A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve nesta terça-feira, 24, o pior dia dos últimos cinco meses. Depois de computar fortes ganhos no ano, os investidores venderam ações em todo o mundo, tendo como pretexto balanços abaixo do esperado e preocupações com o setor imobiliários nos Estados Unidos.
O Ibovespa – índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bovespa -, que até a véspera acumulava alta de 30% no ano, recuou 3,86%, para 55.794 pontos. No pior momento do dia, o índice chegou a perder 4,95%.
Foi o fechamento mais baixo desde a queda de 6,6% de 27 de fevereiro, quando preocupações com a China deflagraram uma onda de venda de ações.
“O mercado cansou um pouco de subir. O mercado lá fora está feio, mas não para cair 4% aqui. Acho que está todo mundo vendendo por precaução. Não acho que tem notícia para tudo isso não”, avaliou Luiz Gustavo Medina, sócio-diretor da m2 Investimentos.
O índice Dow Jones – que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa de Nova York – caiu 1,6%, o risco-país chegou a subir mais de 10 pontos-básicos e o índice de principais ADRs brasileiros – papéis de empresas brasileiras negociadas no exterior – perdeu 4,55%.
O volume financeiro da bolsa alcançou R$ 5,8 bilhões. Mesmo descontando os R$ 681,2 milhões do leilão de ações da Telemar Norte Leste, o giro ainda ficou bem acima da média diária do ano, de R$ 4,1 bilhões. O dólar comercial encerrou cotado a R$ 1,8610 na ponta de venda das operações, em alta de 1,03% em relação aos últimos negócios de segunda.
Petrobras pesa
As ações da Petrobras despencaram 5,6%, para 54,27 reais, afetada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional e pela decisão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de cobrar R$ 1,305 bilhão da empresa, referentes a um erro no repasse da participação especial do campo de Marlim, na bacia de Campos.
“(O fato é) potencialmente negativo, na medida em que a Petrobras não possui provisão em seu balanço para os valores cobrados pela ANP”, afirmou a analista Mônica Araújo, da corretora Ativa, em relatório.
A analista pondera, no entanto, que a empresa entende que a dívida é retroativa a 1998 e já teria “caducado”.
Dos 59 papéis do Ibovespa, apenas dois subiram: Telemar Norte Leste e Tele Norte Leste, que ganharam fôlego devido ao preço acima do esperado pago no leilão de oferta pública de aquisição de Telemar Norte Leste.
A elevação do preço gerou expectativa, entre analistas, de melhora também do preço no leilão da Tele Norte Leste, previsto para agosto.
As ações da Tele Norte Leste subiram 3,13%, a R$ 41,25, com o terceiro maior giro do Ibovespa, e as da Telemar Norte Leste avançaram 3,6%, para R$ 61,50.
Mercado externo
O que acendeu a luz amarela dos investidores nesta terça-feira foi o anúncio feito pela maior fornecedora de empréstimos hipotecários para residências nos EUA, a Countrywide. A empresa informou queda de 33% no lucro registrado no segundo trimestre, por causa do enfraquecimento da atividade nos Estados Unidos.
O balanço da empresa foi lido pelo mercado como um novo sinal de que os problemas no segmento de crédito hipotecário subprime (crédito imobiliário de risco) estão atingindo outros setores da economia, o mesmo efeito que teve uma notícia publicada na segunda-feira pelo Wall Street Journal.
Segundo a publicação, um grupo de instituições do país – Citigroup, Lehman Brothers e Merrill Lynch – adiou a colocação de US$ 3,1 bilhões em títulos de empréstimo, com a qual seriam captados recursos para a compra alavancada da Allison, unidade de transmissão da General Motors, pelas empresas Carlyle Group e Onex Group.
Uma das grandes preocupações dos mercados era justamente esta: de que a crise no subprime acabasse reduzindo o apetite dos investidores no mercado de empréstimo corporativo, o que teria impacto sobre o desempenho das empresas e, por conseqüência, sobre o desempenho das ações.
Preocupações devem persistir
A virada no humor das bolsas de Nova York pode até não perdurar até o final da semana, uma vez que as expectativas para os balanços das empresas continuam boas, mas a preocupação com o mercado subprime americano deve persistir, na avaliação do economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale.
“O problema do crédito nos EUA é sério e está se revelando mais profundo. É bem provável que tenhamos mais uma rodada de problemas”, afirmou em entrevista ao Broadcast Ao Vivo. Embora os problemas no mercado de crédito dos Estados Unidos tragam volatilidade aos mercados do mundo todo, Megale não vê o risco de contaminação global. “Mas, no mínimo, a aversão a risco vai se acentuar”, afirmou.