O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), anunciou que a sigla deixa de integrar a base aliada da presidente Dilma Rousseff no Congresso. A decisão se dá depois de uma devassa no Ministério dos Transportes –pasta comandada pela sigla desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Um membro do partido, Paulo Sérgio Passos, continua no comando do ministério, mas sem apoio expressivo dos correligionários.
As denúncias na pasta ligada ao PR causaram a demissão de quase 30 funcionários, incluindo quase toda a direção do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
“Estamos saindo sem nenhum rancor. O partido é maior do que cargos”, afirmou Portela. Segundo ele, a legenda dará “apoio crítico” à presidente e a entrega de cargos no governo é uma posição individual das bancadas dos Estados, ou seja, não há uma norma nacional.
Com a saída do PR da base, o governo federal deixa de contar com o voto certo de 42 deputados e seis senadores. No Senado, PR é a quarta maior bancada, empatado com o PTB: os dois têm seis senadores. A maior bancada é a do PMDB, com 20 parlamentares. Saindo de um bloco de partidos governistas na Câmara dos Deputados, o PR terá a sexta maior bancada da Casa, com 42 parlamentares. À frente estão PT (86),PMDB (80), o bloco PSB, PTB e PC do B (68) e os oposicionistas PSDB (53) e DEM (43).
O partido também tem cargos de segundo escalão e o comando dos Transportes, com Paulo Sérgio Passos –apesar de o mesmo ser considerado escolha pessoal de Dilma e não cota da legenda.
O ex-ministro dos Transportes e presidente do PR, Alfredo Nascimento (AM), já se manifestou e disse que, apesar da saída, a legenda não vai apoiar nenhuma CPI. “Não vamos apoiar CPI contra um governo que ajudamos a construir.”
Nascimento reforçou o discurso de Portela e disse que cabe a cada setor do partido dialogar sobre os cargos. “Ela [Dilma] pode governar com quem quiser”, afirmou.
Maioria no Congresso
Os governistas acreditam ter maioria confortável no Congresso ainda que o PR estivesse disposto a radicalizar e migrar para oposição. O otimismo se deve também à provável criação do PSD, uma legenda de apoio a Dilma que já encolhe as bancadas oposicionistas.
“A tendência é de que eles [PR] acabem negociando apoio pontualmente, em cada votação”, afirmou um dos aliados da presidente.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse respeitar a decisão do PR e que o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, “continua com a confiança da presidente Dilma para ocupar o cargo e fazer as mudanças necessárias”.
O PR se aliou ao PT em 2002, quando ainda se chamava PL e deu ao candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva o seu vice, José Alencar. A dupla foi reeleita em 2006, mas Alencar já integrava o PRB, depois de o escândalo do mensalão afetar líderes da legenda, como o deputado Valdemar da Costa Neto. Mesmo assim, o partido não deixou a base aliada do agora ex-presidente e se apressou para manter a pasta dos Transportes no governo Dilma –o que acabou conseguindo.
Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em Brasília