Ao menos oito pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas pela explosão desses artefatos durante a primeira semana do cessar-fogo, segundo dados do Exército libanês. Quase todas as vítimas eram refugiados que retornavam para suas casas destruídas e que desconheciam o perigo oculto entre os escombros. Boa parte das vítimas que chegam aos hospitais são crianças que tocam ou brincam com os artefatos, que em muitos casos se parecem com uma pequena bola.
Segundo cálculos das Nações Unidas, durante os 34 dias do conflito entre o Exército de Israel e milicianos do Hisbolá, 157 mil bombas foram lançadas contra o Líbano, das quais estima-se que entre 10% e 20% não explodiram. A HRW enviou uma equipe de analistas em explosivos para a região. A organização considera o atual momento o começo de “uma grande crise humanitária” de difícil solução, já que não se sabe a localização exata das milhares de bombas de fragmentação lançadas pelo Exército de Israel no sul do Líbano.
O porta-voz da HRW, Marc Garlasco, disse à agência Efe que foram encontradas muitas bombas em algumas regiões ao sul do rio Litani, especialmente nos arredores da cidade de Nabatiyeh. Segundo a organização, a maioria das bombas encontradas até agora são de fabricação americana, dentre as quais algumas datadas de 1973, semelhantes às utilizadas na Guerra do Vietnã. A HRW pediu a Israel que forneça os mapas com as coordenadas sobre o local onde seus aviões lançaram os explosivos, para que possa localizá-los.
Apesar de os soldados libaneses e da ONU terem distribuído folhetos para a população com fotos das bombas que não explodiram, os hospitais da região continuam a receber uma média de dez vítimas por dia. Hassan Tahiri e Sukna Marahi, duas crianças de 10 e 12 anos que viviam na cidade de Aita al-Shaab, ficaram feridos com a explosão de uma bomba de fragmentação redonda, parecida com uma bola de tênis, dois dias após retornarem à região, uma das mais castigadas pelos bombardeios israelenses.
As crianças foram internadas na unidade de tratamento intensivo do hospital de Jabal Amel de Tiro, e hoje já estavam fora de perigo. Na quinta-feira passada, Hassan chegou ao hospital de Bint Jbeil com múltiplas perfurações no intestino. Devido à falta de material e equipamentos do hospital, o menino teve que ser encaminhado a Tiro para que pudesse ser atendido. Após quase quatro horas de operação, o cirurgião cubano-libanês Abdul Nasser conseguiu restaurar as múltiplas perfurações no intestino, estômago e fígado de Hassan. O menino perdeu parte do intestino delgado e ficou com uma cicatriz no estômago, mas já é capaz de esboçar um pequeno sorriso em seus lábios, feridos pelos estilhaços.
Hassan pensou que a bomba era uma bola e a deu para sua amiga Sukna, dois anos mais velha do que ele. Antes que chegasse a suas mãos, no entanto, a bomba explodiu no ar. Em três ou quatro dias, ambos poderão caminhar novamente entre os edifícios destruídos nas ruas de Aita al-Shaab, onde estão suas famílias, que tiveram suas casas destruídas durante o conflito.
Milicanos mortos
Pelo menos dois milicianos do Hezbollah morreram por disparos de soldados israelenses nesta segunda-feira, no sul do Líbano, anunciou um porta-voz do Exército israelense.
Uma unidade do exército disparou contra os milicianos armados do Hezbollah que tinham uma atitude ameaçadora. Segundo um canal de televisão local, os fatos ocorreram a 4 km da fronteira israelense. Algumas versões falam de três militantes mortos. Um outro canal mencionou que 12 membros do Hezbollah morreram em vários enfrentamentos desde a entrada em vigor da trégua, dia 14 de agosto.
Oficiais das Forças Armadas de Israel, citados hoje pelo jornal “Ha”aretz”, que não os identificou, acreditam que “em meses, e ainda dentro de semanas”, pode explodir um novo conflito com a milícia xiita libanesa Hezbollah. Segundo os militares, o reatamento das hostilidades pode ser causado pelo fato de a Síria e o Irã, aproveitando o cessar-fogo conseguido pelo Conselho de Segurança da ONU, em vigor há uma semana, retomarem a entrega de armas ao Hezbollah.
A resolução 1.701 do Conselho de Segurança da ONU, que permitiu o cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, estabelece um embargo de armas para a milícia libanesa, mas não criou nenhum mecanismo para colocá-lo em prática.
Cessar-fogo violado
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, acusou Israel de violar o cessar-fogo por ocasião de uma operação da Unidade de Reconhecimento do Estado-Maior, no último sábado, que tentava impedir o envio de armas para o Hezbollah em Baalbek, no leste do Líbano.
Israel justificou a operação, que matou três milicianos libaneses e um coronel israelense, afirmando que foi parte de seu direito de autodefesa, pois nem o Exército libanês nem as forças da ONU impedem a passagem de armas para o Hezbollah.
Um dos oficiais citados pelo “Ha”aretz” disse que Israel “se verá forçado” a lançar ataques aéreos contra caminhões que cruzam a fronteira entre Síria e Líbano com armas e foguetes para a milícia do Partido de Deus, que se nega a desarmar-se, segundo o estipulado pela resolução do Conselho de Segurança para o cessar-fogo.
Críticas aos comandantes
As críticas de reservistas das Forças Armadas de Israel seguem multiplicando-se hoje contra seus chefes, em razão dos conflitos ocorridos contra a milícia xiita libanesa Hezbollah, sendo que alguns chegaram a dizer que foram impedidos de conseguir a vitória.
Os protestos acontecem principalmente pela “confusão nas ordens” de seus superiores, pela “indecisão” e mudança freqüente de missões em plena batalha, e até pelos erros no fornecimento de alimentos e água para as tropas, formando o centro da polêmica existente há uma semana, desde a entrada em vigor do cessar-fogo com o Hezbollah.
O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, designou uma comissão de generais da reserva e um representante do setor civil para revisar as queixas e os erros, mas as crescentes denúncias podem obrigar o primeiro-ministro Ehud Olmert a solicitar uma investigação judicial.