O Brasil foi um dos dez países no mundo que viram mais progressos em um indicador que mede o desempenho no combate à fome, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira por organizações não-governamentais. Entre 1990 e 2008, o chamado Índice Global da Fome (ou GHI, na sigla em inglês) brasileiro se reduziu quase à metade – 45,6% exatamente -, fazendo o país deixar o grupo de nações com problemas alimentares “graves” para figurar entre aquelas onde esse problema é considerado “baixo”.
Os dados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) em parceria com as organizações German Agro-Action e Concern Worldwide.
O GHI de 2008, calculado para mais de 120 países (não para os industrializados), levou em consideração o número de pessoas com deficiência alimentar entre 2002 e 2004, a taxa de mortalidade infantil de 2006 e a desnutrição infantil para o ano mais recente entre 2001 e 2006.
No mundo, sem contar as imensas diferenças regionais, o índice da fome caiu a uma proporção de 20% entre 1998 e 2008.
Desnutrição infantil
Segundo o IFPRI, a melhora no mundo “foi motivada em grande medida pelo progresso na nutrição infantil”.
“A proporção de crianças abaixo do peso foi o indicador que mais declinou – em 5,9 pontos percentuais – enquanto a mortalidade de crianças abaixo de cinco anos e a proporção de desnutridos também tiveram melhora.”
Entretanto, a organização afirmou que o problema da fome no mundo “permanece sério”, especialmente em países africanos onde conflitos civis exacerbam a crise alimentar.
“As médias globais escondem diferenças dramáticas entre regiões e países”, disse a instituição. Enquanto o GHI caiu 40% na América Latina e 30% no Sudeste Asiático em 20 anos, a queda foi de apenas 11% na África subsaariana no mesmo período.
Além disso, o instituto lembrou que a redução nos indicadores ocorreu em um ambiente de queda gradual do preço dos alimentos. “Entre 1974 e 2005, os preços de alimentos declinaram 75%, segundo o Fundo Monetário Internacional”, disse o relatório.
Agora, o combate à fome terá de superar o desafio do aumento do preço dos alimentos, o que por sua dependerá de decisões futuras em relação aos biocombustíveis, mudança climática e investimentos agrícolas.
Mapa da fome
Em relação ao Brasil, o IFPRI já havia observado uma redução significativa nos índices de fome a partir da década de 1990.
Em uma escala de zero a cem (zero sendo o melhor resultado), o país tinha um GHI de 10,43 em 1981, figurando entre os países com “graves” problemas no campo alimentar.
Durante a “década perdida”, como economistas chamam os turbulentos anos 1980, o índice se reduziu, mas ainda chegava a 8,33 em 1990.
Caiu para 5,43 em 2003 e 4,60 em 2004, ano a partir do qual o Brasil passou a ser classificado como país com problemas alimentares “baixos”.
A redução coloca o Brasil como o nono melhor desempenho entre os dez países que viram seu índice cair nas duas últimas décadas.
A lista é liderada pelo Kuwait (-72,4%), que viu uma grande redução no GHI em função dos “níveis extraordinários” de fome na década de 1990, quando foi invadido pelo vizinho Iraque.
O relatório elogiou as políticas do Peru, o segundo da lista, que em 20 anos saiu de um GHI de 19,5 pontos para 5,6 pontos. O México (redução de 50,8% no GHI) figurou no 5º lugar.
O desempenho brasileiro foi semelhante ao do Vietnã (queda de 47,2% no índice), cujas políticas de redução da pobreza são apontadas como exemplo, e da Tailândia (-45,9%).
Entretanto, ambos os países do Sudeste Asiático continuam entre as nações com problemas alimentares “graves” – o GHI do Vietnã é de 12,6 pontos e o da Tailândia, 9,9 pontos.
Os piores índices estão na República Democrática do Congo (GHI de 42,7 pontos, 67% acima do de 1990), Eritréia (GHI de 39 pontos) e Burundi (GHI 38,3 pontos, ou 17,4% acima de 1990).
U.SEG