O presidente da Agência Espacial da Ucrânia, Oleh Uruskyi, está no Brasil para buscar explicações sobre a paralisação das obras na base de Alcântara, no Maranhão, que deveria abrigar um lançador de foguetes construído em parceria entre os dois países. Embora não tenha anunciado oficialmente a desistência, o governo brasileiro praticamente interrompeu sua parte das obras em 2013 e tem ignorado os questionamentos das autoridades ucranianas sobre o tema.
Em tese, a tarefa brasileira no projeto batizado de Cyclone 4 é a mais simples: a parte civil do empreendimento. As obras são tocadas pela Camargo Corrêa e pela Odebrecht. À Ucrânia cabe a construção do foguete e de outros equipamentos necessários à propulsão. A previsão inicial era de fazer o primeiro lançamento de satélite ainda em 2015, o que não ocorrerá por causa do atraso brasileiro. A crise econômica e o envolvimento das empreiteiras na Operação Lava Jato tendem a agravar o problema.
Uruskyi disse ao site de VEJA nesta terça-feira que a incerteza sobre a parte civil da obra é o que vem prejudicando o avanço do programa. "Por enquanto este é o fato determinante, porque tudo o que diz respeito à parte ucraniana está dentro do prazo", afirmou. Cerca de 85% do projeto do foguete está concluído. Há peças que só não foram entregues no Brasil porque não há espaço pronto para recebê-las em Alcântara.
Apesar das solicitações de audiência, Uruskyi não conseguiu ser recebido pelos ministros de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, da Defesa, Jaques Wagner, da Casa Civil, Aloízio Mercadante, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Nem o presidente da Agência Especial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, permaneceu em Brasília para receber o ucraniano. A tarefa coube ao número dois da AEB. A presidente Dilma Rousseff também ignorou uma carta enviada pelo presidente ucraniano, que pedia um posicionamento sobre o assunto, como mostrou VEJA em uma reportagem publicada dois meses atrás.
Autoridades ucranianas se queixam da falta de respostas do governo brasileiro, que ao mesmo tempo deixa vazar para a imprensa a possibilidade de rompimento do contrato. A Ucrânia suspeita que o Brasil tenha cedido à pressão da Rússia para interromper o programa. Os ucranianos se dizem dispostos até a rever as cláusulas do contrato para evitar um prejuízo maior.
Até agora, o projeto custou mais de 2,5 bilhões de reais aos dois países. O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), que é presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Ucrânia, diz que o governo brasileiro não pode iniciar um empreendimento como esse sem planejamento orçamentário para cobrir os gastos. "Se essa for a justificativa para interromper o programa, seria crime de responsabilidade", diz ele.
O acordo entre Brasil e Ucrânia foi assinado em 2003. Por causa de sua proximidade com a linha do Equador, a base de Alcântara é reconhecida por ter uma das melhores localizações do mundo para o lançamento de foguetes.