Convocada em eventos no Facebook e postagens no YouTube e no Twitter, a greve geral anunciada para o dia 1º de julho não conta com o apoio das principais centrais sindicais do País. A Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) foram enfáticas ao garantir que não há qualquer paralisação programada para a próxima segunda-feira. "(O ato de) 1º de julho não é do movimento sindical, de nenhuma central, não é de nenhum sindicato, não é de nenhuma federação. É fria", alertou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
Segundo o dirigente, os eventos agendados pelas redes sociais estão criando informações desencontradas que não correspondem com a realidade. "O Facebook é apenas uma rede social, qualquer um escreve o que quiser. O trabalhador deve seguir a orientação do seu sindicato", afirmou. "Quem convoca greve geral é sindicato e não eventos do Facebook", afirma a CUT em nota.
"Nem a CUT nem as demais centrais sindicais, legítimas representantes da classe trabalhadora, convocaram greve geral para o dia 1º de julho", diz o texto da central sindical, que acusa "grupos oportunistas" pela criação do evento no Facebook. "A convocação para a suposta greve geral do dia 1º, que surgiu em uma página anônima do Facebook, é mais uma iniciativa de grupos oportunistas, sem compromisso com os/as trabalhadores/as, que querem confundir e gerar insegurança na população. Mais que isso: colocar em risco conquistas que lutamos muito para conseguir, como o direito de livre manifestação", afirma a CUT. "É preciso tomar muito cuidado com falsas notícias que circulam por meio das redes sociais", completa a nota.
Tanto a CUT quanto a Força Sindical farão uma grande mobilização no dia 11 de julho. "O movimento sindical não está nessa brincadeira do dia 1º de julho. Todo o movimento sindical, todas as centrais sindicais do nosso País estão convocando para o dia 11 de julho", disse Juruna. Segundo a CUT, a mobilização do dia 11 de julho não tem caráter de greve geral e prevê manifestações em todo o País por melhorias para a classe trabalhadora.
Criada pelo músico Felipe Chamone, a página no Facebook conclamando para o evento de segunda-feira chegou a ter mais de 200 mil confirmações de presença, mas saiu do ar na última segunda-feira. "Gostaria de comunicar aos meus amigos que 'estranhamente' o evento GREVE GERAL que eu havia criado, onde tinha 1 milhão de confirmados, e mais de 15 milhões de convidados para o próximo dia 01/07 desapareceu do mapa. Isso é democracia? #revoluçãojá", afirmou o músico em sua página.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.