Por todo o mundo, humoristas caracterizaram os profetas do Apocalipse como sujeitos vestindo túnicas e portando cartazes com previsões catastróficas. Mas, na realidade, quem lida com o campo das possibilidades sombrias são cientistas munidos de dados e tecnologia.
E, se não garantem que o mundo vai acabar, não hesitam em dizer que o homem, ou pelo menos a civilização, corre esse risco. Um deles é o britânico James Lovelock, que prevê a morte de 6 bilhões de pessoas até 2100 e um mundo insuportável de se viver já em 2040. Tudo por conta do aquecimento global.
E ele não é um maluco qualquer: Lovelock, de 88 anos, foi um dos pioneiros na luta pela preservação do meio ambiente, ainda nos anos 70, e criou a teoria de Gaia, que vê o mundo como um enorme organismo vivo. Segundo ele, os efeitos do aquecimento do planeta não podem mais ser evitados, mesmo que se diminua drasticamente a emissão dos gases apontados como os responsáveis pelo fenômeno, e que a energia nuclear seja amplamente adotada, como defende.
Isso levará a diversas mudanças, como o aumento do nível dos oceanos e a maior ocorrência de períodos de calor como o verão europeu de 2003, que matou cerca de 30 mil pessoas. Essas mudanças, por sua vez, terão impactos políticos e econômicos, aumentando a possibilidade de guerras, por exemplo, pelo controle da fontes essenciais à sobrevivência humana. “Quando diminuir a importância do petróleo, haverá disputas por outros recursos, como a água”, disse à Folha Universal Jeffrey Mazo, espe-cialista do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, dos Estados Unidos. Soma-se a isso o risco cada vez maior do desenvolvimento de novas epidemias à medida que a densidade populacional aumenta e o homem toma contato com regiões antes desconhecidas, como mostrou estudo publicado na revista científica “Nature” (Veja infográfico nas páginas 10 e 11).
“O que corre mais risco é a civilização; os seres humanos são resistentes o suficiente para que sobrevivam, e Gaia é ainda mais resistente”, escreveu ele no livro “A Vingança de Gaia”.
Lovelock recomenda aos governos que comecem a preparar uma “retirada sustentável” das zonas de maior risco enquanto a humanidade ainda tem tempo e energia.
Mas nem todos concordam com ele. O governo brasileiro, por exemplo, considera a visão alarmista, e crê que ainda é possível consertar o estrago feito. Para isso, aposta na redução do uso de petróleo e em fontes renováveis como as hidrelétricas para a produção de energia. Os projetos para se adaptar às mudanças, e não apenas tentar evitá-las, ganharam força apenas recentemente. “Durante muito tempo se cuidou muito mais dos planos de redução dos gases de efeito estufa”, diz Adriano Santhiago de Oliveira, analista da Secretaria de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente. Entre as iniciativas nacionais estão estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o impacto do aquecimento global na agricultura e a possível transferência de algumas culturas pra outras regiões.Para outros especialistas, a luta pela permanência de nossa sociedade no planeta passa por um conjunto amplo de medidas. “A mudança climática é um dos fatores complicadores, como são as guerras e a pobreza. A pessoa não pensa em cuidar de um rio se não tem o que comer”, pondera o geógrafo Francisco Mendonça, pós-doutor pela Universidade de Paris e professor da Universidade Federal do Paraná, que há 20 anos estuda as mudanças climáticas.Previsões sombrias
Outras teorias científicas para o fim do mundo ou da humanidade
Por Fernando Gazzaneo
• 2014
Com impacto equivalente à explosão de 20 milhões de bombas atômicas, um asteróide pode colidir com o planeta em março de 2014. Segundo o Centro de Informação Britânico Sobre Objetos Próximos da Terra, o asteróide se aproxima a uma velocidade de 115 mil km/h. Mas a chance de colisão é de uma em 909 mil.
• 2014
Suposta descoberta da Nasa, a chamada “Nuvem do Caos” seria uma massa de poeira de cerca de 16 milhões de quilômetros de largura expelida por um buraco negro situado a 28 mil anos-luz da Terra. Ela teria este nome porque dissolve tudo o que encontra em seu caminho, como cometas, asteróides, planetas e estrelas inteiras. Sua chegada, estimada para julho de 2014, poderia acabar com nosso sistema solar.
• 2102
Outro asteróide, de 500 metros de comprimento e um bilhão de toneladas, pode colidir com a Terra em maio de 2102. Segundo a Nasa, a chance é de uma em mil. Caso ocorra, o asteróide poderá liberar 10 mil megatons de energia, o equivalente à explosão de todas as
armas nucleares existentes no planeta.
• 2108
Nos próximos cem anos, há 50% de chance que grandes incidentes causem um enorme retrocesso à humanidade. Segundo Martin Rees, astrônomo da Royal Society e do King’s College da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, os maiores riscos aos seres humanos e ao planeta seriam terrorismo nuclear, vírus mortais de laboratórios e técnicas de engenharia genética que poderiam alterar o caráter do homem.
• Fim a 7,5 bilhões de anos
Apesar de distante, o fim do mundo já começou, segundo o astrofísico Donald Brownlee e o paleontólogo Peter Ward, ambos da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Eles compararam a duração da vida da Terra a um relógio: nosso Planeta está às 4h30, o que significa 4,5 bilhões de anos; às 5 horas, os reinos animal e vegetal chegarão ao fim. Após 12 bilhões de anos, a Terra será absorvida pelo Sol e não sobrará nada.
Por Felipe Gil