levar em conta a interação entre elas. Assim, calculavam-se, para determinado período, quantas toneladas de trigo eram produzidas e, em outro levantamento, no mesmo período considerado, quantos pães eram consumidos. Não se levava em conta que para produzir pães consumia-se trigo e, portanto somava-se duas vezes o mesmo produto. Com a sua metodologia, Kuznets introduziu o conceito de valor adicionado, e passou-se a somar apenas o valor que cada setor da economia agregava ao produto final. Ao tempo em que se contabilizava a quantidade de pães produzida, subtraía-se o valor do trigo oriundo de outro setor. Evitava-se desta forma a duplicidade de contagem.
Apesar de ser uma boa forma de medir a produção, o PIB, como calculado, apresenta viés em sua forma de aferição e, em conseqüência, graves anomalias no que respeita à definição do bem-estar geral, distorcendo sua utilidade.
Uma das distorções é com relação à distribuição da renda. Usa-se, para análise, o PIB per capita, que é o produto da divisão entre o produto total pela população do país. Assim, o Brunei, que é um pequeno país do Pacífico, riquíssimo em petróleo, com um PIB per capita próximo a US$ 53.100, ocupa o quinto lugar no mundo. Mas isso é um indicador do grau de felicidade do seu povo? Não necessariamente. A riqueza daquele país está concentrada nas mãos de um pequeno sultanato, sendo que o Sultão do Brunei, um conhecido playboy internacional, é um dos homens mais ricos do mundo com uma fortuna superior a US$ 20 bilhões, enquanto que a população vive com uma renda muito baixa. Logo, o PIB per capita, sozinho, não pode ser considerado como um bom indicador do bem estar da população.
Outro problema surge do fato de se contabilizar todas as atividades econômicas, indiscriminadamente, incluindo aquelas que são nocivas ao meio ambiente e à população. Vamos exemplificar: quando a indústria tabagista produz cigarros, ela está contribuindo para o crescimento do PIB, tanto quanto os remédios e os serviços que são produzidos para combater os males à saúde, provenientes do hábito de fumar. Da mesma forma, o madeireiro, que destrói a floresta para dela extrair a madeira, também está contribuindo para o aumento do PIB. Não importa se aquela atividade extrativista está degradando o meio ambiente. O mesmo vale para o petróleo, os minérios, etc.. Soma-se o que é extraído e não se subtrai as externalidades negativas: a degradação e a poluição ambiental. Paradoxalmente, os gastos do país para combater os efeitos da poluição e degradação somam-se no cálculo do PIB. Por exemplo: as obras de despoluição da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, vão custar aos cariocas US$ 800 milhões e, da mesma forma, para tornar o Rio Tietê novamente limpo, vai se gastar a cifra de US$ 900 milhões. Tudo isso se soma na formação do PIB, pois movimenta o setor de serviços e, conseqüentemente, gera empregos.
Outra distorção é que não se contabiliza o valor dos recursos naturais que são oferecidos gratuitamente pela natureza, ou seja, não se considera o quanto se está dilapidando do capital natural do país. Não entra no cálculo o valor dos estoques naturais, não apenas a utilização, mas a manutenção dos mesmos. Pelo método tradicional de cálculo do PIB, somam-se os estoques de produtos, da mesma forma que se somam os estoques de matérias primas depois de extraídos da natureza. No entanto, não se contabiliza os que ficam em sua forma natural, como as reservas minerais, por exemplo. Mensura-se o minério extraído, mas não o que fica em baixo da terra, como reserva, para utilização futura.
Da mesma forma, também não é considerado o valor de um ambiente limpo e saudável. Quanto vale, para a humanidade, manter a floresta amazônica em seu estado natural? Não apenas o valor das árvores ou da fauna nela existente, mas também o efeito desse ecossistema na natureza, como a capacidade que as árvores têm de regular o clima. Em recente pesquisa, feita por 33 cientistas de universidades americanas, calculou-se, a grosso modo, que o valor dos dezesseis ecossistemas da terra, incluindo as florestas tropicais, os oceanos, os estuários e as áreas de mangue, vale a cifra de US$ 33 trilhões anuais. “Esses 33 trilhões de dólares anuais podem até não ser muito precisos, mas servem para dar uma dimensão da importância da natureza na atividade humana”, diz o chefe da pesquisa, o professor de economia ecológica da Universidade de Maryland, Robert Costanza. Isso também não é considerado no cálculo do PIB, pela metodologia atual.
Pelas razões acima expostas, além de diversas outras, não consideradas, em um encontro internacional de estatísticos organizados pela OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, realizado em 2004, foram lançadas as bases para um movimento denominado de anti-PIB, que foi encampado por Sarkozy, clamando por uma nova métrica de cálculo da riqueza de uma nação. Sarkozy encomendou então, a um grupo de 27 renomados especialistas, entre eles os ganhadores do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz (Nobel em 2001) e Amartya Sem (Nobel em 1998), além de matemáticos, estatísticos, economista ambientais, entre outros, um estudo para definir uma nova metodologia de cálculo da riqueza de uma nação. Essa comissão, que ficou conhecida como Comissão Stiglitz-Sem, trabalha em três frentes. Uma delas busca uma metodologia que torne as informações mais abrangentes e relevantes para os formuladores de políticas públicas. Outra busca definir medidas de sustentabilidade ambiental, incorporando no cálculo o impacto da atividade econômica sobre o meio ambiente. Finalmente, um grupo trabalha na criação de novos indicadores que permitam avaliar o grau de bem-estar do povo.
Não se deve esperar nada no curto prazo, devido à complexidade do assunto, mas só de assumir que o modelo atual está ultrapassado já é um bom começo.

(*) Waldir Serafim é economista e professor universitário

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Parmenas Alt
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