Um vídeo em que terroristas do Estado Islâmico (EI) afirmam terem tomado posse de armas que os Estados Unidos destinaram aos curdos evidencia a dificuldade em assegurar que esse tipo de carregamento não caia em mãos erradas. Na segunda-feira, o governo americano anunciou o envio de armamentos para ajudar no combate aos jihadistas na cidade de Kobani, na fronteira com a Turquia. Na terça, o EI divulgou imagens em que um terrorista com o rosto coberto examina o conteúdo de uma caixa, ainda acoplada a um paraquedas, contendo diversas embalagens, incluindo granadas de mão e munições.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, reconheceu que o lote mostrado nas imagens é semelhante aos que foram lançados pela aviação americana e que é "possível" que o vídeo seja autêntico, mas ressaltou que o departamento de Defesa ainda está analisando o caso. O Comando Central das Forças Armadas havia informado antes que uma das caixas não tinha atingido o destino certo e que, por causa disso, um caça americano voou até Kobani para destruir o carregamento e impedir "que ele caísse nas mãos dos inimigos". O Observatório Sírio de Direitos Humanos, no entanto, indicou que foram dois os lotes que caíram no território do EI e que apenas um deles teria sido destruído antes de chegar às mãos dos terroristas.
A falha na entrega do armamento foi mais um motivo de embaraço do que uma grande perda estratégica. Os extremistas já possuem milhões de dólares em equipamentos americanos, que foram capturados durante a retirada de tropas iraquianas em combates pelo território deste país, em junho. O incidente evidencia, no entanto, a dificuldade de se atingir o alvo desejado, mesmo com o uso de equipamentos de GPS. No Iraque, quando os EUA lançaram ajuda humanitária para refugiados em montanhas no norte do Iraque em agosto, cerca de 20% dos carregamentos acabaram parando no lugar errado, disseram oficiais do Pentágono na época.
O lançamento de armas, munição, medicamentos e outros equipamentos aos curdos em Kobani teve início na noite de domingo. A decisão foi tomada, em parte, porque a Turquia não permitiu a passagem de combatentes curdos por sua fronteira. O chanceler turco Mevlut Cavusoglu disse que o país facilitaria a passagem de soldados peshmerga, mas não deu detalhes de como a operação seria viabilizada. A recusa da Turquia em intervir na batalha contra o Estado Islâmico, que tomou grandes áreas da Síria e do Iraque, tem levado a uma crescente frustração nos Estados Unidos. Essa atitude também provocou manifestações no sudeste da Turquia de curdos furiosos com a demora em ajudar Kobani. O governo turco considera os separatistas curdos terroristas.
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