Embora o consumo moderado de álcool possa proteger contra doenças cardiológicas, o excesso tem consequências graves, principalmente em comemorações como o Carnaval, onde bebe-se muito e em pouco tempo.
Mais de 5 drinques para homens e 4 para mulheres são suficientes para provocar embriaguez e elevar os níveis de álcool no sangue acima de 0,08%, ilegal em muitos países. Após esta quantidade de álcool, o indivíduo perde o discernimento e se expõe a riscos, como agredir ou ferir alguém, ou ferir-se, a violência doméstica, a acidentes de carro, e também a hipertensão arterial, infarto e acidente vascular cerebral hemorrágico.
Há outros riscos: os jovens frequentemente associam bebidas energéticas ao álcool. Elas podem lhe dar asas, mas a que preço?
Estudo australiano mostrou que o número de atendimentos em emergências hospitalares a usuários de energéticos, praticamente dobrou entre 2007 e 2011, mostrando expressivo aumento no consumo e preocupante descaso ou ignorância sobre seus efeitos colaterais.
O mesmo estudo apontou incidência de 40% de efeitos colaterais como: taquicardia, agitação, agressividade, cefaleia, náusea, vômito, dores no peito, e raramente crises convulsivas, devido à ação cardiovascular e psicoativa da cafeína e da taurina.
A literatura descreve infarto do miocárdio em adolescentes, espasmo de coronárias, dissecção aguda da aorta, fibrilação atrial e parada cardíaca após uso excessivo de energéticos. Estes efeitos não são atribuídos apenas à cafeína, mas a outros componentes, como a taurina que interfere com os canais de sódio nas células cardíacas, podendo levar a arritmias. A L-carnitina e o açúcar, contido em alta quantidade,eleva os níveis de insulina,que aliados à glucoronolactona,provocam disfunção endotelial e aumentam a resistência cerebrovascular, dificultando a circulação cerebral.
Os fabricantes de energéticos afirmam que a quantidade de cafeína em cada bebida não é maior que a cafeína contida em uma xícara de café.Porém estudos mostram que a cafeína contida no café produz bem menos efeitos colaterais. É que os efeitos relatados não são apenas da cafeína, e sim da ação conjunta das várias substâncias contidas nos energéticos. Dada a frequência de efeitos deletérios, alguns países europeus proibiram sua venda a menores de idade.
Importante ressaltar que o uso de energéticos mascara os efeitos do excesso de álcool, fazendo o indivíduo não avaliar bem o estado de embriaguez, podendo beber mais do que gostaria ou poderia. Ou seja, ao juntar dois elementos com efeitos nocivos parecidos para o sistema cardiovascular e para o comportamento, é quase certo que o indivíduo vai sofrer um deles.
Isto sem contar quando entram em cena os estimulantes ilícitos como anfetaminas e ecstasy, potencializando mais efeitos e riscos.
Por isso, caro leitor, lembre-se de que há muitos carnavais pela frente para serem curtidos, vá com moderação no álcool, hidrate-se bem com água ou sucos, alimente-se regularmente e deixe de lado os energéticos. Use e se contagie com a boa e saudável energia que vem de seus companheiros de alegria.
José Almir Adena é médico cardiologista e um dos fundadores do departamento de Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia(SBC). Participou das primeiras diretrizes de cardiogeriatria publicadas pela SBC. Membro da Academia de Medicina de Mato Grosso –Cadeira 7.