Para os políticos árabes que se beneficiaram da conduta dos EUA em alguns países, incluindo Iraque e Líbano, a permanência dos republicanos no poder pode ser uma coisa boa.
Mas os muitos críticos de Bush no mundo árabe se preocupam com a possibilidade de McCain continuar com as atuais políticas dos EUA, que eles dizem ter desencadeado o caos no Iraque e proporcionado apoio inflexível a Israel no conflito com os palestinos.
McCain quer manter tropas no Iraque até que o país esteja mais estável, posição diversa dos seus rivais democratas, que defendem a retirada das tropas de um país arruinado pela violência desde que as forças lideradas pelos EUA derrubaram o presidente iraquiano, Saddam Hussein, cinco anos atrás.
Durante um giro pelo Oriente Médio este mês, as declarações de McCain em Israel também fizeram soar o alarme entre os árabes que há muito tempo criticam Washington por não exercer pressão suficiente sobre o Estado judeu para que se retire de terras árabes ocupadas.
“A primeira vez que McCain começou a chamar a atenção foi quando visitou Israel e se comprometeu a reconhecer Jerusalém (como capital israelense) e a não pressionar Israel”, disse à Reuters Mohamed al-Sayed Said, do Ahram Centre for Political and Strategic Studies, no Cairo.
“Isto confirma a inclinação natural dos árabes a pensar que, qualquer que seja o próximo governo (dos EUA), será uma ferramenta dos israelenses.”
Mas enquanto os árabes vêem pouca diferença entre os candidatos quando se trata do conflito árabe-israelense — com todos repetindo seu compromisso com os interesses e a segurança de Israel — o Iraque é visto como uma história diferente.
Iraque
A invasão do Iraque liderada pelos EUA, em 2003 — que teve a oposição de aliados norte-americanos, como o Egito –, resultou em poder para facções xiitas, como o Conselho Supremo Islâmico Iraquiano, grupo com antigos laços com o Irã, país predominantemente xiita.
Jalal al-Din al-Sagheer, um clérigo e membro destacado do Conselho, disse que a presidência de McCain seria uma coisa boa. “Acredito que será algo positivo se o candidato republicano vencer a eleição. Nós sabemos como os republicanos pensam.”
“McCain está bem próximo do governo Bush e ambos adotam a mesma política”, afirmou o clérigo.
Em declarações durante uma visita à Jordânia, aliado próximo dos EUA, McCain disse que a retirada prematura do Iraque iria favorecer o Irã e os militantes islâmicos sunitas da Al Qaeda — ambos inimigos dos EUA — e pôr em perigo a região.
Mas Mudhafer al-Aani, membro proeminente do maior bloco sunita no Parlamento iraquiano, fez um chamado pela correção dos “grandes erros do governo” norte-americano.
“As declarações de McCain sobre a presença dos EUA no Iraque representam a mesma política do atual presidente”, afirmou.
Um analista político iraniano, que não quis identificar-se, disse que embora as autoridades do Irã estejam publicamente mantendo distância da eleição presidencial dos EUA, sua preferência parece ser pelo candidato democrata Barack Obama.
“Imagino que eles olham para McCain como sendo um certo tipo de continuidade da atual situação. Não posso dizer com certeza, mas considerando a posição deles, imagino que não vão gostar da repetição do governo republicano”, disse.
“(McCain) confirmou a intenção dos americanos de manter tropas no Iraque. Isto é algo que vai contra o desejo do Irã.
Eles querem que os americanos partam e a questão seja resolvida regionalmente, com o Irã assumindo um papel importante”, afirmou o analista.
O comentarista sírio Thabet Salem disse que a posição pró-Israel de McCain e seus comentários contra a Síria, bem como seu compromisso de manter as tropas dos EUA no Iraque poderiam conduzir o Oriente Médio a maior instabilidade.
“McCain exibiu pouca disposição de se afastar da política externa dos neoconservadores, as quais estimulam a disseminação do fundamentalismo e do terrorismo”, disse ele.
(Reportagem de Waleed Ibrahim em Bagdá, Firouz Sedarat em Dubai, Will Rasmussen no Cairo, Edmund Blair em Teerã, Khaled Yacoub Oweis em Damasco)
U.SEG