Em 2013, o Brasil deve enfrentar uma encruzilhada econômica: ou o país volta a crescer de forma acelerada – no patamar dos 3% ou 4% -, ou até seu status de 'Bric' começará a ser questionado.
Essa é a visão de analistas como Jim O'Neill, do banco Goldman Sachs, que em 2001 criou o acrônimo Bric para designar as nações emergentes que em 2050 igualariam seu peso econômico ao de países do mundo rico – além do Brasil, Rússia, Índia e China.
O'Neill é, na realidade, otimista sobre o potencial de crescimento do Brasil a partir de 2013. Para ele, apesar da decepção com a expansão de apenas 1% do PIB em 2012, no ano que vem o país deve voltar a crescer, alcançando um crescimento de 4% a 5% já em 2014.
A previsão do último relatório Focus divulgado pelo Banco Central – que faz uma média das previsões do mercado – ainda é de uma alta de 3,3% do PIB em 2013 (apesar de tal estimativa ter sido revista para baixo recentemente).
Em entrevista à BBC Brasil, O'Neill enfatizou que em 2012 o PIB brasileiro sofreu com a chamada contribuição real negativa do setor financeiro (menor fluxo de capital no país) – uma consequência de curto prazo da política de queda dos juros que, no médio e longo prazo, deve estimular investimentos.
Para ele, as medidas de estímulo econômico aprovadas pelo governo neste segundo semestre devem ser suficientes para impulsionar o PIB em 2013. Ele faz referência à desoneração de alguns setores e a desvalorização do real, além da queda da taxa básica de juros (Selic) de 12,5%, em julho, para os atuais 7,25%.
"Mas se isso não ocorrer e o crescimento brasileiro voltar a decepcionar, como em 2012, o status do Brasil como um país do Bric de fato será colocado em xeque", disse O'Neill.
Crescimento sustentável
Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Brasil Funding, em Londres, concorda que 2013 será decisivo para a economia brasileira após um ano marcado pelo fim da euforia dos mercados e investidores internacionais em relação ao país.
Em 2010, o entusiasmo com o Brasil foi inflado por um crescimento de 7,5% do PIB. A alta de 2,7% de 2011 foi interpretada por analistas como um ajuste sobre o ano anterior – em que o país teria crescido mais que seu PIB "potencial", de 4%.
"Mas neste final de 2012 é possível que haja até um excesso de pessimismo sobre o Brasil, potencializado pelo crescimento de apenas 1%", diz Colmerauer.
Para o analista, para ajustar as expectativas sobre a economia brasileira é importante que em 2013 o país demonstre que tem condições "de iniciar uma trajetória de crescimento sustentável", em vez de apenas "mais um ciclo curto de expansão" – o que alguns economistas chamam de "voo de galinha".
"O objetivo não pode ser crescer em 2013, mas sim crescer de 2013 a 2023", concorda Marcos Troyjo, diretor do BricLab, centro de estudos sobre o Bric da Universidade de Columbia, nos EUA.
Ameaças
Para Troyjo, entre os fatores externos que podem dificultar a aceleração do crescimento brasileiro está o acirramento da crise internacional – por exemplo, em decorrência de um fracasso dos EUA em evitar o chamado "abismo fiscal" ou da complicação dos problemas da Europa.
"O impacto direto de um acirramento da crise seria limitado, porque o Brasil tem uma economia relativamente fechada. Mas haveria um impacto indireto em função da mudança nas expectativas e confiança dos investidores", opina Troyjo.
Fabiano Bastos, do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), também menciona o risco de um desaquecimento maior que o esperado na China, que poderia reduzir o preço das commodities e afetar a percepção de risco para investimentos em mercados emergentes.
Colmenauer acredita que há um risco de ordem interna, relacionado ao possível aumento da inflação. Para ele, ainda não está claro se os pacotes de estímulo do governo serão suficientes para aumentar a taxa de investimentos na economia.
"Certamente, a queda dos juros deve gerar crescimento no primeiro semestre de 2013 – até porque ela funcionará como um estímulo ao consumo", opina.
"Mas se o investimento não acompanhar essa alta da demanda, poderíamos ter uma elevação da inflação para 7% ou 8%, caso em que seria difícil para o governo manter a política de queda dos juros."
Investimentos
Para evitar uma nova decepção com o PIB, para Colmerauer e Troyjo o governo deveria sinalizar claramente sua intenção de fazer reformas estruturais.
"Desde os anos 1990 criou-se um consenso em torno da responsabilidade fiscal e controle da inflação e isso fez bem para o país", diz Colmerauer.
"Se queremos crescer de forma sustentável está na hora de se criar novos consensos em torno de temas como a simplificação tributária."
Os baixos níveis de investimento foram apontados por muitos analistas como uma das causas do desaquecimento brasileiro nos dois últimos anos.
Mudança de modelo
Entre 2004 e 2010 o país cresceu a uma média de quase 4% ancorado em uma expansão do consumo e gastos do governo, como explica Troyjo.
O setor privado, porém, não investiu o necessário para acompanhar a expansão da demanda – problema em geral atribuído a fatores como os juros altos, a sobrevalorização do real e o chamado Custo Brasil (associado a falta de infra-estrutura, burocracia e etc).
Bastos, porém, não concorda que haja um "esgotamento" do modelo de crescimento baseado na demanda e medidas anticíclicas do governo.
"Para o ano que vem o governo está decidido a aumentar os investimentos das estatais, estados, municípios e União – e conta com uma folga fiscal e boa relação dívida/PIB para isso", diz.
"Certamente para manter o crescimento no médio e longo prazo são necessárias reformas estruturais e mais investimentos em educação, mas as atuais medidas de estímulo devem ser suficientes para que o país volte a crescer mais de 3% em 2013", acredita.
BBC/ÚltSeg