Poucos privilegiados tiveram a chance de assistir à reunião dos músicos latinos mais criativos da atualidade. O motivo do escasso número de apresentações que fizeram até agora é simples: cada um dos dez integrantes mora em seu país de origem e só se encontram para ensaiar e exibir suas virtuoses quando convidados para algum evento agendado com bastante antecedência.
Os brasileiros Benjamin Taubkin, Ari Colares e Siba (ex-Mestre Ambrósio), o boliviano Álvaro Montenegro, o venezuelano Aquiles Báez, o argentino Carlos Aguirre, o chileno Christian Galvez, a colombiana Lucia Pulido, o peruano Luis Solar Narciso (Lucho Solar) e, como convidado especial, o professor e compositor José Miguel Wisnik formam o time de peso do América Contemporânea, grupo que completa seu primeiro ano de vida este mês, a contar pela sua primeira apresentação no Sesc Pompéia no ano passado.
Mas a idealização de um grupo que agregasse a mais fina mistura das batidas latinas já vem de tempos. O pianista e compositor Benjamin Taubkin sonhava, há pelo menos 15 anos, reunir talentosos músicos que agregassem sua rica bagagem cultural e a transformasse em uma sonoridade diferente de qualquer outra já escutada anteriormente. Do primeiro encontro do América Contemporânea, ocorrido em setembro do ano passado no projeto Encontro Latino do festival Todos os Cantos do Mundo, eis um belíssimo fruto: o álbum “América Contemporânea – Um Outro Centro”.
O impacto já ocorre logo de cara, na primeira música. “Carmelita, Adiós”, uma canção colombiana de domínio público, é interpretada por Lucia Pulido de forma magistral. A recriação desse canto de origem ritual e feminino é marcada pela percussão de Ari Colares (que também acompanha o grupo Palavra Cantada e Monica Salmaso).
A triste e delicada ciranda “Vale do Jucá”, do pernambucano Siba, (com Lucia Pulido no backing vocal), contrapõe-se com a batucada no cajón de Lucho Solar em Cajoneando, que ganha ainda mais cores ao vivo – o peruano esbanja uma aula-solo de sapateado.