Patriotismo
Os anos de 2006 e início de 2007 foram um dos mais violentos já registrados no Iraque. Mesmo assim, Kristofer, que na época tinha apenas 18 anos, afirma que se alistou na Marinha por vontade própria, e que desde a infância ansiava por ser um fuzileiro naval no Iraque. “O que me levou à Corporação vai além da necessidade financeira e ultrapassa qualquer medo.
O patriotismo foi, sem dúvida, o grande estimulador de minha decisão.” O jovem conta que, desde seu avô, que lutou na Segunda Guerra Mundial, ninguém de sua família havia se alistado nas forças norte-americanas. “Pensei que alguém deveria defender minha família, e assim assumi essa responsabilidade”. A carreira militar nos EUA oferece a quem se alista uma série de atrativos nas empresas privadas, como auxílio moradia, tratamento médico, seguro de vida e um plano especial de aposentadoria, além de bolsas de estudos para a universidade.
Treinamento
Os momentos que antecederam a ida à guerra foram muito difíceis, segundo o fuzileiro. Ele lembra que, por um ano, foi submetido a treinamentos físicos e mentais que podiam durar um dia inteiro. Eles tinham que manter uma alimentação balanceada e o corpo em forma. “Já o treinamento psicológico era muito intenso, pois éramos obrigados a render sob pressão, em meio à fome, ao medo, ao frio”, assinalou.
A viagem
Depois de se alistar, Kristofer foi ao Estado de Maine, ponto de partida de vários oficiais com destino ao Iraque. De acordo com ele, este fora um dos momentos mais emocionantes de toda sua experiência. “É nessa hora que conhecemos de verdade nosso destino, nos despedimos dos amigos e familiares. De lá, embarcamos em um vôo comercial para a Alemanha e depois voamos direto para Bagdá. Chegamos à capital no meio da noite, no dia 29 de setembro de 2006, e seguimos para Fallujah.”
Apesar da intensidade do treinamento de todos os oficiais envolvidos no conflito, a realidade da guerra mudava completamente todo o cenário. Em seu primeiro dia na frente de batalha, Kristofer lembra que mal conseguia sentir suas pernas. Ele e seus companheiros foram transportados para a região de combate dentro de um furgão completamente fechado. Ele afirma que os dez minutos do trajeto foram os mais longos de toda a sua vida.
Kristofer, à esquerda de vermelho, com seus
pais e irmãos antes de deixar os EUA
“Não pude ver para onde estavam nos levando. Chegando a um dos postos, cada um dos fuzileiros e soldados seguiu com seu tanque para uma direção diferente, e naquele momento já me sentia mais calmo. A patrulha foi tranqüila”, revela.
Rotina
Todos os oficiais dormiam no que Kristofer chamou de “cans”, que na verdade não passam de traillers super equipados, com ar-condicionado, aquecimento central e acesso à internet. Ele assinala que todos recebiam um bom tratamento e as refeições eram tradicionais, com vegetais, frango, batatas e muitas frutas, além das chamadas Rações Prontas para Consumo (MRE). “Nos alimentávamos três vezes ao dia, e foi nos refeitórios de lá que experimentei a melhor comida desde que me mudei para a Carolina do Norte”. Por volta das 05h30min, o pelotão já estava acordado, havia uma checagem obrigatória de tanques e equipamentos, para que assim seguissem nas patrulhas regionais, que poderiam durar de 6 a 24 horas, “dependendo do que víssemos pela frente”, brinca o americano.
Perguntado sobre a relação entre as tropas e a população iraquiana, Kristofer faz uma pausa, e após alguns segundos, revela seu espanto em relação à sociedade. “Nunca vou esquecer de meu primeiro contato com iraquianos. Fiquei chocado com a situação em que se encontravam, casas em chamas, a falta de luz, lixo por todos os lados, um cheiro insuportável nas ruas”, disse o jovem.
Na visão do jovem, apesar de muitos iraquianos terem reações contrárias à invasão dos EUA, também existe um sentimento pró- norte-americano entre eles. “Acredite, estive ali, vi com meus próprios olhos a satisfação de muitos deles, que agora podiam circular livremente, sem as perseguições do regime de Saddam. Levamos comida, remédio, água de volta para suas casas. Lutei pelo o que acredito e cumpri meu dever.Sinto que eram boas pessoas, sofridas, com olhares apreensivos, em um estágio de desenvolvimento social muito inferior”, diz.
Ao recordar a morte de G.D, Kristofer, em tom emocionado, revela que perdeu a conta de quantas pessoas viu mutiladas pelas ruas de Fallujah: “Mulheres, civis, crianças, adultos, soldados…Fui dezenas de vezes alvo de tiros e explosões.” Perguntado se teve de matar alguém, o fuzileiro achou melhor não revelar: “prefiro não responder”.
Armas químicas
O grande argumento do governo Bush para dar início à ofensiva do país foi a suposta existência de armas químicas no país, o que nunca ficou comprovado, além do provável vínculo do regime de Saddam Hussein com as milícias da Al-Qaeda, que na última semana também foi desmentido pelo Pentágono. Ainda assim, na visão de Kristofer, a invasão norte-americana foi algo positivo. Ele entende que, mesmo sem as provas da existência do armamento, Saddam certamente possuía meios para produzi-lo. “Acho que isso já é um motivo suficiente. Além disso, o Iraque é enorme, há muitos lugares a serem ainda descobertos”. Ele acrescenta: “Honestamente, não acho que os Estados Unidos devam se preocupar tanto com sua imagem pelo mundo, já que vi no rosto de muitos cidadãos iraquianos a aprovação de nossa iniciativa no país”.
Eleições presidenciais
O jovem fuzileiro, que disse se interessar muito por noticiários e por política, aponta que o grande desafio do próximo presidente dos Estados Unidos está em o que fazer com todas as tropas presentes no Iraque. Arquivo pessoal/Kristofer S.
Kristofer durante patrulha em Fallujah, Iraque
“Parece-me que é hora de trazer alguns de volta para casa, mas vejo ainda uma necessidade extrema de manter outros combatentes na região”, defende, ao passo que revela que seu candidato para a Casa Branca é o senador republicano John McCain. “Ele é um herói da Guerra do Vietnã, um especialista em conflitos, e isso dá a ele mais capacidade para resolver todos os problemas que uma guerra desencadeia”.
U.Seg