Os biocombustíveis fizeram com que os preços dos alimentos subissem 75% no mundo todo, segundo um relatório do Banco Mundial citado pelo jornal britânico “The Guardian” que “absolve o álcool brasileiro”.
Os dados desmentem as afirmações do governo americano, que alega que os combustíveis de origem vegetal contribuem com menos de 3% para a falta de alimentos, assinala o jornal.
Segundo algumas fontes, o relatório, concluído em abril, não foi publicado até agora para não complicar a situação do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que atribuiu essa alta fundamentalmente ao crescimento do consumo de alimentos na China e Índia, e para evitar tensões entre a Casa Branca e o Banco Mundial –o presidente do banco é o ex-representante de comércio dos EUA, Robert Zoellick.
O texto explica que “o rápido crescimento da renda nos países em desenvolvimento não se traduziu em um forte aumento do consumo de cereais e não contribuiu de modo importante à alta dos preços”.
O relatório informa que os biocombustíveis derivados da cana-de-açúcar, uma especialidade do Brasil, não tiveram um impacto tão forte como os do milho e de outros produtos.
Até mesmo as secas na Austrália tiveram um pequeno impacto nesse fenômeno, assinala o texto, que atribui o maior impacto à forte demanda por biocombustíveis na Europa e Estados Unidos.
“Sem o aumento da demanda por biocombustíveis, as reservas mundiais de trigo e milho não teriam caído sensivelmente, e os aumentos de preços devidos a outros fatores teriam sido moderados”, afirma o documento.
O relatório confidencial do Banco Mundial se torna conhecido em um momento crítico para as negociações multilaterais sobre a futura política mundial em matéria de combustíveis.
A escassez de alimentos pode ser um dos temas discutidos na próxima cúpula do G8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia), na próxima semana, em Hokkaido (Japão).
Segundo Robert Bailey, analista da fundação Oxfam, “os políticos parecem empenhados em esconder e ignorar as claras provas da importante contribuição dos combustíveis para as recentes altas dos preços dos alimentos”.
O preço da cesta de alimentos examinada no estudo do Banco Mundial subiu 140% entre o ano 2000 e fevereiro deste ano.
Segundo o relatório, o encarecimento da energia e dos adubos contribuiu apenas 15% para esse aumento, enquanto 75% correspondem aos biocombustíveis.
“Esta claro que alguns biocombustíveis têm um enorme impacto no preço dos alimentos”, comentou ontem o ex-principal assessor científico do governo britânico, David King.
“Ao apoiar os biocombustíveis, subvencionamos a alta dos preços dos alimentos em favor da mudança climática”, disse King.