Após sustentar uma postura favorável ao diálogo e uma solução negociada na Síria, considerada branda em comparação a outros países ocidentais, o Brasil decidiu elevar o tom contra a repressão do regime sírio aos protestos por reformas democráticas no país árabe.
A diplomacia brasileira acompanha de perto, nesta terça-feira, a votação de uma resolução crítica ao regime do presidente Bashar al Assad, negociada no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Nova York.
Uma fonte do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) disse à BBC Brasil que o Brasil "tem a preocupação de que o texto seja equilibrado", mas "quer enviar uma mensagem clara de crítica ao uso excessivo da violência e aos efeitos da violência da população civil síria".
O Brasil trabalha para incluir na resolução uma menção condenando o uso de força em uma eventual intervenção da comunidade internacional no país. A diplomacia brasileira também defende que o texto final tenha um tom menos crítico a Damasco, ao contrário do que pretendem os europeus.
A diplomacia brasileira mantém o posicionamento contrário a operações como a liderada pela Otan, que resultou na queda do regime de Muammar Gaddafi, na Líbia.
Desde o início da crise na Síria, o Brasil tem defendido uma solução negociada para a questão. Em agosto, o embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, subsecretário-geral para África e Oriente Médio do Itamaraty, foi até Damasco acompanhado de diplomatas da Índia e da África do Sul.
Após encontro com o presidente Assad, o trio soltou uma nota pedindo o fim da violência no país. O texto foi criticado ao condenar "a violência de todas as partes", em um momento em que organizações internacionais denunciavam a repressão das forças oficiais contra civis desarmados.
No início de outubro, quando ainda fazia parte do Conselho de Segurança da ONU como membro rotativo, o Brasil se absteve na votação de uma resolução contra a Síria.
A medida apoiada pelos Estados Unidos e pelos países europeus acabou sendo vetada por Rússia e China, membros permanentes do conselho.
OUTROS TEMPOS
Segundo a fonte diplomática, a mudança na postura brasileira, agora mais crítica, reflete a escalada de violência na Síria.
O Brasil já havia se manifestado a favor da menção crítica à Síria aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em agosto.
Na época, foi criada uma comissão de observação chefiada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que até o momento não conseguiu autorização para entrar na Síria, segundo a fonte diplomática.
De acordo com a ONU, mais de 3.500 pessoas já morreram na repressão aos protestos que desde o início do ano pedem reformas democráticas no país, controlado há quatro décadas pela família Assad.
A Rússia e os Estados Unidos já alertaram para um possível estado de guerra civil na Síria. Na última semana, supostos militares dissidentes atacaram um quartel do Exército.
A violência também chegou a Damasco, até agora um reduto de apoiadores de Assad, que também têm saído às ruas em grandes manifestações de suporte ao presidente.
LIGA ÁRABE
A fonte do Itamaraty também reconheceu que o Brasil tem se pautado pela posição da Liga Árabe.
De acordo com o diplomata, o governo brasileiro apóia que negociações de conflitos sejam tocadas por organizações multilaterais de caráter regional.
Na última semana, a Liga Árabe se reuniu no Marrocos, onde deu um ultimato à Síria exigindo o fim da violência.
O país também foi suspenso da organização.
Após o encontro, manifestantes pró-Assad atacaram embaixadas de países que fizeram críticas ao regime sírio, como o Marrocos, a Arábia Saudita e até a França, que chegou a retirar seu embaixador de Damasco.
Vários líderes internacionais como o presidente Barack Obama já pediram a Assad que deixe o poder.
Nesta semana foi a vez da Turquia, um antigo aliado de Damasco, elevar o tom das críticas e exigir o fim da violência.
F.COM
BBCBrasil