Não bastasse a grande dificuldade de disputar uma Olimpíada, os atletas que irão aos jogos de Pequim, em agosto, ainda enfrentarão um adversário invisível – ou quase: a poluição do ar. Com o dobro do índice encontrado no centro de São Paulo em horário de pico, a capital chinesa é uma das piores do mundo para se respirar.
Para Beny Schmidt, professor do Departamento de Patologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e responsável pela saúde dos paratletas que vão para a Olimpíada, “fazer uma competição dessas na China é um ato de irresponsabilidade com a saúde dos esportistas. A população sai às ruas com máscaras para se proteger da poluição. Imagine o mal que isso pode causar a um atleta praticando exercício”, diz o médico, que vê até perigo de morte súbita para os competidores durante provas como triathlon ou maratona.
Por esse motivo, o maratonista etíope bicampeão olímpico (1996 e 2000) e tetracampeão mundial Haile Gebreselassie chegou a anunciar, em março, que não correria os 10 mil metros em Pequim. O atleta, que sofre de asma, depois mudou de idéia e avisou que vai competir.
No Brasil, o maratonista paraolímpico Edson Dantas, de 42 anos, também está preocupado com a saúde durante os jogos. “Apesar de não ter problemas respiratórios, acho que teremos complicações. Temo passar mal por causa da poluição durante a maratona”, conta o bicampeão da São Silvestre (2003 e 2005) e 3º colocado na Maratona de Nova York (2002) na categoria para deficientes físicos.
Líder de uma parceria entre o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o Ministério dos Esportes e a Unifesp, o médico Antonio Carlos da Silva acha o receio dos atletas exagerado. “Existe um risco – o próprio comitê olímpico chinês reconheceu a má qualidade do ar. Mas a China está tomando providências e nós preparamos os atletas para isso”, conta ele, que já avaliou 150 esportistas.
O programa de prevenção abrange a avaliação dos competidores e exercícios de fortalecimento da musculatura do aparelho respiratório. “Além disso, identificamos os atletas que têm asma e pedimos autorização à associação antidopping para o uso de remédios a fim de evitarmos problemas”, conta o especialista. Em nota, o COB divulgou que “confia na qualidade da organização dos jogos olímpicos e está acompanhando os esforços do governo da China para reduzir os níveis de poluição em Pequim”.
F.Uni