Até agora acreditávamos que a domesticação do asno, também chamado de burro, jegue, jumento…, era um acontecimento que se repetiu em diferentes lugares e épocas da pré-história.
Fonte: IGN Brasil
Quando pensamos nos animais que acompanham o ser humano desde tempos imemoriais, ajudando-nos nas tarefas agrícolas e diárias, certamente os primeiros candidatos são cavalos. Muitas vezes, os jumentos (Equus africanus asinus) são esquecidos por “preconceito” e estão provavelmente um pouco mais abaixo na lista.
Até agora acreditávamos que a domesticação do asno (também chamado de burro, jegue, jumento…) era um acontecimento que se repetiu em diferentes lugares e épocas da pré-história. No entanto, o maior estudo genético destes animais realizado revelou uma história diferente: a de uma domesticação do burro ocorrida há cerca de 7.000 anos (5000 a.C.) na zona do Chifre da África e onde hoje é o Quênia.
Parentes mais próximos do burro doméstico, os burros selvagens (Equus africanus) ainda hoje vivem nesta região africana – e estão em perigo crítico de extinção. O burro comum é por vezes visto como uma subespécie destes burros africanos ou como uma espécie independente intimamente relacionada com ele (nesse caso o seu nome “científico” seria Equus asinus).
Domesticação do burro aconteceu antes do que era conhecido, segundo pesquisadores franceses (Imagem: Laura Nyhuis/Unsplash)
Segundo a equipe, liderada por pesquisadores franceses do Centro de Antropobiologia e Genômica de Toulouse, o burro foi domesticado neste contexto, tendo depois começado a espalhar-se pelo resto da Eurásia, já como animal doméstico há cerca de 4.500 anos, ou seja, cerca de 2 milênios e meio depois de ter sido domesticado. O estudo genético não só apontou a origem única desta espécie, mas também “adiantou” a data da domesticação em cerca de quatro séculos.
A domesticação do burro teria feito sentido no seu contexto espaçotemporal. Há cerca de 7.000 anos, o ambiente do Saara testemunhou um processo de aridificação que levou à expansão do deserto. Os burros tinham uma vantagem sobre os outros equídeos, a de serem mais resistentes à falta de água, o que poderia tê-los tornado ideais para serem usados como ajuda no transporte ou em trabalhos agrícolas.
Para a sua análise, a equipe internacional liderada pelo cientista Ludovic Orlando analisou amostras de 207 burros modernos de 31 países, bem como restos de esqueletos de outros 31 jegues que viveram nos últimos 4.500 anos. Eles também usaram informações genéticas de outros equídeos para expandir o estudo. O trabalho dos pesquisadores foi publicado na revista Science.
A variedade e as mulas
O estudo de Toulouse também nos oferece algumas histórias curiosas sobre este animal. Por exemplo, a análise genética de restos da era romana encontrados na França conta a história de uma geração de burros gigantes (cerca de até 25 centímetros maiores do que o burro moderno médio).
Os romanos não criaram esses burros colossais para uso direto porque as mulas (cruzamentos entre burro e égua ou burra e cavalo) eram de grande utilidade para eles. Os romanos aproveitaram um animal que combinava parte da robustez dos burros com a capacidade de percorrer longas distâncias mais típica dos cavalos.
Após a queda do Império Romano, as mulas deram lugar novamente aos burros, uma vez que as economias se tornaram mais locais, pelo que não foi necessário utilizá-los para transportar grandes cargas ao longo da popular rede rodoviária romana.
O jumento é talvez o mais difamado dos animais domésticos. Apesar de ter desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento humano ao longo dos últimos quatro milênios, o burro é muitas vezes visto como sinônimo de estupidez ou falta de jeito (seja qual for o escolhido entre os nomes usados.
O preconceito é tão grande que o jegue se tornou uma espécie ameaçada em certos lugares – o portal parceiro Xataka, que tem sedes na Espanha e no México, afirma que o asno está ameaçado em ambos os países.
Da redação do AltNotícias