As receitas de prestação de serviço, que incluem as tarifas bancárias, já ultrapassaram os ganhos dos bancos com títulos públicos – remunerados pela taxa básica de juros. Levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating mostra que a participação dos serviços atingiu 19,7% do total de receitas das instituições financeiras, ante 19,1% de títulos e valores mobiliários. Com isso, os serviços transformaram-se na segunda principal fonte de recursos dos bancos, atrás apenas das receitas de crédito, que respondem por 47,6% do total.
Em dezembro de 1995, as tarifas e taxas cobradas pelas instituições representavam apenas 9,8% das receitas totais. Com o fim dos ganhos com a inflação, os bancos tiveram de se adequar à nova realidade da economia brasileira e passaram a cobrar por serviços que antes eram gratuitos. E tiveram grande sucesso.
Só no primeiro semestre deste ano, as receitas de serviços dos dez bancos que apresentaram balanço até ontem somaram R$ 13,8 bilhões, um acréscimo de 22,8% em relação a igual período do ano passado. As receitas com títulos e valores mobiliários ficaram um pouco abaixo, em R$ 13,6 bilhões.
O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, destaca que, em 1994, na estréia do real, as receitas de serviços cobriam, em média, 40% da folha de pagamento dos bancos. Hoje, representam 120%. Dados da EFC Engenheiros Financeiros mostram que até agora o campeão nesse quesito é o Itaú. A relação entre faturamento com serviços e despesas de pessoal é de 192%. Ou seja, o banco paga toda a folha de pagamento e ainda sobra dinheiro.
Para Rodrigues, apesar da redução, as receitas com títulos e valores mobiliários vão continuar tendo participação relevante para os bancos, até porque os juros ainda estão altos e dão boa rentabilidade. Outro motivo é a garantia de liquidez do banco. “”””Para ter uma boa gestão, é ideal aplicar o equivalente entre um patrimônio líquido e meio e dois em títulos públicos e manter a liquidez””””, explica ele.
A mudança na composição das receitas dos bancos tem se mostrado bastante eficiente. Os índices médios de rentabilidade do setor continuam em níveis elevados, em torno de 28%, segundo dados da Austin Rating. Além disso, na expansão do crédito, as instituições financeiras têm apostado em segmentos de maior risco, mas com retorno alto, como as pessoas físicas e as pequenas e médias empresas, destaca o analista da Lopes Filho, João Augusto Salles.
Ele lembra também que os índices de eficiência são positivos. No primeiro semestre, a média ficou em 44,2%. “”””O setor vive um ótimo momento. As taxas de juros ainda são altas, a demanda por crédito é pujante por causa do aquecimento da economia e as receitas de serviços são crescentes””””, avalia Salles.
Resultado disso são os lucros recordes divulgados semestre após semestre. Entre janeiro a junho deste ano, o ganho (dos dez bancos que apresentaram balanço até agora) foi de R$ 10,9 bilhões. Aproximadamente 73% desse valor refere-se ao lucro de Bradesco e Itaú, cujos ganhos foram de R$ 4,007 bilhões e R$ 4,016 bilhões, respectivamente. Os números mostram que os bancos sempre conseguem se adaptar à realidade da economia nacional, com ganhos sempre crescentes.