Os governos do mundo todo arrecadam em média 500 vezes mais com os impostos sobre o cigarro do que gastam com ações antitabagistas, afirma um relatório sobre a epidemia global do tabaco divulgado nesta quinta-feira pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
O levantamento, realizado em 179 países, indica que a receita com os impostos sobre o fumo chega a ser 4 mil vezes maior do que os gastos com o controle do consumo nos países de renda média e 9 mil vezes maior nas nações de baixa renda.
A proporção é menor nos países mais ricos, onde os impostos sobre o cigarro totalizam uma quantia 340 vezes maior do que os gastos em ações contra o fumo.
Segundo a OMS, a principal medida para reduzir o consumo de tabaco seria aumentar os impostos sobre o produto. “Aumentar o preço do tabaco ao elevar os impostos é o modo mais eficaz de diminuir o consumo e incentivar as pessoas a deixar de fumar”, diz o documento.
O relatório ressalta que um aumento de 70% no preço do tabaco poderia prevenir até 25% das mortes relacionadas ao fumo.
Estratégias
Além do aumento de impostos, o relatório sugere ainda um pacote de estratégias que poderiam ser adotadas pelos governos para controlar o consumo de tabaco.
Intitulado MPOWER, o pacote tem como principais medidas monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção, proteger a população da fumaça do tabaco, oferecer ajuda para aqueles que decidem parar de fumar, alertar sobre os perigos do tabaco, reforçar as proibições de anúncios e propagandas e, finalmente, aumentar os impostos ao tabaco.
Segundo a OMS, as medidas são simples e podem ser adotadas por todos os países. “Embora os esforços para combater o tabaco estejam ganhando força, todos os países precisam fazer mais”, afirma Margareth Chan, diretora-geral da OMS.
“As estratégias que oferecemos estão ao alcance de todos, pobres ou ricos, e, usadas como um pacote, oferecem a melhor chance para reverter a epidemia do tabaco”, acrescenta Chan.
Epidemia
O relatório também descreve os esforços e as políticas contra o tabagismo em todos os países membros da ONU (Organização das Nações Unidas).
Segundo o levantamento, atualmente nenhum país cumpre com todas as medidas especificadas no pacote sugerido pela OMS, tampouco as estipuladas pelo Tratato Internacional do Tabaco, de 2005.
O documento ressalta ainda que apenas 5% da população mundial vive em países que respeitam pelo menos uma das estratégias sugeridas pela organização. O relatório aponta também uma mudança no padrão da epidemia do tabaco.
Segundo a OMS, a epidemia vai atingir mais os países em desenvolvimento, e as estimativas apontam que, de um total de 175 milhões de mortes relacionadas ao fumo previstas até 2030, 80% devem atingir pessoas em países em desenvolvimento.
De acordo com a OMS, as empresas tabagistas têm como principal alvo os jovens destes países.
Brasil
Os esforços do governo brasileiro para combater o consumo de tabaco são destacados pelo documento. Entre as principais iniciativas, a OMS ressalta as fotos impressas nas embalagens de cigarro como “uma importante fonte de informação para fumantes jovens e para analfabetos”.
O documento ainda afirma que o governo começou a financiar os tratamentos para os que decidem parar de fumar em 2004.
Segundo o relatório, entre 2004 e 2006, 22 dos 27 Estados brasileiros ajudaram 50 mil pessoas a largar o vício – das quais 45% usaram medicamentos e 40% continuaram sem fumar depois de quatro semanas.
Apesar disso, diz a OMS, o preço do maço de cigarro no Brasil é o segundo menor das Américas, acima apenas do preço cobrado no Paraguai.
BBC Brasil