Dinheiro em espécie, apartamento, carro de luxo e até viagens serviram para convencer pelo menos 94 parlamentares a participar do esquema de fraudes e superfaturamento comandado pelo grupo Planam. A sistemática da propina consta do depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, tido como um dos chefes da organização, à Justiça Federal de Mato Grosso.
De acordo com um levantamento divulgado ontem pelo vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado federal Raul Jungmann (PPS/PE), Luiz Antônio revelou que 40 parlamentares receberam a propina em dinheiro vivo, 34 preferiram se valer de contas de assessores, cinco utilizaram contas de parentes e 10 receberam os valores nas próprias contas.
Outros cinco parlamentares foram agraciados com presentes que incluem um flat, um automóvel da marca BMW e viagens. Jungmann apontou que em apenas 11 dos 105 congressistas citados pelo empresário não foi possível estabelecer o tipo de vantagem recebida. “Estes ainda não sabemos em que categoria colocar”, disse o deputado, por telefone, ao Diário.
Segundo ele, Luiz Antônio apresentou documentos que comprovam todos os depósitos em contas próprias, de parentes ou de assessores. São ao todo 54 parlamentares nesta condição.
“A maior parte, contudo, recebeu em dinheiro. Em relação a estes, será preciso um trabalho maior, com testemunhas. É claro que haverá um ou outro que recebeu o dinheiro em espécie e sem ninguém por perto. Neste caso, talvez tenhamos de pedir a quebra de sigilos bancário e fiscal”, apontou.
A comissão ainda não fez o cruzamento entre a lista de Luiz Antônio e a do Ministério Público Federal, divulgada nesta semana com 57 nomes de congressistas possivelmente envolvidos – cinco deles integram a bancada federal de Mato Grosso. O trabalho ficaria a cargo do deputado Carlos Sampaio (PSDB/SP).
Jungmann defende que todos os nomes investigados sejam tornados públicos já na próxima terça-feira (25). Segundo ele, isso encerraria de vez as especulações. “Acho que a comissão deve divulgar o mais rápido possível os nomes de todos os investigados. É uma questão de justiça”, afirmou.
DARCY – Ontem, na Justiça Federal de Mato Grosso, começou o depoimento do principal acusado de arquitetar o esquema. O empresário Darcy Vedoin, pai de Luiz Antônio, falou por cerca de 10 horas ao juiz da segunda vara, Jefferson Schneider. A sessão será retomada hoje às 9 da manhã.
O advogado Otto Medeiros, que responde pela defesa do empresário, assegurou que não existirão novidades em relação ao que já foi dito à CPI dos Sanguessugas, há duas semanas. Também disse que a postura de Vedoin será idêntica à adotada por Luiz Antônio. “A recomendação da defesa é uma só: contar tudo o que se sabe”, esclareceu Medeiros. O depoimento deverá se estender por mais quatro dias.