O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse nesta quinta-feira que o mundo deve impor “conseqüências” ao desafio lançado pelo Irã à comunidade internacional por desenvolver um programa nuclear que, segundo ele, tem como objetivo obter armas nucleares.
Em um relatório vazado para a imprensa nesta quinta-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informa que o Irã continua a enriquecer urânio mesmo com o término de um prazo dado pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU para que o país cancele essa atividade.
A informação abre caminho para que o órgão aplique sanções contra Teerã, mas qualquer ação do CS deve demorar no mínimo algumas semanas para ser adotada. O assunto deverá permanecer gerando polêmica entre países ocidentais e orientais no Conselho – com interesses econômicos e políticos no país, Rússia e China tradicionalmente se opõe a adoção de medidas duras contra o regime dos aiatolás. Isso porque, segundo o jornal Financial Times, embora o relatório da AIEA confirme a falta de cooperação de Teerã, o país tem feito apenas pequenos avanços nas pesquisas para o enriquecimento de urânio.
Ainda assim, o presidente americano parece empenhado em construir um consenso contra o Irã, com o objetivo de agilizar a adoção de medidas contra o que classifica como provocações de Teerã. “Deve haver conseqüências ao desacato iraniano”, disse Bush, em discurso em Salt Lake City. “Não podemos permitir que desenvolvam armas nucleares.”
“O mundo enfrenta agora uma grave ameaça por parte do regime radical do Irã”, continuou. “Sabemos o valor do sofrimento causado pelo apoio do Irã ao terrorismo, e podemos imaginar o quanto seria pior se fosse permitido ao país adquirir armas nucleares”, acrescentou.
Segundo uma fonte da ONU ouvida pela Associated Press, no entanto, antes que as sanções sejam tomadas, diplomatas de países europeus devem se encontrar com representantes iranianos em setembro em um último esforço para resolver a crise pela via negociada.
Assim, o conselho deve esperar os resultados da reunião – que contará com representantes da Grã-Bretanha, França e Alemanha, além do negociador nuclear iraniano, Ali Larinjani – antes de começar as deliberações sobre as sanções.
Relatório controverso
“O Irã não suspendeu suas atividades de enriquecimento”, diz o relatório da AEIA. Ainda segundo o texto, “a falta de cooperação de Teerã” durante os três anos de investigações conduzidos por técnicos da agência no país impedem a confirmação “da natureza pacífica (de seu) programa nuclear”. Embora as principais potências ocidentais acusem o Irã de perseguir armamentos nucleares, o país garante que suas atividades têm por objetivo permitir a produção de energia.
Vazado para a imprensa, o relatório restrito da AEIA não especifica se Teerã continuava a enriquecer urânio nesta quinta-feira, último dia de um prazo dado pelo Conselho de Segurança para o cancelamento da atividade.
Mas, segundo diplomatas próximos à agência, as centrífugas estavam funcionando até a noite de terça.
Embora as descobertas sobre o enriquecimento fossem esperadas, elas são importante porque abrem caminho para a ação do Conselho de Segurança. Com o relatório da AIEA em mãos, o órgão poderá, ao menos na teoria, iniciar a considerar que medidas tomar contra o Irã.