O time de atores pode ser de primeira linha, mas, se o público não simpatizar com a história e não se identificar com os seus personagens, nada pode salvar uma novela do fracasso. Que o diga Babilônia, que amarga a pior média de audiência de uma novela das nove da Globo e sofre com a indiferença do público à sua trama mal costurada. O folhetim de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, no entanto, não está sozinho: os últimos vinte anos da dramaturgia na televisão brasileira estão recheados de fracassos.
'Babilônia'
Babilônia (2015), a novela assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Bragam, começou com um primeiro capítulo eletrizante, com um assassinato e a eclosão de intrigas entre as duas vilãs, Beatriz (Gloria Pires) e Inês (Adriana Esteves). Mas, do segundo capítulo em diante, a trama desandou. A mocinha Regina (Camila Pitanga), para quem, teoricamente, o público deveria torcer, acabou se revelando uma chata profissional, que fala aos gritos, e as vilãs, que se odiavam e prometiam grandes conflitos, passaram a ser aliadas. Os espectadores perceberam que a trama estava fraca e não deu outra: a audiência despencou, dando a Babilônia os piores índices já registrados por uma novela das nove: ela chegou a marcar menos do que o Jornal Nacional e a novela das sete Alto Astral. Sem um enredo forte e cheio de lições de moral, o folhetim segue de mal com o público, com uma média pouco acima dos 25 pontos no Ibope da Grande São Paulo.
'Em Família'
Anunciada como a última novela de Manoel Carlos, que fez muito sucesso na Globo com folhetins como Por Amor (1997),Laços de Família (2000) e Mulheres Apaixonadas (2003), Em Família (2014) foi uma triste despedida do autor. Com uma trama lenta e personagens pouco carismáticos, como a própria Helena (Julia Lemmertz), a protagonista amargurada, e sua filha, Luiza (Bruna Marquezine), a garota mimada que ficava com o ex-namorado da mãe, a novela se arrastou e, no fim, quase nada aconteceu. Nem a morte de Laerte (Gabriel Braga Nunes), que namorou Helena e depois se casou com Luiza, no último capítulo, agitou o folhetim, que terminou com a pior média de audiência de uma novela das nove até ali, de 29,8 pontos.
'Salve Jorge'
Gloria Perez não fugiu de sua velha fórmula em Salve Jorge (2012). Todos os elementos costumeiros da dramaturgia da autora estavam lá: um país exótico e pouco conhecido dos brasileiros como cenário, um amor impossível e muito merchandising social, tudo temperado por diversos erros de continuidade. O romance de Morena (Nanda Costa) e Theo (Rodrigo Lombardi) pouco emocionou os espectadores, que precisaram se esforçar para acompanhar a trama, principalmente porque, superpopulosa, a novela tinha 84 personagens distribuídos em oito núcleos. Na audiência, Salve Jorge também decepcionou: marcou média de 34,2 pontos, até então a pior de uma novela das nove da Globo.
Vende-se um Véu de Noiva'
Silvio Santos nunca se fez de rogado ao mudar de horário, encurtar a duração ou simplesmente limar da telinha algum programa que não estivesse dando a audiência necessária. Não é porque Íris Abravanel é sua mulher que seria diferente.Vende-se um Véu de Noiva (2009), do qual ela era a autora, fez a emissora amargar o quarto lugar no Ibope durante todo o período de exibição. Por isso, terminou quase dois meses antes do previsto. Baseada na obra homônima de Janete Clair, a história girava em torno do casal Maria Célia (Thaís Pacholek) e Rubens Baronese (Nando Rodrigues). Nem as insistentes chamadas feitas pelo patrão no intervalo comercial impulsionaram o ibope.
Bela, a Feia'
Bela, a Feia (2009) foi anunciada com toda a pompa e circunstância pela Record e a promessa de marcar 20 pontos no Ibope. Começou com 10 e foi caindo cada vez mais, chegando a marcar 5, muito diferente de novelas bem-sucedidas da emissora, como Promessas de Amor e Os Mutantes. A culpa pode não ser do canal, e sim da história da heroína feia e bobinha que se apaixona pelo lindo chefe garanhão e um dia aparece linda e fatal. A fórmula pode, simplesmente, ter cansado o público, que já foi apresentado à original colombiana (Betty, la Fea), exibida no Brasil pelo SBT e pela Rede TV!, e que deu origem ao seriado americano Ugly Betty.
'Negócio da China'
Miguel Falabella já tinha enfrentado alguns fracassos como autor de novelas, com Salsa & Merengue e A Lua me Disse, ambas escritas em parceria com Maria Carmem Barbosa. Mas foi em Negócio da China (2008), a primeira assinada sozinho, que a sua carreira de novelista foi mesmo colocada em xeque. O que era para ser uma história de ação para o público jovem tornou-se uma história sem pé nem cabeça, que misturava máfia chinesa, um pendrive com uma grande fortuna, lutas marciais, romances e a implicância de sogras. Uma das médias de audiência mais baixas das novelas da Globo e a saída precoce de Fábio Assunção, protagonista ao lado de Grazi Massafera que deixou a novela para tratar sua dependência química, acabaram mudando o rumo da história e ajudaram a antecipar o (desejado) fim da trama. O autor disse, inclusive, que só voltaria a escrever novela “se estivesse morrendo de fome”.
Bang Bang'
A Globo inovou ao abordar o tema faroeste em uma novela. Mas foi um fiasco. A trama confusa e as piadas do velho oeste de Bang Bang (2005) não colaram. Os baixíssimos índices de audiência chegaram a afetar, inclusive, o imaculado ibope do Jornal Nacional, que vinha logo em seguida. Nem o autor teve paciência para escrever a história de Ben Silver (Bruno Garcia), que aos 8 anos teve a família morta pelos capangas de Paul Bullock (Mauro Mendonça) e volta para a cidade pronto a vingar o pai e enfrentar seu inimigo, quando se apaixona pela filha dele, Diana (Fernanda Lima). Alegando problemas de saúde, o novelista Mário Prata abandonou o folhetim nas primeiras semanas de exibição, deixando o abacaxi nas mãos de Carlos Lombardi, que não conseguiu fazer nenhum milagre com ele.
'Estrela Guia'
Uma novela não pode ser considerada um fracasso apenas pelos baixos índices de audiência. Estrela Guia (2001) é o melhor exemplo. O ibope, para uma novela das seis, era bom, mas a história da jovem hippie Cristal (Sandy) era de dar sono. Ela nasce em uma comunidade hippie criada por seu pais e é batizada por Tony (Guilherme Fontes), com quem se encontra anos depois e vive uma história de amor, enquanto tenta lidar com “as armadilhas da cidade grande”. Talvez a curiosidade de ver Sandy na telinha – o papel foi escrito especialmente para ela – ou a simples fidelidade de seus fãs tenha feito a novela emplacar, apesar de ter sido uma das mais curtas da história, com apenas 83 capítulos, pouco mais de três meses.
'Zazá'
Nem a presença da única atriz brasileira indicada ao Oscar foi suficiente para fazer Zazá (1997) decolar. Fernanda Montenegro fazia Zazá Dumont, uma mulher apaixonada por aviação e que jurava ser filha de ninguém menos que Santos Dumont. A história fraca se refletiu em audiência pífia. O autor, Lauro César Muniz, não lembrava nem de perto o grande sucesso experimentado com O Salvador da Pátria (1989). Ele assumiu em entrevista, pouco depois do fim da novela, que chegou a perder o controle da história e a vontade de fazer novela depois de Zazá, porque aquilo o "traumatizou".
'Vira-Lata'
Carlos Lombardi já assumiu, em um evento de TV, que Vira-Lata (1996) é uma mancha em seu currículo de novelista. “Às vezes, você descobre que foi problema seu, ou um erro de escalação, ou em geral uma mistura de tudo isso. Foi o que aconteceu com Vira-Lata“, disse o autor de fenômenos como Bebê a Bordo (1988) e Quatro por Quatro (1994). No fracasso em questão, Andréa Beltrão vivia Helena, uma mulher com duas filhas pequenas e um pai criminoso, que ela tentava esconder do marido, o promotor Viana (Murilo Benício). A empatia dos protagonistas com o público foi tão fraca que o autor decidiu virar a história e transformar o então casal coadjuvante – Fidel (Marcello Novaes) e Renata (Carolina Dieckmann) – em principal. Melhorou. Um pouco.
Fonte:Site Veja