O que o jornal Folha de São Paulo mostra na edição desta quarta-feira, quando aborda a necessidade real de um forte aperto fiscal ou aumento da carga tributária para o governo de Dilma Rousseff cumpra a meta fiscal em 2011, vem sendo alvo dos alertas emitidos pelo PPS ao longo dos últimos meses.
A partir de análise da proposta orçamentária em tramitação, o jornal constatou que “se a receita não crescer mais que a economia do país será necessário reduzir as despesas em mais de R$ 70 bilhões para atingir o prometido superávit primário”.
Durante reunião do Diretório Nacional do PPS, ocorrido no último fim-de-semana em Brasília, o presidente nacional da legenda, deputado federal eleito Roberto Freire (SP), havia dito que, além de problemas com austeridade fiscal o governo da petista deverá enfrentar situações nada fáceis com a subida da inflação.
“Não sei se teremos um governo de euforia, porque o processo inflacionário, se vier, não haverá propaganda que dê jeito”, observou Freire.
Gastança
Na opinião do líder do partido na Câmara, Fernando Coruja (SC), a “gastança” promovida por Lula ao longo de sua gestão é uma espécie de herança maldita que Dilma terá que enfrentar.
“O presidente atual gastou de forma desordenada e sem prioridades e, agora no final do governo, num viés claramente eleitoral. E estes gastos precisam ser cobertos porque há este rombo”, observou.
O líder do PPS afirma que o endividamento foi muito grande e que a equipe econômica terá que tomar cuidado para não estourar a “bolha” criada por Lula.
Ainda segundo a reportagem da Folha, desde o ano passado as receitas do governo federal estão praticamente estagnadas como proporção do PIB, enquanto as despesas se mantiveram em alta
Década da crise
Advogado e integrante do Diretório Nacional do PPS, Laércio Noronha (CE), em intervenção feita também durante encontro do partido, afirmou que o governo Lula não conseguiu reduzir gastos e alertou que o mundo deverá passar por um processo de ajuste fiscal em suas contas públicas. “O Estado terá que ser mais eficiente. Vamos passar por uma década de crise”, disse.
Armadilha
“Uma armadilha econômica vai cair no colo da presidente eleita Dilma Rousseff”. O alerta é do economista da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Eduardo Rocha. Segundo ele, o Brasil vive hoje um processo macroeconômico perverso, difícil de desarmar, e que já mostra seus efeitos.
O país, analisa Rocha, vive um processo de desnacionalização da economia que ganhou força com fusões e aquisições de empresas. Aliado a isso, está avançando no Brasil um cenário de desindustruialização. “E não só por falta de uma política para a área, mas também pelo problema cambial (que faz os produtos brasileiros perderem competitividade no mercado externo) que passa a atingir com força a nossa economia”, afirma.
Não bastasse isso, ainda há, na opinião do economista, uma financialização da economia que “solapa a capacidade de investimento do Estado”. Outro fator que merece atenção é a primarização de nossa pauta de exportações. “Esse é outro fenômeno regressivo preocupante”, alerta Rocha, explicando que ao concentrar suas exportações nas matérias primas, o Brasil atrasa ainda mais seu processo de desenvolvimento.
A estrutura tributária é outra área que vai gerar problemas para a economia brasileira em curto prazo. “Ela penaliza a produção e o trabalho. Com isso, nossos produtos perdem inserção no mercado internacional”, explica o economista, que salienta que esse setor ainda é atingido diretamente pela apreciação do real frente ao dólar. “Não é há toa que estamos registrando sucessivos déficits em conta corrente”.
O economista finaliza lembrando que Dilma ainda não mostrou intenção de promover uma mudança na economia. “Disse que vai manter a política de metas de inflação, superávit primário e juros altos. Desse jeito, o país não conseguirá sair dessa armadilha”.