Empresas de bebidas, de armas e munições e de tabaco ajudaram a eleger, com doações financeiras que realizaram nas últimas eleições, 65 deputados federais (12% do Congresso Nacional) dos principais partidos e 30 deputados estaduais.
Juntas, as empresas desses setores –sensíveis a eventuais mudanças na legislação acerca de restrição de uso e consumo– injetaram R$ 13 milhões nas campanhas. A maior parte veio das indústrias de cerveja e refrigerantes, como as concorrentes AmBev (Companhia de Bebidas das Américas) e Primo Schincariol, que fizeram contribuições de R$ 10,6 milhões e elegeram 41 parlamentares.
Na Câmara, o maior beneficiário do setor foi o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), com R$ 400 mil.
A Ambev, maior indústria de bebidas da América Latina, com receita líquida de R$ 15,9 bilhões e dona de marcas como Brahma, Skol e Antarctica, destinou R$ 5,1 milhões, principalmente por meio da empresa controlada Fratelli Vita (R$ 4,8 milhões).
As cervejarias também ajudaram na vitória de seis governadores de Estado: José Serra (PSDB-SP), Aécio Neves (PSDB-MG), Marcelo Déda (PT-SE), José Roberto Arruda (PFL-DF), Teotônio Vilela (PSDB-AL) e Eduardo Braga (PMDB-AM).
As doações das indústrias de armamentos vieram da Taurus, sediada no Rio Grande do Sul, e da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), com fábrica no interior de São Paulo. Elas beneficiaram candidatos de vários partidos, como Miguel Rossetto (PT-RS), ministro do Desenvolvimento Agrário do governo Lula, que recebeu R$ 100 mil da CBC para sua campanha derrotada ao Senado.
As doações das indústrias de tabaco vieram de empresas multinacionais com sede no Rio Grande do Sul, maior produtor de fumo do país.
Campeões
As planilhas das prestações de conta que os partidos devem preencher e entregar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não prevêem a indicação do setor da economia das empresas ou das pessoa doadoras.
Levantamento feito pela Folha indicou um total de pelo menos R$ 58,6 milhões em doações feitas por empreiteiras, R$ 31,9 milhões provenientes de siderúrgicas e mineradoras, R$ 27,8 milhões de bancos e R$ 11,6 milhões de indústrias de celulose e papel.
O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci (PT-SP) foi o candidato à Câmara dos Deputados que mais recebeu dos bancos, com R$ 250 mil (Unibanco e Itaú). Em sua gestão (2003-2006), o setor bateu recordes históricos de lucro.
Outro ex-ministro de Lula, Ciro Gomes (PSB-CE) foi o campeão entre as siderúrgicas, com R$ 800 mil. Ele foi ministro da Integração Nacional.
Entre os candidatos a deputado apoiados por empreiteiras, a deputada federal Thelma Oliveira (PSDB-MT), viúva do ex-governador Dante de Oliveira, foi a que mais recebeu recursos, com R$ 660 mil da Amper Construções Elétricas Ltda., que pertence ao irmão de Dante, Armando.
A coletora de lixo Leão Leão Ltda., investigada pelo Ministério Público de São Paulo por supostas irregularidades em contratos públicos, contribuiu com R$ 100 mil para Duarte Nogueira (PSDB-SP), ex-secretário de Estado da Agricultura.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) colaborou com R$ 400 mil. Ajudou a eleger senador, com R$ 50 mil, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO).
FSP