anco Industrial e Comercial S/A (BicBanco), que segundo apuração feita pela Polícia Federal na Operação Ararath teria sido usado para concessão de mais de R$ 65 milhões em empréstimos fraudulentos para financiar campanhas políticas no Mato Grosso, foi vendido para o China Construction Bank no final do ano passado. A instituição chinesa, por sua vez, já teve dirigentes executados por envolvimento em crimes financeiros e foi classificada como a quarta instituição de capital aberto mais nebulosa do mundo em 2012.
O China Construction Bank é um dos maiores bancos de capital aberto do mundo e, no dia 31 de outubro de 2013, assinou um contrato de compra e venda de ações com os acionistas do BicBanco, estimado em R$ 1,6 bilhão, que corresponde a 72% do capital social da instituição brasileira. Entretanto, o negócio ainda está em andamento, porque necessita de aprovação do Banco Central, das autoridades regulatórias chinesas e das autoridades bancárias das Ilhas Cayman, além da publicação de um decreto presidencial no Brasil.
Apesar de o banco brasileiro estar envolvido em um recente escândalo político-financeiro, o comprador chinês também teve seus problemas no país de origem. Em 2004, três executivos foram condenados à morte e executados por desviarem aproximadamente US$ 5 milhões usando documentos falsos, na província de Henan, no centro da China. Na época o banco lutava contra as dívidas, comuns a bancos estatais chineses, e o governo injetava bilhões de dólares para prepará-los para a entrada no mercado de ações.
Mas, além dos escândalos, o banco chinês também foi classificado como um dos menos transparentes do mundo. Ele aparece na quarta pior colocação do ranking elaborado pela ONG Transparency Internacional, uma coalisão internacional que luta contra a corrupção. A análise feita, em 2012, avaliou programas anticorrupção, pagamentos de impostos e estruturas corporativas.
Empréstimos fraudulentos para políticos
No Brasil, o BicBanco era usado para crimes financeiros e de lavagem e dinheiro, segundo informações contidas em despachos sigilosos da Operação Ararath, deflagrada na terça-feira, ao qual o Terra teve acesso. O esquema funcionava por meio de empréstimos fraudulentos realizados pelo BicBanco para a empresas como a Comercial Amazônia Petróleo LTDA, sendo que o dinheiro era repassado para os verdadeiros beneficiários para o pagamento de pesquisas de intenção de voto, convenções partidárias e campanhas eleitorais.
A Comercial Amazônia de Petróleo LTDA recebia o dinheiro, mesmo sem qualquer garantia para o banco. Os valores chegam a R$ 65 milhões. As investigações apontam envolvimento do senador Blairo Maggi, na época em que foi governador do Mato Grosso, que teria conhecimento dos empréstimos, que eram feitos por Eder de Moraes Dias, e também com o conhecimento do atual chefe do executivo mato-grossense, Silval Barbosa, que chegou a ser detido nesta semana após a polícia encontrar uma arma em sua casa com registro vencido.
Os empréstimos milionários eram liberados pela instituição financeira com a então presidente do BicBanco Jose Bezerra de Menezes, conhecido como Binho. De acordo com o inquérito, ele teria ordenado ao superintendente do banco no Mato Grosso, Luiz Carlos Cuzziol, que atendesse todas as necessidades financeiras de Eder Moraes, que atuava em nome dos verdadeiros beneficiários.
Cuzziol teria emprestado ainda mais R$ 3 milhões para a Comercial Amazônia de Petróleo para beneficiar o deputado estadual José Geraldo Riva, um dos parlamentares mais processados do Brasil, que responde a mais de uma centena de ações civis e criminais na Justiça. Ele é acusado também de desviar R$ 65 milhões da Assembleia Legislativa do Mato Grosso, entre 1999 e 2003. O dinheiro emprestado pelo banco teria sido transferido para empresas indicadas pelo deputado.
No despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli que autorizou as prisões preventivas cumpridas nesta semana, é citado que as operações financeiras clandestinas do BicBanco aconteciam sem autorização do Banco Central. Em um dos empréstimos Maggi teria levantado R$ 4 milhões para comprar uma vaga e assegurar nomes de confiança no Tribunal de Contas do Estado.
Nenhum dos envolvidos no esquema deu qualquer declaração à imprensa. O Terra entrou em contato com o BicBanco, mas não foi enviada uma resposta até a publicação desta matéria.
*Colaborou Keka Werneck
Terra