CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, reforçou o compromisso do grupo com a agricultura brasileira; leia carta na íntegra
O maior grupo supermercadista da Europa e do Brasil, Carrefour, disse nesta terça-feira (26) que lamenta que sua promessa anterior de manter carne sul-americana fora de suas prateleiras na França tenha sido percebida como tendo “colocado em dúvida sua parceria com a agricultura brasileira”.
O Carrefour, por meio de sua matriz na França, disse em um comunicado divulgado também com versão em francês que compra a carne que vende na França quase exclusivamente de produtores franceses e a carne que vende no Brasil exclusivamente de pecuaristas brasileiros e acrescentou que continuará com essa estratégia.
No documento, assinado pelo CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, o executivo pede desculpas pela “confusão” gerada e reforça o compromisso do grupo com a agricultura brasileira.
Bompard destacou que o Carrefour Brasil, com mais de 130 mil colaboradores, compra quase toda a carne necessária de fornecedores nacionais e reafirmou a parceria de 50 anos com o setor agropecuário local. Ele afirmou que, sob sua presidência, o Carrefour dobrou os investimentos e compras de produtos brasileiros.
“Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira, pedimos desculpas”, escreveu.
A íntegra da carta, divulgada primeiro pelo Neofeed, pode ser lida abaixo:
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro,
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente:
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour
Carrefour x Mercosul
A tensão começou na última quarta-feira (20), quando Bompard anunciou que as lojas francesas do Carrefour deixariam de comprar carne proveniente do Mercosul. A declaração foi feita em meio aos protestos de agricultores franceses contrários ao acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e gerou forte reação no Brasil, incluindo um boicote de frigoríficos brasileiros ao Carrefour.
Segundo a Folha de S. Paulo, atualmente, 23 frigoríficos, incluindo gigantes como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carne para as unidades do Carrefour no Brasil. Segundo fontes do setor, essa decisão já impacta mais de 150 lojas da rede, com consumidores relatando a falta de produtos específicos nas prateleiras.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro elogiou a decisão dos frigoríficos, embora tenha afirmado que não solicitou o boicote. O boicote foi visto como uma resposta à declaração de Bompard, considerada “desproporcional” pelo ministro.