Em meio a um clima de tensão e de confronto entre governo e oposição, a Comissão de Infra-Estrutura do Senado começou a ouvir às 10h45 desta quarta-feira, 11, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, que acusou a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de favorecer o fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros na venda da Varig. A expectativa da oposição é de que Denise apresente ao Senado documentos e provas que dêem sustentação às denúncias. Já os governistas esperam dar um ponto final ao caso com os documentos fornecidos pelo Planalto. As acusações de Denise foram feitas em entrevista exclusiva ao Estado, em 4 de junho.
A pedido de Denise e do ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi, a reunião foi cercada de forte esquema de segurança do Senado. E também não tem hora para terminar. Para atender à ex-diretora da Anac, o presidente da Comissão de Infra-Estrutura, senador Marconi Perillo (PSDB-GO), pediu à segurança do Senado que acompanhasse o seu desembarque na última terça em Brasília. O tucano conversou também ao telefone com o presidente da TAM, David Barioni, que prometeu segurança no embarque, para evitar o extravio de documentos.
Mesmo não tendo poderes de investigação, a sessão promete os tumultos habituais de CPIs. Denise Abreu foi a primeira a confirmar presença. Já a participação de Zuanazzi foi cercada de mistério. Primeiro, ele comunicou à assessoria de Perillo que não iria. Na última terça, porém, mudou de idéia. Além de proteção pessoal, o ex-dirigente da Anac pediu, por meio de líderes do PT, para não ficar na mesma sala com Denise.
A idéia de Perillo é ouvir individualmente cada convidado. Enquanto o Planalto abastecia seus aliados para defender Dilma das acusações, o PSDB e o DEM preparavam suas indagações. O alvo do debate será a ministra Dilma, mas os oposicionistas querem saber sobre a sucessão da dívida da Varig e a participação ilegal de empresa estrangeira na transação.
Os oposicionistas vão reagir a eventuais tentativas da base aliada de desqualificar Denise ou desviar o foco da audiência. Perillo afirmou que ela terá total liberdade na exposição. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que a oposição não deixará que a sessão se transforme em teatro. “Os fatos falam por si só e são altamente comprometedores para a Casa Civil. Mas não vamos colaborar com nenhuma manobra para desqualificar os depoentes.” Já o líder do DEM, senador José Agripino (RN), espera que Denise apresente provas e circunstâncias do processo de negociação.
Outros depoimentos
O presidente da comissão, senador Marconi Perillo, informou que o juiz Luiz Roberto Ayoub, que fez o processo de recuperação judicial da empresa e o ex-procurador geral da Fazenda Nacional, Manuel Filipe Brandão, enviaram carta à comissão informando que não vão comparecer à reunião alegando compromissos profissionais. Ambos disseram, no entanto, que não têm nada a acrescentar sobre as denuncias divulgadas na imprensa.
O advogado Roberto Teixeira e os sócios brasileiros da VarigLog Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo terão de prestar esclarecimentos ao Senado sobre o caso Varig no próximo dia 18. O requerimento de convite para que eles deponham na Comissão de Infra-Estrutura foi negociado entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).
Teixeira, que é compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é advogado da VarigLog. Segundo a denúncia, sua influência no Palácio do Planalto teria sido decisiva para o êxito da operação de venda da Varig. Em entrevista ao Estado, na semana passada, Denise Abreu acusou Dilma de pressionar a agência a aprovar a composição acionária da VarigLog, o que abriu caminho para a empresa comprar a Varig.
Entre os sócios da VarigLog está o Fundo Matlin Patterson, dos Estados Unidos, representado na operação pelo empresário Lap Chan, hoje brigado com os sócios brasileiros, e de quem Teixeira é advogado. Com a aprovação da compra da VarigLog pelo Matlin, em 2006, a Varig foi comprada, em leilão judicial, por U$ 24 milhões. Em março do ano seguinte, a Varig foi vendida para a Gol Transportes Aéreos, pelo preço de R$ 320 milhões.