Depois de quase seis meses de guerra no tucanato paulista, o ex-governador Geraldo Alckmin foi sacramentado como candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, com 89,9% dos votos da convenção do partido, realizada ontem. A indicação – com uma margem tão grande de votos – só foi possível após a intervenção do governador José Serra, que demoveu o grupo de vereadores e tucanos com cargos na prefeitura da idéia de levar à convenção o nome do prefeito Gilberto Kassab para disputar com Alckmin a preferência do partido. Com essa articulação, o governador teria saído mais fortalecido em sua caminhada rumo à campanha presidencial, em 2010.
Foi a pedido de Serra que o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira Filho, convocou os articuladores da chapa pró-Kassab na noite da véspera da convenção e orientou-os a desistir do embate. “A avaliação feita pelo secretário foi de que as conseqüências de uma disputa e até de uma eventual vitória nossa poderiam ser dramáticas para o PSDB e nossa estratégia futura”, disse o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, um dos líderes dos kassabistas.
Pouco antes, em reunião com os tucanos apoiadores da candidatura do prefeito, Feldman já tinha admitido que a decisão de entregar o posto de candidato do PSDB a Alckmin sem disputa atendia a um “objetivo maior”: a candidatura de Serra à Presidência em 2010.
Nos bastidores, alckmistas sempre apontaram o grupo pró-Kassab como um instrumento do governador. O recuo, agora, teria duas razões: não deixar Serra na posição de culpado no caso de uma eventual derrota de Alckmin no partido ou nas urnas; e ter uma dívida com Alckmin, a ser revertida em apoio à candidatura dele em 2010.
Alckmin, que está mais próximo do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, outro nome do PSDB para 2010, do que de Serra, declarou ontem seu apoio ao paulista, mesmo que de forma genérica: “Estive com ele em todas as campanhas e estarei nas futuras.”
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que chegou a temer que um racha em São Paulo tivesse repercussão nacional no partido, também atribuiu ao governador o desfecho pacífico da convenção. “Ele foi decisivo.”
Feldman foi enfático a esse respeito: “Não dá para negar que, indiretamente, o pensamento Serra interveio para dar as condições para que o governador Geraldo Alckmin pudesse manifestar o seu desejo de ser candidato a prefeito.”
Por essas avaliações, Serra recuou em São Paulo, mas avançou em direção a Brasília.
“POR SÃO PAULO”
Quando Serra chegou à convenção, na Assembléia Legislativa, Alckmin já o aguardava havia quase duas horas. Tranqüilo, o ex-governador brincou: “Minha única divergência com o Serra é o fuso horário.”
Ao discursar para os convencionais, o governador rebateu os comentários que sempre associam o processo eleitoral de São Paulo a 2010: “Há um mito com relação a 2010. Não é 2010 que está em jogo. O que está em jogo é a cidade. Temos que ganhar essa eleição não por 2010, mas por São Paulo.”
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não pôde comparecer à convenção, devido a problemas de saúde da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
RECORDE
Mais de 86% dos delegados do partido votaram na convenção tucana. Foi uma presença recorde, segundo o vice-presidente do PSDB municipal, deputado Júlio Semeghini. “Sempre tivemos, em média, 400 votos nas convenções”, disse. Foram 1.164 votantes de um total de 1.344 delegados.
Alckmin teve 1.037 votos (89,9%). Apenas 94 pessoas votaram contra o ex-governador. Foram 33 votos nulos e brancos. Até as 13 horas – prazo limite para os delegados titulares votarem – 1.100 votos haviam sido registrados. “Isso mostra que o Geraldo, se houvesse disputa, venceria por ampla maioria”, avaliou Semeghini.