Mesmo sem festas tradicionais, o feriado pode levar ao aumento de aglomerações e as chances de infecções ficam maiores
O ritmo de transmissão da Ômicron é rápida, como foi possível constatar no aumento significativo de novos infectados no Brasil, no último mês de janeiro. Porém, com a mesma velocidade que atinge o pico, acontece a queda e, consequentemente, o fim da onda.
“Diferente das outras fases, essa onda não tem um platô. Com a velocidade que ela sobe, ela não vai ficar parada por muito tempo, criando novos casos. Rapidamente, esgotam os suscetíveis e começa uma virtual queda. A velocidade de subida e de queda são muito rápidas”, explica Renato Kfouri, infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Essa característica da Ômicron foi verificada na África do Sul e no Reino Unido, os primeiros países a constatarem o crescimento e queda das infecções pela nova cepa.
Os especialistas acreditam que o tempo do pico de infectado até começar a queda varia entre 25 e 45 dias. Mas, o feriado de Carnaval, que será de 26 de fevereiro a 1º de março, pode atrapalhar a melhora do país, conforme alerta a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).
“Apesar de não termos aquelas festas oficiais, têm aglomerações, viagens e os momentos em que as pessoas terão maior interação. Não sabemos o efeito que esse aumento de interações terá. Talvez, tenhamos mais pessoas infectadas e isso vai refletir em internações e óbitos. E seja uma descida mais lenta do que a vista em outros países. “, diz ela.
Melhora nos números da pandemia
O Brasil sente a melhora dos índices da pandemia. De acordo com nota técnica da última terça-feira (15), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a tendência de ocupação de leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) Covid-19 é de queda. Além disso, a média móvel de contaminações está diminuindo há duas semanas.
Porém, a epidemiologista lembra que o pico de mortes ainda não foi atingido. “O pico de óbitos ainda deve acontecer nesta semana, começo da outra. Temos até o começo de março para começar a descer o número de vítimas da Covid. Uma vez que as mortes demoram um pouco mais a cair”, afirma Ethel.
Pandemia desigual
Desde o começo da crise sanitária, a pandemia no Brasil não é regular e tem características próprias em cada uma das cinco regiões do país. A história não seria diferente no caso da Ômicron.
“Quem começou a onda mais cedo, como São Paulo e Rio de Janeiro, a situação já está caindo. Mas tem locais que a onda ainda nem chegou ao ponto máximo. A situação está bem desigual”, pontua Kfouri.
Mas, a queda nos grandes centros também mexe com o panorama brasileiro geral. “Como a Ômicron entrou em tempos diferentes nos estados, nós temos essa defasagem e diferença entre os locais. Mas os grandes centros, principalmente cidades como Rio e São Paulo, onde a Ômicron começou a subida e já estão em desaceleração, tem uma influência importante na curva da pandemia”, explica a epidemiologista.
Vacinação é solução
Mesmo com o pico da Ômicron chegando ao fim, os especialistas insistem que ainda precisaremos lidar com os efeitos do SARS-CoV-2 por um tempo e a vacinação é a melhor forma de prevenção dos casos graves e óbitos. “As vacinas possibilitaram que tivêssemos muito menos mortes pela Ômicron”, ressalta Ethel.
“Não dá para prever qual impacto final dessa variante, quanto tempo vai durar a proteção das terceiras doses ou da infecção. Mas estamos em uma pandemia e, hoje, o nosso cenário é manter todo mundo o mais protegido possível. No período pós-pandêmico, a gente talvez nem vacine, ou só vacine grupos específicos, ou vacine a cada dois anos, ou anualmente. Nós ainda não sabemos”, conclui Renato Kfouri.
R7