Os líderes dos principais países emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China, o chamado Bric – se reúnem nesta terça-feira em Ekaterimburgo (Rússia) em sua primeira cúpula formal, com objetivo de definir melhor a importância destes países na economia mundial. Entre os pontos a serem discutidos está a possível criação de uma moeda de troca internacional para diminuir a dependência do dólar americano, além de maneiras para aumentar a integração tecnológica e comercial entre os países do grupo.
O Brasil já mostrou interesse na polêmica sobre uma alternativa ao dólar como moeda global. Ao voltar de uma reunião preparatória ao encontro, o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Roberto Mangabeira Unger, afirmou que a “preocupação” em relação ao dólar é compartilhada.
No entanto, a discussão está em um estágio inicial e é preciso tomar cuidado para o debate não agravar a volatilidade da divisa frente a crise, diz José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB). “Não é interesse de ninguém um enfraquecimento do dólar agora, o que iria gerar mais instabilidade nos mercados internacionais. Não acredito que seja discutido seriamente, com propostas e encaminhamento, pode ficar nas declarações de intenções”.
De acordo com o professor da USP Simão Davi Silber, praticamente todos os contratos de comércio internacional são registrados com base no valor da moeda americana. Deste modo, uma empresa brasileira que queira importar um equipamento precisa comprar dólares para efetuar a transação – e ter a preocupação de fazer hedge para se proteger da variação cambial. “É um fenômemo que vem desde a 2ª Guerra Mundial. Obviamente não vai mudar da noite para o dia”, disse.
Mas Silber ressalta que não é a primeira vez que a discussão de uma moeda supranacional é colocada em pauta. “Houve propostas no sentido de criar uma moeda internacional, mas isso não vingou. Recentemente, a China propôs moeda uma unidade de troca que seria usada para fazer pagamentos com base nos Direitos Especiais de Saque do FMI. Mas não é para agora”, apontou o economista.
Marcar território
Com cerca de US$ 8,8 trilhões de PIB em 2008, os países do grupo – que ganhou o nome de Bric em uma análise banco de investimentos Goldman Sachs em 2001 – têm visto sua participação na economia aumentar a cada ano. Projeções do Sachs indicam que o grupo pode superar o G7 em menos de duas décadas.
No entanto, a ampliação de seu papel nas decisões internacionais só começou entrou na pauta com a crise financeira, que abalou mais as economias desenvolvidas. “A crise serviu para mostrar que EUA e Europa perderam importância”, indicou Oreiro. No campo político, existe uma visão comum de que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser aberta a uma maior participação de países emergentes e em desenvolvimento. Dentro do Bric, China e Rússia possuem cadeiras permanentes no Conselho de Segurança, enquanto Brasil e Índia buscam uma vaga cativa.
Do mesmo modo, China e Rússia exercem liderança no grupo de emergentes, segundo Oreiro. “Vejo o Brasil em uma espécie de limbo. A China tem papel fundamental e a Rússia, embora tenha economia menor que o Brasil, tem o segundo maior arsenal do mundo. Lula é um líder carismático, mas China e Rússia têm muito mais influência. É mais uma espécie de reunião para marcar posição, dizer aos países desenvolvidos: existimos, somos fortes e vocês não podem tomar decisões sem nós”, disse.
Crise
Mesmo com a valorização nas bolsas, os problemas causados pela crise financeira global também devem tomar a atenção dos líderes emergentes nas quatro horas de reunião em Ekaterimburgo, cidade na região dos Montes Urais, no leste da Rússia. “Análises menos eufóricas mostram que a economia global vai demorar muito para se recuperar. Se olharmos para a situação dos países europeus e EUA, vemos uma recuperação muito mais lenta”, explicou Oreiro.
De acordo com projeções do FMI, apenas Índia e China devem apresentar crescimento econômico neste ano, de 4,5% e 6,5%, respectivamente, conforme o relatório divulgado em abril. O fundo estima queda de 1,3% do PIB brasileiro e de 6% da Rússia. Por sua vez, todos os países do G7 têm perspectiva de forte recuo, com as maiores retrações a serem registradas pelo Japão (6,1%) e Alemanha (5,6%).
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