Um estudo realizado por cientistas canadenses sugere que a toxina botulínica, principal substância do Botox, se espalha com facilidade pelos músculos além da região onde foi injetada, o que pode provocar paralisia e enfraquecimento dos músculos vizinhos.
Publicado na edição desta semana da revista científica “Journal of Biomechanics”, o estudo foi liderado pelo médico e pesquisador Walter Herzog, da Universidade de Calgary. Ele vinha usando a toxina botulínica como parte de suas pesquisas sobre artrose e a influência do enfraquecimento dos músculos na degeneração das juntas.
A intenção do médico era usar a toxina para paralisar temporariamente os músculos e analisar o impacto nas juntas. Para isso, Herzog injetou a substância em um músculo na perna de um gato e observou que, quatro semanas depois da injeção –período no qual a toxina atinge o efeito máximo–, a substância havia se espalhado pelos músculos vizinhos e os enfraquecido.
“Muitas pessoas acreditam que, quando o Botox é injetado em um músculo, fica apenas naquela região. No entanto, a pesquisa mostra que isso não é assim tão fácil de controlar”, afirma Herzog.
Segundo o médico, apesar dos benefícios do uso do Botox como ferramenta terapêutica, é preciso conhecer melhor o produto.
“Com o aumento no uso da toxina botulínica tipo A nos humanos, é importante entender mais sobre os efeitos funcionais deste produto, que, no final das contas, é uma toxina”, disse o médico.
Alerta
A publicação da pesquisa segue um alerta recente feito pela Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês) –principal órgão de vigilância sanitária nos Estados Unidos– sobre os efeitos colaterais da toxina botulínica.
O alerta se referia à relação da toxina com sintomas graves de botulismo, como dificuldade de deglutição e respiração. Essas reações seriam causadas quando a toxina se espalha além da região onde teria sido aplicada, o que teria provocado, em alguns casos, a paralisia e enfraquecimento dos músculos responsáveis por estas funções –um efeito colateral que, segundo a agência, pode ser fatal.
Na época, a empresa Allergan, produtora do Botox, afirmou à BBC Brasil que o comunicado emitido pelo FDA dizia respeito “principalmente a relatos específicos de eventos adversos relacionados a crianças que sofrem de paralisia cerebral juvenil e são tratadas com Botox”.
Segundo um porta-voz da empresa, os casos de eventos adversos relatados pela FDA “envolvem crianças que estão seriamente comprometidas, muitas vezes por sintomas relacionadas à sua condição de saúde”.
Indicações
A toxina botulínica é usada em tratamentos estéticos e medicinais. Os tipos mais comuns são o Botox (toxina tipo A) e o Myobloc (tipo B), usados em procedimentos estéticos para atenuar as rugas da pele e em diversas condições médicas.
Na medicina, a toxina é utilizada no tratamento de paralisia cerebral, espasticidade muscular, estrabismo e diversas síndromes neurológicas.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoriza o uso da toxina desde 1992 para tratamentos de espasticidade e paralisia cerebral, entre outros diagnósticos.