quinta-feira, 07/11/2024
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Calamidade nas contas regionais se alastra pelo País, ameaça a retomada da economia e joga a conta para a sociedade

Num estudo enviado &agrave Federa&ccedil&atildeo do Com&eacutercio de Minas Gerais (Fecomercio-MG), uma rede de eletroeletr&ocircnicos detalhou sua estrat&eacutegia para enfrentar o aumento de 20% na carga de tributos estaduais em smartphones: repassou metade aos pre&ccedilos e a outra metade absorveu na margem de lucro. Apesar do esfor&ccedilo, as vendas despencaram 30% desde que o governo mineiro elevou o ICMS e encargos em 2015. Na pr&aacutetica, portanto, a arrecada&ccedil&atildeo caiu. No Rio Grande do Norte, a alta do imposto estadual foi usada como uma das justificativas da Ambev para anunciar o fechamento de uma f&aacutebrica no final do ano passado.

No Rio de Janeiro, petroleiras foram &agrave Justi&ccedila para evitar a cobran&ccedila de uma taxa criada pelo Estado que amea&ccedilava a viabilidade da explora&ccedil&atildeo. Em comum, os casos revelam a escassez nos cofres estaduais e a agonia dos governadores para evitar a fal&ecircncia da m&aacutequina p&uacuteblica em meio &agrave recess&atildeo. A situa&ccedil&atildeo beira o limite. Na ter&ccedila-feira 23, o Rio Grande do Sul tornou-se o segundo membro da federa&ccedil&atildeo a decretar estado de calamidade financeira, seguindo o Rio de Janeiro e levantando a d&uacutevida: qual ser&aacute o pr&oacuteximo?

As eleva&ccedil&otildees de impostos em ao menos 20 Estados geraram impactos negativos no setor privado e, ainda assim, n&atildeo foram suficientes para reverter o caos em algumas gest&otildees. Atrasos de sal&aacuterios a servidores e a precariedade de servi&ccedilos viraram cenas rotineiras em todo o Pa&iacutes. N&atildeo por acaso, os dois Estados em situa&ccedil&atildeo de calamidade enfrentam crises na seguran&ccedila, com aumento na viol&ecircncia e a dificuldade de manter o efetivo nas ruas &ndash faltam desde combust&iacuteveis para as viaturas at&eacute itens b&aacutesicos nas delegacias.

N&atildeo podemos tapar o sol com a peneira: nosso Estado n&atildeo consegue pagar em dia os sal&aacuterios de seus servidores, afirma &agrave DINHEIRO o governador do Rio Grande do Sul, Jos&eacute Ivo Sartori (PMDB). Essa calamidade financeira tamb&eacutem gera a calamidade na seguran&ccedila, que &eacute a maior preocupa&ccedil&atildeo dos ga&uacutechos. No dia seguinte &agrave apresenta&ccedil&atildeo de uma nova proposta de ajuste fiscal no Estado, com redu&ccedil&atildeo de empresas p&uacuteblicas e funda&ccedil&otildees, e a demiss&atildeo de mais de mil servidores, um refor&ccedilo da For&ccedila Nacional desembarcou em Porto Alegre para ajudar na seguran&ccedila.

A crise no Rio Grande do Sul &eacute hist&oacuterica, mas se agravou com a queda das receitas na atual recess&atildeo. As despesas com a folha de sal&aacuterios consomem cerca de 70% das receitas e o crescimento das d&iacutevidas nos &uacuteltimos anos levou o Estado a superar o limite de endividamento permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, de duas vezes a receita l&iacutequida. O decreto de calamidade financeira permite flexibilizar crit&eacuterios da lei e protege os gestores de eventuais inexigibilidades. No Rio de Janeiro, o status garantiu um refor&ccedilo de R$ 3 bilh&otildees do governo federal para a realiza&ccedil&atildeo dos Jogos Ol&iacutempicos.

No Sul, como n&atildeo h&aacute eventos programados, n&atildeo existe a perspectiva de novos aportes. O Estado ser&aacute beneficiado com uma pequena parcela do socorro de R$ 5,3 bilh&otildees anunciado pela Uni&atildeo a partir dos recursos com a multa do programa de repatria&ccedil&atildeo. A proposta final est&aacute prevista para esta semana e deve trazer itens como o limite de gastos pela infla&ccedil&atildeo passada, como o previsto na PEC dos gastos federal, o compromisso para reformar as previd&ecircncias regionais, al&eacutem de contribui&ccedil&otildees adicionais de empresas que se beneficiaram de incentivos que n&atildeo foram avalizados por todos os Estados.

Governadores se reuniram no sentido de construir um pacto de austeridade para a retomada do crescimento, afirma &agrave DINHEIRO o governador do Par&aacute, Sim&atildeo Jatene (PSDB). Esse ajuste &eacute um passo adiante para a retomada do crescimento. Estados j&aacute haviam negociado neste ano uma revis&atildeo nas condi&ccedil&otildees de pagamentos da d&iacutevida com a Uni&atildeo, repetindo uma cena da d&eacutecada de 1990, quando a gest&atildeo de Fernando Henrique Cardoso federalizou as d&iacutevidas dos Estados e interveio nos bancos estaduais, como o Banespa e o Banerj, privatizando-os em seguida. A proposta de revis&atildeo atual est&aacute em tramita&ccedil&atildeo no Congresso e deve incorporar as contrapartidas negociadas no socorro.

O Minist&eacuterio da Fazenda vinha evitando liberar recursos adicionais aos Estados para n&atildeo comprometer ainda mais a situa&ccedil&atildeo fiscal da Uni&atildeo, que deve ter d&eacuteficit de R$ 170,5 bilh&otildees neste ano, e n&atildeo enviar um sinal de que o cofre federal est&aacute &agrave disposi&ccedil&atildeo, como no passado. Cedeu pelo temor das consequ&ecircncias da crescente onda de manifesta&ccedil&otildees e insatisfa&ccedil&atildeo nas regi&otildees mais problem&aacuteticas. Entre os analistas, a percep&ccedil&atildeo &eacute de que as cenas poderiam acabar contaminando ainda mais a confian&ccedila e atrasando a retomada.

N&atildeo d&aacute para pensar que o governo federal est&aacute se ajustando e os Estados, n&atildeo, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Quando a gente discute essa armadilha em que o pa&iacutes caiu, de infla&ccedil&atildeo e recess&atildeo, os Estados tamb&eacutem t&ecircm parcela de culpa e t&ecircm de ajudar. Num movimento estrat&eacutegico, a ideia &eacute ganhar for&ccedila tamb&eacutem na tramita&ccedil&atildeo do ajuste federal, com mais press&atildeo nas bancadas regionais. H&aacute um compromisso de que n&oacutes continuemos lutando pelo ajuste fiscal e apoiando fortemente o governo federal na reforma da Previd&ecircncia, afirma &agrave DINHEIRO o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD) Vamos construir um ajuste fiscal permanente. &Eacute necess&aacuterio tomar essas atitudes.

A situa&ccedil&atildeo dos Estados vem se agravando nos &uacuteltimos anos. Puxado por um forte avan&ccedilo na folha de pagamentos, as despesas subiram num ritmo superior ao da arrecada&ccedil&atildeo. Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo, elevaram o custo com os servidores &ndash entre ativos e inativos &ndash em quase 70% de 2009 a 2015. Esse avan&ccedilo vinha sendo coberto por receitas extraordin&aacuterias e opera&ccedil&otildees de cr&eacutedito &ndash s&oacute o Rio de Janeiro tomou R$ 17,6 bilh&otildees no per&iacuteodo, o equivalente a 36% da receita corrente l&iacutequida do Estado. A torneira do cr&eacutedito se fechou e, ao mesmo tempo, receitas como os royalties do petr&oacuteleo come&ccedilaram a cair.

Na hora que n&atildeo h&aacute mais receitas extraordin&aacuterias, fica claro que as despesas est&atildeo l&aacute em cima e as receitas correntes est&atildeo em baixa, afirma Ana Carla Abr&atildeo, secret&aacuteria da Fazenda de Goi&aacutes. &Eacute uma situa&ccedil&atildeo que se desnudou do dia para a noite, mas efetivamente vem de uma trajet&oacuteria de desequil&iacutebrio de muito tempo. Mais do que o custo da d&iacutevida, o peso da folha de pagamento, principal item da despesa na maior parte dos Estados, somado &agrave queda da receita, &eacute o que tem provocado a falta de disponibilidade para honrar sal&aacuterios e quitar pagamentos a fornecedores.

Nos casos mais graves, &eacute o que explica tamb&eacutem os decretos de calamidade. No Rio Grande do Sul, os sal&aacuterios representam aproximadamente 75% da despesa total e quase metade &eacute destinada ao pagamento de inativos. A Previd&ecircncia &eacute um problema comum a todos. No Rio de Janeiro, a proposta de aumentar a contribui&ccedil&atildeo no pacote de ajuste foi rejeitada em meio &agraves manifesta&ccedil&otildees de servidores. Assim como os dois, Minas Gerais aparece como candidato prov&aacutevel a um pedido de calamidade. Pela metodologia do Tesouro Nacional, o gasto com pessoal em 2015 beirava os 80% e o endividamento se aproximava do limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mas os dados mostram uma quadro de piora generalizada. Quatro Estados hoje t&ecircm classifica&ccedil&atildeo de risco D (RJ, RS, GO e MG) e n&atildeo h&aacute nenhum com a nota A. Em 2013, eram dois classificados como A e nenhum como D. Na quinta-feira 24, o Conselho Monet&aacuterio Nacional (CMN) autorizou 14 Estados com notas B a tomar R$ 7 bilh&otildees em empr&eacutestimos, com garantia do Tesouro Nacional. O dinheiro ser&aacute usado obrigatoriamente para investimentos. Classificado com a nota C&ndash, S&atildeo Paulo n&atildeo ter&aacute acesso ao benef&iacutecio, o que levou o governador Geraldo Alckmin a se reunir com Meirelles na sexta-feira 25.

N&atildeo &eacute poss&iacutevel descartar novos decretos de calamidades tamb&eacutem entre os representantes do Norte e Nordeste, que s&atildeo mais dependentes de transfer&ecircncias federais. Na renegocia&ccedil&atildeo das d&iacutevidas, em setembro, 14 governadores amea&ccedilaram oficializar a medida. Em Estados como o Rio Grande do Norte, o tema voltou &agrave mesa diante da falta de recursos para pagar o 13&ordm sal&aacuterio e de greves de policiais. N&atildeo se trata de um problema restrito aos Estados. Ao menos 18 munic&iacutepios j&aacute decretaram calamidade financeira.

Enquanto as receitas n&atildeo se recuperam, a sa&iacuteda encontrada por governadores e prefeitos &eacute adotar uma agenda de reformas, com privatiza&ccedil&otildees, concess&otildees, al&eacutem de redu&ccedil&atildeo de despesas. Os Estados n&atildeo emitem dinheiro, ent&atildeo nosso ajuste tem de ser mais r&aacutepido do que a PEC dos gastos, afirma o governador do Esp&iacuterito Santo, Paulo Hartung (leia entrevista no link abaixo). Se nada for feito para barrar o apetite insaci&aacutevel dos governantes, a agonia fiscal, como sempre, acabar&aacute no bolso do contribuinte.

Colaborou: Ary Filgueira

Confira a entrevista na &iacutentegra com Paulo Hartung-Isto&eacute

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Parmenas Alt
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