Especialistas ouvidos pela Jovem Pan alertam que um conflito armado na disputa por Essequibo envolveria região toda, sendo o Brasil e os Estados Unidos os mais ‘afetados’
Em um continente que aparentava ser pacífico, dois episódios ganharam atenção do mundo nos últimos dias e geraram dúvidas e questionamentos referente ao que o acirramento das tensões entre Venezuela e Guiana, que lutam por Essequibo, e a invasão do Equador à embaixada do México em Quito, podem desencadear na América, mais precisamente, na América Latina. Até porque, a região era uma das únicas no mundo em que não se tinha conflito, principalmente o armado. Porém, apesar desta sensação de paz, os especialistas ouvidos pelo Portal da Jovem Pan, explicam que isso é ilusão e que essas tensões atuais podem afetar a estabilidade da região.
“A América Latina tem uma falsa sensação de tranquilidade, mas, na verdade, existe alguns conflitos territoriais e situações de instabilidades”, fala Ana Carolina Marson, professora de Relações Internacionais da Universidade São Judas. “Basta a gente olhar para a Venezuela de Maduro, que há muito tempo se firmou como um ponto de instabilidade no continente sul-africano. Quando a gente pensa na questão do Haiti, a República Dominicana fechou as fronteiras, então, sempre existiram pontos de instabilidade na região”, fala a especialista.
Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Unifesp, explica que esses problemas ocorrem porque por causa dos governos populistas e autoritários que existem por aqui. “Sempre falo que a América Latina é um palco de instabilidades políticas, e, em algum momento, isso pode ser um conflito, principalmente quando tangência assuntos e interesses internacionais”. Apesar das tensões ainda serem localizadas em suas regiões, elas não podem ser deixadas de lado. “A questão do México com o Equador foi um pouco surpresa, porque a invasão de uma embaixada é algo impensável, isso é violação de território de outro país”, diz Marson.
“O que o Equador fez, é algo preocupante, porque não foi uma ação promovida por grupos ou indivíduos não vinculados ao poder público, envolve diretamente dois governos”, acrescenta a professora, que também enfatiza que isso coloca o país em situação complica, porque surge o questionamento entre as nações de: “se ele fez com a embaixada de outro país, porque não pode fazer com o nosso”. Regiane Bressan concorda e fala que o Equador fez foi um atentado aos direitos internacionais. “O Equador assinou essas convenções e está na Constituição do país respeitar o direito internacional, então houve não só um desrespeito ao direito internacional, mas a própria Constituição do país”, fala a professora.
O Equador usa como explicação para se defender das críticas, o fato de que ex-vice-presidente Jorge Glas, a qual o México deu asilo, é um criminoso comum. Para Bresssan, entender esses pontos requer uma análise profunda porque se por um lado Jorge Glas teve a acusação de envolvimento em propinas da Odebrecht, por outro ele era vice-presidente de um governo. “É uma explicação muito complexa. Mas não dá o direito de invadir uma embaixada. O que o Equador deveria ter feito, era ter negociado com o México a devolução dessa pessoa para julgamento, o que não foi feito”, fala. Essas últimas ações, servem como uma alerta do que podemos esperar do governo de Daniel Noboa, presidente do Equador, que assumiu o cargo em novembro de 2023 após eleições antecipadas. “Ele vai gradativamente rompendo com as regras do jogo democrática para se perpetuar no pode ou para ter o Exército e as forças militares ao seu lado”, analisa Bressan.
Quando a gente pensa Venezuela e Guiana as coisas ficam um pouco mais delicadas, principalmente pelo Brasil, porque uma guerra entre os países teria que passar por solo brasileiro que faz fronteira com os dois envolvidos e os Estados Unidos não poderia simplesmente fechar os olhos para o que está acontecendo. “Eu diria que pela primeira vez em muito tempo a América Latina poderia estar diante de um conflito armado. Se realmente chegar as vias de fato, isso vai mexer com a estabilidade da região porque os EUA não ficarão de fora”, fala a professora Ana Carolina Morson. “Um evento aqui em acabaria mobilizando as Américas como um todo”, acrescenta.
Da redação do AltNotícias/JovemPan