O vírus HIV deverá ter um novo inimigo no Brasil nos próximos anos. Ele vem do mar, mais precisamente de uma espécie de alga (Dictyota pfaffii), que vive no litoral brasileiro.
Pesquisadores do IOC (Instituto Oswaldo Cruz), da UFF (Universidade Federal Fluminense) e da Fundação Ataulpho de Paiva começam no mês que vem a segunda fase de testes de um gel microbicida, feito de uma substância isolada da alga e destinado a impedir a transmissão sexual do parasita.
“Nesta fase pré-clínica, que vai começar, vamos fazer testes em camundongos e em células também vivas do colo do útero” disse à Folha o imunologista Luiz Castello Branco, coordenador do estudo.
Na fase inicial do projeto, feita durante os três últimos anos, a eficiência do medicamento foi de 95%. “Vamos, com certeza, chegar ao produto final com uma eficiência superior a dos 50%”, garante Castello Branco.
Segundo o pesquisador, estudos feitos na África mostram que um produto com uma eficiência de 30% já seria suficiente para baixar em 40% o número de casos no continente mais afetado pela Aids.
A barreira físico-química criada pelo gel, diz Castello Branco, será muito importante em termos de saúde pública. “A mulher poderá usar esse método mesmo sem o homem saber. É normal que maridos promíscuos não queiram usar preservativo durante as relações sexuais com suas mulheres.”
A expectativa da equipe de cientistas é que essa nova fase de testes termine até o fim do ano. Os experimentos em humanos começariam em 2008. “Agora já vamos testar a segurança do produto, e também a dosagem ideal”, explica o pesquisador do IOC.
Incógnitas
Na fase clínica é que são estudados também os efeitos colaterais do medicamento. Outra pergunta ainda sem resposta é qual o período de proteção a ser garantido pelo gel preservativo.
Segundo o coordenador do estudo, esse microbicida é apenas o primeiro de origem nacional que será testado nas fases pré-clínica e clínica. “Já temos um outro, nos mesmos moldes, que vai começar a ser avaliado nos próximos meses. Nossa intenção é criar um centro de teste de microbicidas aqui”, afirmou.
Apesar de o projeto ser único no Brasil, o desenvolvimento de um gel para a prevenção da Aids já vem sendo feito, por mais tempo, em laboratórios localizado nos Estados Unidos e na Europa. “O que estamos desenvolvendo será o primeiro inteiramente nacional.”