Em seu relatório semanal, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) rebateu na segunda-feira (7) a pressão do governo federal para que os bancos privados reduzam suas taxas de juros.
No texto, que trata das medidas recentes do governo para abrir espaço para queda da Selic, a entidade diz acreditar que a taxa–que serve como base para as demais taxas de juros do país –cairia naturalmente devido à crise na economia mundial.
"Nesse sentido, enquanto não houver indicações de uma recuperação importante da atividade doméstica e/ou seguirmos assistindo a uma piora das expectativas em relação ao cenário externo, o Copom continuará reduzindo a taxa Selic."
As declarações da entidade acontecem uma semana após a presidente Dilma Rousseff, em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, dizer que é "inadmissível que o Brasil continue com um dos juros mais altos do mundo", em um recado claro aos bancos privados, que resistem em reduzir suas taxas mesmo após sucessivos cortes da Selic.
"Alguém já disse que 'você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água'. É possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tanto dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas", diz o relatório da Febraban divulgado ontem.
Segundo a entidade, esse é um paradoxo da conjuntura atual. "A piora nos indicadores [especialmente externos] abre espaço para quedas adicionais dos juros básicos, mas ao mesmo tempo parece impor uma cautela adicional aos agentes econômicos."
Os bancos sinalizam que a redução da Selic pode não beneficiar ou chegar aos consumidores por dois motivos: as instituições podem segurar o volume de empréstimos (devido ao grau de insegurança e crescente de inadimplência) ou consumidor pode não ir atrás desses recursos porque já está endividado.
Os resultados financeiros de alguns bancos demonstram desaceleração do lucro impulsionados pelo aumento do provisionamento com inadimplência (montante que um banco reserva para se proteger do inadimplemento de clientes).
QUEDA DE BRAÇO
Antes da medida anunciada, o governo pressionou os bancos privados a baixarem as taxas de juros de suas operações, o que já havia gerado um desconforto entre o presidente da instituição, Murilo Portugal, e o Planalto, que forçou os bancos a reduzir os lucros ao diminuir os "spread" bancário. O spread (diferença entre o custo dos bancos para captar recursos e o que cobram na ponta, de consumidores e empresas) ficou em 28 pontos percentuais no mês passado, abaixo dos 28,5 pontos percentuais registrados em fevereiro. As mudanças ainda demoram a ser sentidas pelo consumidor.
A queda de braço da Febraban e o governo teve a pressão aumentada pela redução nas linhas de crédito dos bancos públicos, capitaneada pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Dados divulgados no fim de abril pelo Banco Central apontam que a inadimplência dos consumidores ficou em 7,4% em abril. No caso das empresas, o atraso de mais de 90 dias nos pagamentos se manteve em 4,1%.
VOLUME DE CRÉDITO
Segundo afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, no fim de março, a cautela dos bancos é consistente com o patamar de inadimplência relativamente alto observado ao longo de 2011 e que se manteve no primeiro bimestre de 2012.
A relação do crédito com o PIB (Produto Interno Bruto) ficou estável na relação com janeiro, com 48,8% e avançou ante o percentual de 45,1% registrado no mesmo mês de 2011.
Na composição crédito/PIB, os bancos públicos respondem por 21,4% do PIB, ante 19% em igual período de 2011, a das instituições privadas nacionais a 19%, ante 18,4%, e a das estrangeiras a 8,4%, comparativamente a 7,8%, consideradas as mesmas bases de comparação.
F.COM