Aos 507 anos, o Brasil não pode ser considerado um país atrasado. Estabilizou seu crescimento populacional, reduziu bastante a taxa de mortalidade infantil, tem aproximadamente 95% de suas crianças matriculadas no ensino fundamental, mantém a inflação sob controle, possui uma agricultura com alta produtividade e seu Produto Interno Bruto (PIB) está entre os maiores do mundo. Além disso, detém tecnologias complexas, como a da exploração do petróleo em águas profundas, fabrica computadores de ponta, jatos e até satélites.
No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dois satélites de mapeamento já foram produzidos, em parceria com a China: Cbers 1 e 2. Até 2015, mais três satélites serão desenvolvidos pelos dois países. Este fato coloca o Brasil em um seleto grupo que fabrica satélites, do qual fazem parte apenas os Estados Unidos, a União Européia e a China.
Em contrapartida, no entanto, o País tem aproximadamente 53 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, de acordo com dados do estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Inpe).
Além disso, a escalada da criminalidade é altíssima, a carga tributária escorchante, a maioria dos serviços públicos deficientes, a taxa de juros das mais altas do mundo, o déficit previdenciário astronômico, a exploração dos recursos naturais predatória e o crescimento econômico muito aquém do que o que o País deveria produzir.
Em 1974, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia para definir o que seria a distribuição de renda no Brasil: uma mistura entre uma pequena e rica Bélgica e uma imensa e pobre Índia. Mais de 30 anos se passaram, porém a expressão, ainda hoje, é válida para definir a distribuição de riquezas no país.
Segundo dados do IBGE, a diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres é de R$ 2.270.
Para Lúcia Müller, doutora em Antropologia e professora universitária de pós-graduação, o trabalho não é valorizado no Brasil por causa de sua cultura escravocrata.
– A construção da imagem do brasileiro passou pela negação do trabalho. O rico, papel desejado pelo brasileiro, não é visto como trabalhador. O malandro é considerado herói nacional – destaca a professora.
FU