domingo, 10/11/2024
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Astronauta brasileiro conta o segredo para realizar sonhos

O garoto adorava aviões e, pela vontade de voar, sonhava em pilotar essa supermáquina. Melhor ainda seria ultrapassar as nuvens e ver do espaço a linda esfera azul chamada Terra. Para alimentar o sonho, ia ao aeroporto da cidade e ficava vendo os pilotos, os aviões. Esse pequeno homem, que morava numa cidade de interior, não tinha dinheiro para pagar um curso de piloto, que custava caro [hoje em torno de R$ 75 mil]. O pai era servente de serviços gerais [também chamado de faxineiro] e a mãe, escriturária da rede ferroviária. Um típico garoto que muitas pessoas julgavam pela aparência e diziam “esse aí não vai dar em nada”.

Começou então a frequentar o aeroporto para ajudar a consertar motor de avião, empurrar planador, o que considerava sua diversão. Tudo nos fins de semana, porque de segunda a sexta tinha que trabalhar, coisa que fazia desde os 14 anos para poder colaborar com as despesas de casa. Ele era aprendiz de eletricista na rede ferroviária durante a tarde, pois pela manhã fazia um curso no Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial]. Ganhava meio salário mínimo. Com o dinheiro, pagava um curso técnico profissionalizante que fazia no período noturno na área de eletrônica.

Vendo que o garoto nunca teria condições de ser um piloto comercial, os pilotos do aeroporto recomendaram a ele entrar para a Força Aérea. Mas, para isso, era preciso passar em um vestibular muito difícil e concorrido. Essa foi a primeira “pedra no caminho” daquele que viria a ser o primeiro e ainda único astronauta brasileiro. Hoje, nove anos depois de ter ido ao espaço, Marcos Pontes ainda sai pelo Brasil contando a sua história de vida e a experiência no espaço. Na última semana, ele esteve em Cuiabá para mostrar aos estudantes de Mato Grosso, presentes na 12ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que com estudo, trabalho, persistência e fazendo mais do que esperam, todos conseguem chegar aonde quiser.

Diante dessa primeira dificuldade para realizar um sonho, o astronauta faz uma reflexão para orientar os jovens e os sonhadores sobre a necessidade de ter foco. Isso porque muitas vezes ele pergunta para alguém o que essa pessoa queria fazer, e ela responde que queria ser isso ou aquilo, mas… O astronauta acredita que as pessoas costumam colocar muito empecilho para realizar seus sonhos. “Quando você pensa no seu sonho, por mais difícil que ele seja, nunca perca seu tempo tentando achar os motivos que fazem daquele sonho algo difícil, e que talvez por isso você não consiga realizá-lo. Use seu tempo para procurar soluções para você chegar ao seu sonho. Seu tempo é precioso para você gastar com coisa inútil. A coisa útil é pensar em como vai chegar lá”, aconselha Pontes.

Naquele momento da adolescência, a coisa útil para ele era pensar em como estudar para o vestibular tendo tantos afazeres e sem dinheiro para pagar cursinho. Então, nos momentos de folga no aeroporto, em meio às graxas, agarrava-se nos livros e tinha um apreço especial pelos de Física. Os funcionários do aeroporto, vendo-o estudando, diziam que nunca iria conseguir, era coisa de gente rica e ele estava só perdendo tempo, pois se outros não haviam conseguido, ele também não chegaria a lugar nenhum. Chateado, ele quiz desistir, mas graças ao conselho da mãe, seguiu em frente: “Eles têm a vida deles, eles fazem o que quiserem. Você tem a sua e consegue ser o que quiser na vida, desde que estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você”, disse a mãe.

No fim, Marcos Pontes passou em segundo lugar no país para a Força Aérea, e após quatro anos de curso, formou-se como oficial aviador, depois foi piloto de caça. Casou, teve filhos e realizou todos os seus sonhos. “E o que você faz depois que realiza seu sonho? Cuidado, porque nessa hora você fica acomodado e aí não vai mais querer sair daquele lugar. É assim que você para de progredir na sua carreira. Portanto, esteja sempre incomodado”, recomenda.

Depois, então, Pontes foi fazer engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – o ITA, um dos mais difíceis do país –. Lá, foi o único aluno de mestrado em Otimização de Trajetórias Orbitais, devido ao sonho de ser astronauta. Fez outro mestrado nos EUA e começou doutorado no mesmo país. “Se a vida está tranquila, está errado. Você tem que estar sempre fazendo uma coisa nova”.

O Brasil entrou no programa da Estação Internacional. A Nasa [National Aeronautics and Space Administration] iria abrir turma nova de astronauta e pediu para que o Brasil fornecesse um recurso humano para compor a tripulação de manutenção da estação. A Nasa fez então concurso público no país. Pontes passou pelos três testes e, em 1998, foi escolhido para ser o astronauta que levaria a bandeira da nação brasileira.

Em 2006, o menino que estudava entre as graxas, subiu na nave espacial da Rússia e decolou para ficar uma semana na Estação Espacial Internacional, que tem um laboratório na órbita da Terra, com 108 m² e dá volta no globo em 90 minutos.

A primeira função de Marcos Pontes a bordo da espaçonave foi a manutenção com a montagem de sistemas e depois servir como “olho” de cientistas e universidades que mandam pesquisa para a estação para ele operar. Quando estava a bordo, havia 80 pesquisas de vários países, sendo oito do Brasil. Entre elas, existiam dois experimentos tecnológicos para desenvolvimento de produto, pela Universidade Federal de Santa Catarina [UFSC], que trabalhava com transferência de calor; quatro científicos de importância internacional; e dois educativos.  

O astronauta reclama que no Brasil se falou muito pouco desses cientistas e desses trabalhos realizados. O único que ganhou visibilidade foi o experimento das crianças de São José dos Campos [SP] sobre a plantação de pé de feijão, e ainda por cima com chacota, ao dizer que houve muito investimento para apenas plantar feijão no espaço. “Por isso, não esperem reconhecimento por trabalharem com ciência e tecnologia. Quem trabalha com ciência e tecnologia sabe bem das dificuldades e que o Brasil ainda não tem vocação de chamar atenção sobre isso”.

O astronauta também estimulou os jovens cuiabanos da Semana Nacional a serem ativos nas mudanças do Brasil, tendo coragem de entrar na política para combater as mazelas e ajudar o país a crescer nas coisas boas. “Você precisa usar a coragem e o conhecimento que você tem, e ir lá se candidatar. Entrar no lugar [dos corruptos] e fazer a coisa certa. Se você quiser um país melhor, é bom você assumir a rédea e fazer o que precisa, da maneira correta”.

O corpo não gosta do espaço

Marcos Pontes relata que o corpo humano sofre muitos choques devido à permanência no espaço. A radiação é dez vezes maior do que se estivesse trabalhando com radiação direta. O corpo no espaço envelhece mais rápido, inclusive uma pesquisa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro trata do assunto. Há alterações cardiovasculares, no sistema imunológico, no sistema hormonal, e quem passa pela experiência precisa ser acompanhado por um médico a vida inteira. Perde densidade óssea e apresenta osteoporose induzida pela microgravidade. “No espaço, seu corpo sofre muito. Com isso, precisa estar com a saúde muito boa”, conclui.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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